Balão de espionagem chinês foi encontrado em área militar dos Estados Unidos
Reprodução: Redes Sociais
Balão de espionagem chinês foi encontrado em área militar dos Estados Unidos

A relação entre Estados Unidos e China, que já não era das melhores, pode piorar nas próximas semanas após os norte-americanos terem acusado os chineses de espionagem. Um balão chinês foi encontrado sobrevoando uma área militar sensível para o governo americano. 

O caso provocou uma reação do governo de Joe Biden, que cancelou a viagem do secretário de Estado do país, Antony Blinken, a Pequim . O governo chinês questiona as ações dos americanos, que abateram um dos balões investigados.

Especialistas ouvidos pela reportagem acreditam que a ação chinesa pode prejudicar um estreitamento das relações entre os dois países. Embora seja uma tentativa velada, Biden estudava formas de estreitar relações com a China após a viagem da ex-presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, a Taiwan, que vive em guerra com os chineses.

Na época, o governo de Xi Jinping entendeu a visita como ajuda dos Estados Unidos ao seu adversário e passou a sinalizar um apoio à Rússia, principal ‘inimigo’ dos americanos, na Guerra da Ucrânia.

“São dois países de pretensões hegemônicas. Ambos tentarão apresentar seus lados, mas acredito que essa suspeita dos americanos pode estremecer ainda mais a relação entre eles”, afirma Leandro Consentino, professor de Relações Internacionais do Insper.

“Penso ser muito mais grave um satélite em órbita do que um balão. O problema é que chegamos a nível de atrito entre os dois países que qualquer instrumento não muito usual acaba incomodando muito”, completa José Niemayer, coordenador de Relações Internacionais do Ibmec-RJ.

Enquanto os americanos acusam os chineses de espionagem, o governo de Xi Jinping tenta classificar a Casa Branca como mentirosa. A China negou tentativa de espionagem e disse que o balão é meteorológico.

Ainda segundo os chineses, os veículos mudaram sua rota e por isso invadiu o espaço aéreo dos Estados Unidos. Porém, o governo asiático não avisou as autoridades norte-americanas. Um dos balões foi encontrado sobrevoando uma área militar norte-americana, onde há um forte arsenal bélico.

Não bastasse a polêmica acusação, o mundo poderá sofrer com retrocesso de 34 anos. Se confirmada as tentativas de espionagem da China, os Estados Unidos poderão responder à altura, provocando a retomada da Guerra Fria.

“Os Estados Unidos tratam os argumentos da China como fracos. Os americanos chegaram a abater um dos balões e deve começar as investigações. Se confirmado, podemos ter uma espécie de Guerra Fria, guardadas suas devidas proporções”, explica Consentino.

“Enquanto os americanos poderão ajudar Taiwan a manter a independência em relação à China, Xi Jinping poderá aumentar seu apoio aos russo contra a Otan. Outra opção do Exército chinês é entrar de vez na Guerra da Ucrânia junto a tropa de [Vladimir] Putin. Os dois vão guerrear, mas sem se enfrentarem diretamente”, completa.

Para Niemayer, a ideia ainda é distante, mas não pode ser descartada por completo. Segundo o especialista, as disputadas estão longe de ser ideológicas, mas sim pela busca do poder.  

“Eu tenho impressão de que a gente não possa considerar uma nova guerra fria, porque temos mais de dois pontos de poder buscando seu poderio”, afirma.

“Temos Estados Unidos, China, Rússia e países Europeus, que estão observando de longe. A questão não é tanto ideológica, a questão é mais por posição de potência”, diz o professor.

Impacto para o mundo

Embora muito distante, a possibilidade da retomada da Guerra Fria não deve causar apenas impactos aos norte-americanos e chineses, mas poderá provocar um desequilíbrio em escala mundial. Diversos países dependem comercialmente e financeiramente dos dois países e, claro, ambos cobrarão apoios de outras nações.

“Claro que qualquer relação entre EUA e China impacta o mundo de forma geral. Isso vai impactar em investimentos de outros países nos chineses e americanos, impacta na dívida dos países e, principalmente, na macroeconomia mundial”, explica Niemayer.

Para o Brasil, o impacto deve ser ainda maior. O governo brasileiro tem relações estreitas com os dois países.

Enquanto os Estados Unidos são um forte aliado político, a China é a principal parceira comercial do Brasil. Os especialistas alertam que a maior dificuldade para o Palácio do Planalto será equilibrar a disputa entre as duas potências.

“O Brasil pode ser afetado a medida que terá que equilibrar seus interesses com as duas potências. OS EUA eram o principal parceiro internacional, depois passou a ser a China. O Brasil não pode prescindir na relação entre os dois parceiros. O grande desafio é se equilibrar entre os dois laços”, afirma Leandro Consentino.

Nesta semana, Lula irá aos Estados Unidos para se reunir com o presidente Joe Biden. No encontro, ambos devem discutir as suspeitas de espionagem chinesa em território americano, além de outros assuntos de interesse entre os dois países.

O presidente brasileiro ainda tem uma visita agendada ao presidente chinês, Xi Jinping, em março. Além do sobrevoo dos balões nos EUA, Lula deverá cobrar ações da China para pôr fim a guerra entre Rússia e Ucrânia.

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