Jesse Owens, atletista norte-americano, foi destaque e exemplo de resistência nas Olimpíadas de Berlim (1936)
Bundesarchiv/Domínio Público
Jesse Owens, atletista norte-americano, foi destaque e exemplo de resistência nas Olimpíadas de Berlim (1936)

Com o início das Olimpíadas de Paris  no último 26 de julho, surgem debates políticos e sociais que alcaçam relevância para além do campo esportivo. 

Neste ano, o evento é marcado pela inclusão da delegação palestina e pela exclusão da Rússia, uma sanção que persiste desde 2019 devido à falsificação de dados de testes antidoping, e que se manteve a partir de 2022 em resposta à guerra na Ucrânia.

A interseção entre a geopolítica e questões sociais com grandes eventos esportivos não é novidade. Assim como com a Copa do Mundo, os Jogos Olímpicos frequentemente se tornam palco de debates e tensões que refletem as complexidades que os mais diversos países enfrentam na atualidade.

A seguir, confira uma linha do tempo que destaca como causas políticas influenciaram as Olimpíadas ao longo dos anos:

Atenas (1896)

As Olimpíadas modernas se instalam em Atenas, em 1896, por influência do nobre francês Pierre de Coubertin, que constitui o Comitê Olímpico Internacional em 1894. Desde o início, os jogos foram pensados com um componente político: “O objetivo do movimento olímpico é colocar o esporte a serviço do desenvolvimento harmonioso da humanidade, visando a promover uma sociedade pacífica, empenhada em preservar a dignidade humana”.

1916

Em 1916, não ocorrem Olimpíadas. Os jogos estavam marcados para Berlim, mas a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) interrompeu os planos. A guerra causou a morte de milhões, com a Alemanha e o Império Austro-Húngaro derrotados pela França, Reino Unido, Rússia e Estados Unidos. Embora cancelada, a Olimpíada de 1916 segue registrada na história.

Antuérpia (1920)

Em 1920, ocorrem os primeiros Jogos Olímpicos pós-Primeira Guerra Mundial na Bélgica. O país, que foi neutro, homenageia seus cidadãos que morreram durante a ocupação de seu território. A Alemanha, Áustria, Bulgária, Hungria e Turquia, derrotados na guerra, foram excluídos dos jogos.

Berlim (1936)

Vinte anos após o cancelamento da Olimpíada de 1916, Berlim sedia os jogos, marcados pela propaganda nazista de Adolf Hitler, que buscava promover a “superioridade racial ariana”. O evento, no entanto, é lembrado pelo desempenho de Jesse Owens, atleta negro dos Estados Unidos, que conquistou quatro medalhas de ouro no atletismo.


1940 e 1944

De maneira semelhante à postura diante do conflito anterior, os Jogos Olímpicos de 1940 e 1944 não ocorrem, devido à Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Os Aliados — União Soviética, Reino Unido França e Estados Unidos — enfrentavam a Alemanha, Itália e Japão. Embora o conflito tenha atingido, de forma ou outra, todos os continentes, a Europa foi o principal palco.

Londres (1948)

Nos primeiros jogos olímpicos do pós-guerra, realizados em Londres, a Alemanha e o Japão são vetados. Países comunistas como Hungria, Tchecoslováquia, Polônia e Iugoslávia participam e conquistam medalhas, mas a União Soviética ainda não marca a sua presença.

Helsinque (1952)

Nas Olimpíadas de Helsinque, a União Soviética participa pela primeira vez desde a Revolução Russa de 1917. O país já demonstrava sua ambição, ficando em segundo no quadro de medalhas, atrás apenas dos Estados Unidos, seu oponente de Guerra Fria (1947-1991).

Melbourne (1956)

Melbourne sedia os primeiros jogos ocorridos no Hemisfério sul, marcados pelo boicote do Egito, Iraque e Líbano, devido ao conflito entre Israel e o mundo árabe. Em protesto contra a repressão soviética à Revolução Húngara de 1956, a Holanda e a Espanha não participam, mas a URSS segue, e vence os Estados Unidos no total de medalhas. A China se ausenta em resposta ao reconhecimento de Taiwan pelo Comitê Olímpico.

Tóquio (1964)

Tóquio sedia as primeiras Olimpíadas na Ásia. O Comitê Olímpico bane a África do Sul devido ao apartheid, baseado nos princípios olímpicos de não discriminação por raça, religião, política, sexo ou outras razões.

Cidade do México (1968)

Em meio à luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, vizinhos do México, os medalhistas norte-americanos Tommie Smith e John Carlos fazem a saudação dos Panteras Negras, uma organização urbana socialista revolucionária. Os Jogos ocorrem meses após o assassinato de Martin Luther King. Por decisão do comitê, os dois atletas são banidos do esporte.

Munique (1972)

Durante os Jogos de Munique, o grupo palestino Setembro Negro ataca a delegação de Israel, resultando na morte de 11 atletas israelenses, cinco terroristas, um policial e um piloto. Apesar de uma suspensão de 34 horas, os jogos acabam sendo retomados.

Moscou (1980)

Os Estados Unidos lideram um boicote às Olimpíadas de Moscou em protesto contra a invasão soviética do Afeganistão, um ano antes, em 1979. Parceiros dos norte-americanos, como Japão, Alemanha Ocidental e Canadá seguem o boicote, e, ao fim, apenas 80 países participam da competição.

Los Angeles (1984)

Em retaliação, a URSS boicota os Jogos de Los Angeles. Apesar disso, 140 países participam, incluindo a China, que havia parado de participar anteriormente, devido à presença de Taiwan.

Barcelona (1992)

Em meio aos primeiros jogos após a queda da União Soviética, 12 das 15 ex-repúblicas soviéticas competem como Comunidade dos Estados Independentes (CEI), e, na chegada dos atletas ao pódio, eram alçadas as bandeiras dos novos países. A África do Sul volta a competir após o fim do apartheid.

Paris (2024)

Os Jogos Olímpicos de 2024 em Paris são marcados pela inclusão da delegação palestina e a exclusão contínua da Rússia, agora acompanhada pela Belarus devido à atuação na guerra na Ucrânia. Quinze atletas russos são autorizados a participar sob bandeira e uniforme neutros e um hino específico para a ocasião.

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