China faz exercícios militares na véspera de viagem de Pelosi a Taiwan
Reprodução - 01.08.2022
China faz exercícios militares na véspera de viagem de Pelosi a Taiwan

A China decidiu prosseguir com os exercícios militares em torno de Taiwan que estavam previstos para terminar no domingo, aumentando os temores de que o período de tensões agudas na região se prolongue ainda mais.

A decisão desafia os pedidos ocidentais para que os chineses encerrem as maiores manobras de guerra ao redor da ilha autogovernada, mas que Pequim considera parte integral do seu território.

Anunciada em repúdio à viagem da presidente da Câmara americana, Nancy Pelosi, a Taipé na semana passada, a operação que começou na quinta em seis zonas ao redor da ilha estava prevista para terminar ao meio-dia de domingo (23h de sábado no Brasil).

A visita de 19 horas, a primeira de um integrante do alto escalão americano à Taiwan desde 1997, foi considerada por Pequim uma violação da sua soberania e um estímulo à independência do território.

Em um comunicado, no entanto, o Comando Leste do Exército da Libertação do Povo disse que iria "continuar o treinamento conjunto sob condições reais de guerra, focando em organizar operações conjuntas de ataque subaquáticos e navais" após cinco dias consecutivos de operações.

O tom da nota parece indicar que os exercícios com munições reais chegaram ao fim e a China não emitiu novos alertas de navegação, mas não há confirmação oficial.

A locação exata das manobras mais recentes também é desconhecida, mas, segundo o jornal estatal Global Times, a visita de Pelosi mudou "para sempre o status quo" e as manobras se tornaram mais frequentes pois são "um ensaio das operações de reunificação". Afirmação similar foi feita por um dos principais analistas militares da televisão oficial, afirmando que os exercícios se tornarão "habituais".

A reunificação da ilha que tem hoje 23 milhões de habitantes ao continente é uma meta do Partido Comunista da China desde que os nacionalistas fugiram para Taiwan ao serem derrotados na guerra civil chinesa, em 1949.

O governo taiwanês criticou a decisão, acusando Pequim de criar uma crise deliberadamente e demandando que os militares chineses recuem.

Sabe-se, contudo, que Taipé já havia aliviado as restrições para o sobrevoo de aeronaves em seis áreas de exercícios anteriores e que os alertas de navegação para sete áreas ao redor da ilha expiraram nas primeiras horas desta segunda.

"Diante da intimidação militar criada pela China, Taiwan não vai se amedrontar ou recuar, e vai defender mais firmemente sua soberania, segurança nacional, e estilo de vida livre e democrático", disse a Chancelaria taiwanesa em nota. "A provocação e agressão da China danificaram o status quo no Estreito de Taiwan e aumentaram as tensões na zona."

Em um comunicado no domingo, os taiwaneses disseram que os chineses simularam com 14 navios, ao menos 66 aviões e drones "um ataque contra Taiwan e contra o Exército no mar", enquanto caças "infestaram" ilhas menores. Ao menos 22 aeronaves penetraram no espaço aéreo da ilha.

Para "responder adequadamente" e "vigiar a situação de perto", as Forças Armadas de Taipé afirmaram terem enviado seus próprios barcos e aviões.

Além das atividades militares, Pequim suspendeu a cooperação com os EUA em vários temas cruciais, incluindo a luta contra a mudança climática e questões de segurança. O governo do presidente Xi Jinping também anunciou que as manobras com munição real no Mar Amarelo, localizado entre o continente e a Península Coreana, que começaram dia 6, vão até o dia 15 de agosto.

As operações, segundo a Marinha chinesa, ocorrerão nas águas da Baía de Haizhou, e navios ficarão proibidos de entrar em cinco zonas da região durante o período por motivos de segurança. Esta, contudo, é uma operação rotineira na área.

Haverá também manobras no Mar de Bohai, no Norte, por um mês a partir desta segunda, e há alertas para que navios evitem navegar na área durante os horários especificados, com tráfego livre apenas para embarcações militares. Testes, contudo, também foram realizados no local nesta mesma época em 2021.

Diante do incremento da atividade militar chinesa nos últimos dias, o Exército taiwanês anunciou que fará dois testes com munição real na próxima semana, segundo o jornal South China Morning Post.

A ilha de Taiwan é separada do separada do território continental chinês por um estreito vital para a navegação comercial, que em sua largura máxima tem 180 quilômetros de extensão e, na mínima, 130 quilômetros.

Hoje, apenas 14 países têm relações diplomáticas formais com a ilha. Os Estados Unidos reconheceram o princípio de "uma só China" ao reatar com Pequim em 1979, mas mantêm o que chamam de "ambiguidade estratégica", fornecendo armas a Taiwan.

Nos últimos anos, a ascensão econômica chinesa e a piora nas relações entre Pequim e Washington geraram acusações na China de que os EUA viriam estimulando uma mudança do status quo em Taiwan, ou seja, uma declaração de independência. Foi a justificava utilizada pela Chancelaria chinesa nesta segunda, chamando a reação do país de "legítima, racional e legal".

O porta-voz Wang Wenbin não confirmou diretamente a realização dos exercícios militares, mas disse que a resposta é uma "advertência a quem quer provocar problemas, assim como os partidários da independência de Taiwan".

Ele instou ainda os americanos a "fazerem um exame de consciência e retificar seu erro o quanto antes (...) e pararem de usar Taiwan como uma carta para bloquear [o desenvolvimento] da China.

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