Eleitor em uma seção eleitoral para votar de maneira antecipada nas eleições americanas, em Arlington (Virgínia), nos Estados Unidos, em 20 de setembro de 2024
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Eleitor em uma seção eleitoral para votar de maneira antecipada nas eleições americanas, em Arlington (Virgínia), nos Estados Unidos, em 20 de setembro de 2024


As eleições presidenciais no Brasil parecem simples: o candidato que tem mais votos da população, ganha. Um único voto pode definir a vitória de uma ou outra pessoa. Nos Estados Unidos, é completamente diferente:  os votos para presidente são do Colégio Eleitoral, e este tem um número diferente de representantes para cada estado.

Por isso, no passado, houve situações que nunca ocorreriam no Brasil. Por exemplo, quando Donald Trump venceu Hillary Clinton na corrida eleitoral de 2016, o ex-presidente teve cerca de 3 milhões de votos a menos do que a rival. Em 2000, George W. Bush teve meio milhão de votos a menos que Al Gore, mas venceu.

Isso porque o voto individual, na última etapa, não conta - e sim o voto do Colégio Eleitoral (composto por deputados). Estados mais populosos têm mais colegiados - são 538 cadeiras ao todo. E, na maioria dos estados, o colegiado do estado vota em massa em um presidente; isso significa que, na hora de votar, cada estado é um “tudo ou nada” e conta muito.

Isso torna as regiões das eleições dos EUA muito importantes. Quando um candidato consegue “conquistar” um estado, ele conquista um bloco de votos do colegiado - e o volume individual não importa tanto nessa fase.

Então, a população não vota no presidente nos EUA?

Embora a população dos EUA não tenha voto direto no presidente, as pessoas votam, sim. Mas a votação é dividida em etapas: na primeira, há um envolvimento mais direto, pois o povo escolhe qual nome concorrerá por cada partido. Depois, na eleição marcada para 5 de novembro, a população vota no presidente - neste ano, em Donald Trump ou em Kamala Harris. Por fim, com base na maioria dos votos da população, o voto é dos delegados de cada partido que compõe o Colégio Eleitoral.

Como funciona o Colégio Eleitoral nos EUA?

O Colégio Eleitoral nos EUA tem 538 delegados, sendo um para cada membro da Câmara dos Deputados (435) e do Senado (100), e mais 3 no Distrito de Colúmbia. Um presidente precisa do voto de 270 candidatos para ser eleito.

Esses delegados são divididos pelos estados. Quanto maior a população e quanto mais parlamentares o estado tiver na Câmara dos Representantes e no Senado, mais delegados ele terá.

Então, os partidos vão poder indicar uma lista de candidatos a delegados para cada estado. A população, então, escolhe e vota nesses delegados.

Claro que, na hora de votar, o povo tem em mente qual partido indicou esse candidato - porque, no geral, assume-se que ele votará no presidente daquele partido quando chegar a hora.

A votação da população, então, decide qual partido terá mais delegados no estado - e a maioria tem grande probabilidade de ganhar ali.

Tudo ou nada: winner takes it all

Temos, então, esse cenário: um partido deu uma lista de delegados para a população. Esses delegados, divididos por estados, deverão votar para o presidente. Porém, eles são escolhidos por voto direto da população, que aposta neles para garantir o voto para a presidência quando chegar a hora. Então, embora a população não vote diretamente no presidente, ela quem escolhe a quantidade de pessoas que ficará do lado dele nas eleições.

É aqui que entra a grande necessidade de levar a sério a região nos EUA: dos 50 estados do país, 48 usam o sistema de votação de delegados “winner takes it all” - ou “tudo ou nada”, em tradução livre.

Cada estado tem seu grupo de delegados, e esse grupo costuma escolher e apoiar apenas um candidato (normalmente, o que tem maioria de apoio naquela bancada). Isso significa que, mesmo sendo eleito, digamos, pelos Republicanos, um delegado votará nos Democratas se a maioria dos colegas de estado assim quiser.

Vale dizer que este é um acordo de cavalheiros e nada na constituição exige que os delegados sigam a maioria ou não escolham qual presidente votar. Mas é convencional que aconteça assim, porque se entende que é desleal, para o delegado, não obedecer a vontade da maioria da população.

Importância da região

Se cada estado dá apoio total a um candidato, fica claro a importância do candidato à presidência conquistar cada um deles. É, literalmente, um tudo ou nada.

Alguns estados são mais disputados e têm um peso maior nas eleições por terem mais delegados (o número de delegados varia de acordo com a população e representação de deputados). Outros têm poucos delegados e peso muito menor no resultado.

A principal fatia do Colégio Eleitoral é da Califórnia. O estado mais populoso tem 55 delegados no total (dado de 2020). Tendo em vista que um candidato precisa de 270 votos de delegados para ser eleito, somente a Califórnia se garante quase 20% dos votos necessários para eleição.

Na sequência, os estados com mais delegados são o Texas (38), Flórida e Nova York (39 cada). Então, esses quatro estados somados representam cerca de 60% dos votos necessários para eleição - e ainda “sobram” 44 estados para angariar.

“Swing States”, os estados de balança

Alguns estados são mais estáveis no apoio - assim como acontece no Brasil, que o sul costuma ser mais de direita e o nordeste mais de esquerda. Nos EUA, Califórnia costuma ser dos Democratas (esquerda), enquanto o Texas garante os Republicanos (direita).

Outros lugares nos EUA, no entanto, mudam de posicionamento de tempos em tempos: esses são os swing states, ou estados de balança. Arrecadar esses estados, mesmo os que têm Colégio Eleitoral pequeno, é bastante importante na corrida presidencial dos Estados Unidos.

O swing state mais relevante é a Flórida, que tem o segundo maior Colégio Eleitoral nos EUA. Outros bastante disputados são Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Arizona e Carolina do Norte. Nesses locais, normalmente, é impossível prever o resultado.

Os votos costumam ser, inclusive, bastante acirrados. Por isso, é importante que o presidente a ser eleito e o partido tenham grande participação ativa nesses estados e consigam virar votos para delegados que, por vezes, podem ser competidos acirradamente.

Outras informações importantes são os estados com menor Colégio Eleitoral (três deputados): Vermont, Alasca, Wyoming e Delaware. Apenas dois estados não usam “winner takes it all”: Nebraska (cinco delegados) e Maine (quatro).

Data da eleição e posse

  • Até 5 de março de 2024: Eleições primárias; eleitores votaram em que político disputará para cada partido (lembrando que este ano Biden foi escolhido mas, depois de desempenho ruim em debate, eleitores pediram substituição por Kamala);
  • 5 de novembro de 2024: Eleitores votam nos candidatos de preferência;
  • Novembro e Dezembro: Votação dos Colégios Eleitorais em presidentes; estados não anunciam juntos, e presidente é definido quando se atinge número mínimo (270) de delegados; na última eleição, resultado foi anunciado 10 dias depois;
  • Dezembro ou janeiro: conferência de votos de Colégio Eleitoral (em 2020, aconteceu em 6 de janeiro de 2021);
  • 20 de janeiro de 2025: posse do novo presidente dos EUA.

** Jornalista pelo Mackenzie e cientista social pela USP, trabalha com redação virtual desde 2015 e teve passagem em grandes redações do Brasil. Curte cultura, política e sociologia.

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