Mísseis russos atingiram um prédio residencial de 14 andares e um centro recreativo a cerca de 80 km da cidade ucraniana de Odessa, às margens do Mar Negro, conforme Moscou intensifica seus ataques contra infraestruturas civis. Ao menos 19 pessoas morreram e dezenas outras ficaram feridas após as forças russas abandonarem uma uma ilha estratégica a cerca de 160 km ao Sul.
De acordo com as autoridades locais, 16 pessoas morreram no prédio e as outras três, no centro recreativo da cidade de Bilhorod-Dnistrovsky, incluindo duas crianças. Há ao menos 37 pessoas internadas. Os trabalhos de resgate no edifício terminaram horas após o ataque, que ocorreu por volta de 1h da manhã (19h de terça, no Brasil).
De acordo com funcionários do governo ucraniano, uma seção do prédio foi destruída entre seu primeiro e nono andar. Antes da guerra, o edifício abrigava cerca de 100 pessoas. O centro recreativo, por sua vez, ficou danificado. O governo russo negou mais uma vez que esteja mirando propositalmente em infraestruturas civis:
"Gostaria de lembrá-los mais uma vez das palavras do presidente da Rússia e comandante-chefe [Vladimir Putin]: as Forças Armadas não estão trabalhando contra alvos civis nesta operação militar especial", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, usando a expressão adotada pelos russos para se referir à invasão.
Os alvos russo, disse Peskov, incluem armazéns de armas, plantas militares e locais onde “mercenários estrangeiros” e “elementos nacionalistas” treinam e se abrigam.
O ataque, na prática, põe um ponto final nas esperanças de que a Rússia vá de fato acabar com o bloqueio dos portos ucranianos, que inclui o posicionamento de minas navais em pontos de passagem de embarcações. Com isso, os russos são desde o início do conflito acusados de barrarem a saída de navios com exportações de grãos ucranianos.
O Kremlin nega tais acusações e culpa os próprios ucranianos pela impossibilidade de manter os níveis de exportações de alimentos, que são enviados para dezenas de países ao redor do mundo. A escassez é considerada pela ONU um risco à segurança alimentar de milhões de pessoas e faz o preço dos grãos disparar pelo planeta.
Na quinta, o porta-voz do Ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov, havia dito que a saída russa da Ilha das Cobras foi um “sinal de boa vontade” justamente para facilitar a exportação de grãos. Os ucranianos rejeitaram a justificativa:
“O terror é uma tática comum da Rússia”, disse Kyrylo Tymoshenko, um dos porta-vozes do Gabinete do presidente Volodymyr Zelensky, no Telegram. “Primeiro, encobrem seus atos criminais como ‘ações benevolentes’. Depois, lançam mísseis contra nossas cidades pacíficas”, completou.
A ilha é um território estratégico de 0,15 km² que estava sob controle de Moscou desde 24 de fevereiro, o primeiro dia da operação. Sua importância é geográfica: fica a 33 km da costa da região de Odessa, lar do maior porto da Ucrânia, e a 300 km da costa da Crimeia, península anexada pela Rússia em 2014.
Quando a guerra começou, um grupo de 13 patrulheiros de Kiev que faziam a segurança da ilha foi abordado por um navio russo, com quem supostamente travaram um diálogo que rodou o mundo. Os soldados de Moscou teriam avisado que os ucranianos deveriam se render, ou seriam bombardeados. A resposta teria sido “navio russo, vá se foder”.
O suposto autor da frase foi preso, mas solto em março como parte de uma troca de prisioneiros entre Moscou e Kiev. Posteriormente, recebeu uma medalha do governo de Zelensky.
A destruição perto de Odessa, por sua vez, vem após dias de ataques russos que atingiram infraestruturas civis por todo o território ucraniano, incluindo um shopping na cidade de Kremenchuk, no Centro do país. O prédio ficou destruído e mais de 20 pessoas morreram.
No último fim de semana, mais de 40 mísseis foram lançados contra o território ucraniano, incluindo um que atingiu um prédio residencial em Kiev. O ataque desta sexta, disse o governo alemão, foi “desumano”:
"O governo federal condena o ataque com mísseis do Exército russo", disse o porta-voz do governo liderado pelo chanceler Olaf Scholz, Steffen Hebestreit. "A parte russa, que fala novamente de danos colaterais, é desumana e cínica (...). Isso nos mostra mais uma vez, de forma cruel, que o agressor russo aceita deliberadamente a morte de civis."
Os ataques intensificaram os apelos perpétuos de Zelensky e sua alta cúpula por mais armas e sistemas de defesa ocidentais, já que os ucranianos esgotaram seu arsenal e agora dependem exclusivamente dos aliados. No dia 23, o país recebeu o poderoso Sistema Americano de Foguetes de Artilharia de Alta Mobilidade (Himars, na sigla em inglês).
A arma, capaz de disparar foguetes guiados por satélite capazes de atingir alvos a até 80 km de distância, era pleiteada há meses pelo governo do presidente Volodymyr Zelensky. Ainda assim, a falta de capacitação ucraniana para lidar com as tecnologias ocidentais e o temor de que sejam usadas para atacar diretamente o território russo faz com que o fluxo fique aquém do desejado por Kiev.
“Para proteger a população, precisamos de sistemas anti-mísseis”, disse Mykhailo Podolyak, um dos conselheiros de Kiev, onde a crença é que Moscou vá intensificar novamente sua operação diante dos avanços no Leste.
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