Alemanha anunciou o envio de 14 tanques do modelo Leopard 2 para a Ucrânia
Divulgação/Forças Armadas da Alemanha
Alemanha anunciou o envio de 14 tanques do modelo Leopard 2 para a Ucrânia

Os governos dos Estados Unidos e Alemanha anunciaram nesta quarta-feira (25) que vão ceder 45 tanques americanos e alemães para ajudar a Ucrânia no combate contra os russos. Ao todo, os EUA devem entregar 31 tanques M1 Abrams, enquanto os alemães vão entregar 14 Leopard-2.

Essa é considerada a primeira ação efetiva de países ocidentais na guerra entre os dois países. Anteriormente, Estados Unidos e a União Europeia enviaram dinheiro, munições e veículos leves, enquanto os ucranianos pilotavam tanques da antiga União Soviética que estavam em países europeus.

A ajuda com os tanques só foi possível após uma forte pressão feita pelo primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, às autoridades europeias e americanas. Internamente, Scholz vê a entrega do material como forma de conter a ofensiva da Rússia no país vizinho.

Especialistas, porém, acreditam que a ação dos países ocidentais foi precipitada.

“É uma novidade. Uma coisa é você auxiliar com recursos e ajuda logística, outra, é entregar tanques de guerra. Principalmente a Alemanha, que nos últimos anos tem procurado investir em armamento. Na hora que esse tipo de material é disponibilizado para a Ucrânia, é uma grave ação por parte da Otan. É uma briga de gato e rato”, afirma José Niemayer, coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec-RJ.

“A Alemanha não queria ficar isolada no fornecimento de armamentos para a Ucrânia contra as tropas russas. Essa é a primeira vez que o ocidente manda esse tipo de material para a Ucrânia”, completa Alexandre Pires, professor de Relações Internacionais do Ibmec-SP.

A colaboração americana e alemã mostra a potência de negociação que Volodymir Zelensky possui com países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Outro fator que chama a atenção é a pressão de Scholz sobre países ocidentais.

“Quando temos essa situação específica, sinaliza o sucesso do pleito de Olaf Scholz, que vinha clamando uma aliança militar euro-atlântica. Ele fez uma pressão forte sobre os EUA e só aceitou enviar tanques se Joe Biden colocasse materiais na Ucrânia”, afirma Pires.

“O que me chama a atenção é todos estão assumindo riscos em conjunto, ao mesmo tempo e de modo coordenado”, ressalta.

Além das ajudas dos EUA e Alemanha, a Ucrânia ainda deve receber 14 tanques Leopard-2 da Polônia. Espanha, Noruega e Finlândia já afirmaram que também devem enviar matérias ao exército ucraniano.

O presidente russo, Vladimir Putin, ainda não se pronunciou sobre a ajuda dos países ocidentais à Ucrânia. Para Niemayer, o presidente dos EUA, Joe Biden, e o primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, estão fazendo testes para ver o caminho que Putin pode tomar.

“Eu tenho a impressão de que o Biden e os líderes europeus estão achando que o Putin não está pagando para ver. Nesse caso, seria o uso de armas nucleares. Eles estão percebendo que a Rússia está perdendo energia, a Ucrânia é muito grande para tomar como propriedade. Biden e a Europa estão pagando para ver quais serão os próximos passos do Putin”, afirma.

Já Alexandre Pires acredita que a ação de norte-americanos e alemães pode ser interpretada pelos russos como uma interferência na guerra. Ele ressaltou que Putin já fez ameaças aos países que colaborarem com o exército ucraniano.

“Os porta-vozes do Putin já falaram que a Alemanha está se colocando em risco de entrar diretamente no conflito e há uma certa ameaça velada de que essa ajuda faça a guerra perdurar, provocando uma escalada de violência. Também uma ameaça de uso de armas mais pesadas, como armas nucleares táticas, com menor poder destrutivo”, disse.

Próximos passos da Guerra

Informações de agências internacionais dão conta de que a Ucrânia ganhou força no combate aos russos nas últimas semanas. Desde o início da guerra, o exército de Zelensky conseguiu recuperar regiões importantes, como Kiev e Chernobil.

Niemayer explica que a decisão de Alemanha e EUA é muito arriscada e, talvez, o enfraquecimento da Rússia nos últimos meses possa ter sido o estopim para a interferência direta na guerra.

“O Putin não deu resposta sobre ajudas financeiras, como seria uma resposta com ajuda de tanques? É uma situação que ganha em gravidade. Outro ponto: é preciso ver se a Rússia está perdendo força mesmo. Se estiverem, EUA e Alemanha só tomaram essa decisão após ter certeza do enfraquecimento de Putin”, afirma.

Entretanto, há áreas em que os ucranianos encontram mais dificuldades em recuperar. Além da Criméia, já totalmente tomada pela Rússia, as regiões mais ao leste do país, como Donetsk, estão sob poder russo.

Nesta quarta, os ucranianos admitiram a derrota para o exército de Vladimir Putin pela cidade de Soledar, uma das mais importantes na região leste da Ucrânia.

A guerra, que antes era aérea e naval, está mais focada agora na ofensiva terrestre. Na visão de especialistas, as ações norte-americana e europeia não põe fim nos conflitos, mas pode colaborar para o avanço dos ucranianos sobre os russos.

“Existem muitas zonas de impasse. A chegada desses tanques pode colocar os ucranianos novamente em uma ofensiva”, explica Alexandre Pires.

“Não pode pôr fim na guerra, mas um caminho que, se for bem-sucedido, talvez, [a Ucrânia] consiga com que os russos aceitem um cessar-fogo”, completa.

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