Ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi
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Ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi


A queda do do primeiro-ministro italiano Mario Draghi, abalado pela perda de apoio no Parlamento em um momento difícil para o país, está sendo vista pela direita e pela extrema direita como a melhor chance em muitos anos para formar um governo, com a possibilidade de controlar as duas Casas do Parlamento.

Recentemente, o Força Itália, liderado pelo ex-premier Silvio Berlusconi, tem deixado de lado algumas das convicções históricas da sigla da "direita tradicional" e se aproximou da extrema direita populista, na figura do ex-vice-premier Matteo Salvini, da Liga.

Segundo analistas políticos italianos, existe a possibilidade das duas siglas concorrerem juntas nas eleições de setembro, conseguindo, além do comando do governo, conter as próprias sangrias políticas a Liga vem perdendo força nos últimos anos, e muitos eleitores do Força Itália devem migrar para outras siglas mais ao centro diante da guinada populista do partido de Berlusconi.

A união entre Força Itália e Liga também é uma tentativa de conter aquela que é vista como a maior ameaça aos planos de poder das duas siglas: a deputada e líder do Irmãos da Itália (ultradireita), Giorgia Meloni, favorita em todas as pesquisas. Caso os números se confirmem, a admiradora do ditador fascista Benito Mussolini, seria a primeira mulher a chefiar o governo italiano, frustrando a ideia de colocar Salvini como premier.

Seu partido foi o único a não participar de coalizões passadas, o que lhe deu força entre os eleitores descontentes com os atuais rumos do país, que enfrenta a maior inflação em quase quatro décadas, uma seca devastadora e a ameaça do corte no fornecimento de gás russo.

"Tivemos três governos diferentes, três maiorias diferentes, mas não funcionaram. Porque os únicos governos que funcionam são aqueles que têm a maioria com uma visão compartilhada", declarou Meloni ao comemorar a renúncia de Draghi, na quinta-feira.

Segundo analistas, o Irmãos da Itália deve, mesmo que não termine na frente da votação, participar de uma coalizão com o Força Itália e a Liga: as pesquisas apontam que as três siglas podem, juntas, somar até 48% das intenções de voto.

Janela de oportunidade

A queda de Draghi começou a ser desenhada depois da decisão do antissistema Movimento Cinco Estrelas de se abster na votação de um pacote de ajuda para famílias e empresas, alegando que ele era insuficiente. O então premier chegou a apresentar sua renúncia, mas o pedido foi negado pelo presidente Sergio Mattarella.

O golpe fatal veio na quarta-feira, quando a Liga e o Força Itália se recusaram a votar uma moção de confiança, e o Cinco Estrelas se declarou “presente mas não votante”: dos 315 deputados, apenas 133 estavam presentes. Embora Draghi tenha recebido 98 votos favoráveis, ele já tinha dito que só ficaria no poder se tivesse ampla maioria, e Mattarella não teve opção a não ser aceitar o novo pedido de renúncia, abrindo caminho para eleições — exatamente como queriam a direita e a extrema direita.

"Essa era a última janela de oportunidade aberta para aqueles que queriam a realização de eleições", disse ao Guardian Riccardo Magi, presidente do Mais Europa, uma pequena sigla de esquerda. "O Cinco Estrelas acionou a bomba, os outros dois [Liga e Força Itália] detonaram a bomba final".

A queda de Draghi e a possibilidade de ter um primeiro-ministro da extrema direita também foram bem recebidas em Moscou: não é segredo que Berlusconi e o presidente russo, Vladimir Putin, têm ótimas relações, ao contrário do agora ex-premier Mario Draghi, que se alinhou aos EUA e a Bruxelas para apoiar a Ucrânia na guerra no Leste Europeu.

Dentro do Cinco Estrelas, há uma ala pró-Kremlin, que se opôs ao envio de armas para Kiev, e Matteo Salvini é admirador declarado de Putin — há suspeitas de que ele tenha negociado com o governo russo linhas de financiamento para a dívida de seu partido, nos mesmos moldes do acerto supostamente feito por Marine Le Pen, candidata derrotada da extrema direita na eleição presidencial francesa, em abril. Meloni, por sua vez, condenou a invasão russa da Ucrânia, e prometeu continuar ajudando Kiev caso se torne a nova premier.

"Parece que os partidos que deram o empurrão [para a queda de Draghi] são os partidos pró-Putin. Esse é o caso do Cinco Estrelas, esse é o caso de Silvio Berlusconi e esse é o caso, óbvio, de Salvini", disse ao Guardian Francesco Galiett, fundador da consultoria Policy Sonar.


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