Forças de segurança de Israel impedem que pessoas carreguem o caixão com o corpo da jornalista da al-Jazeera Shireen Abu Akle durante uma procisão funerária para uma igreja, em Jerusalém
Reprodução - 13.05.2022
Forças de segurança de Israel impedem que pessoas carreguem o caixão com o corpo da jornalista da al-Jazeera Shireen Abu Akle durante uma procisão funerária para uma igreja, em Jerusalém

A procissão funerária da repórter da al-Jazeera Shireen Abu Akleh morta por um disparo na cabeça quando cobria uma operação militar israelense na Cisjordânia na quarta-feira, foi marcada por choques violentos entre os participantes e forças policiais, que lançaram nesta sexta-feira granadas de efeito moral para dispersar uma multidão em Sheikh Jarrah. No mesmo dia, um soldado israelense morreu e 13 palestinos ficaram ferido numa nova operação na Cisjordânia.

Centenas de pessoas se reuniram do lado de fora do hospital onde a procissão teve início, com muitos deles empunhando bandeiras palestinas e gritando o que a polícia descreveu como "incitações nacionalistas". Ao menos dez pessoas precisaram receber assistência médica.

Imagens transmitidas pela Palestine TV mostram que o caixão da jornalista quase caiu no chão enquanto os policiais dispersavam os presentes.

As forças israelenses invadiram o recinto do hospital San José, em Jerusalém Oriental, setor palestino da cidade ocupada e anexada por Israel. Os agentes afirmaram que pedras foram atiradas contra eles, que foram "forçados a usar meios de dispersão".

"Se não pararem com esses cantos nacionalistas, vamos ter que dispersar vocês usando a força e impediremos a realização do funeral", declarou por um megafone um policial israelense, dirigindo-se à multidão, segundo um vídeo divulgado pela polícia.

No Twitter, Hanane Achraoui, ex-responsável da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), denunciou a ação dos policiais: "forças especiais israelenses brutais estão atacando o cortejo fúnebre de Shireen Abu Akleh saindo do Hospital São José".

Na sequência, o caixão de Shireen Abu Akleh foi finalmente transportado para a Cidade Velha, onde uma missa foi celebrada em uma igreja, antes do enterro em um cemitério próximo.

O anúncio da morte da jornalista provocou grande comoção entre os palestinos e no mundo árabe, que acompanhou por mais de duas décadas suas reportagens na al-Jazeera. Protestos foram registrados em vários territórios palestinos e uma rua de Ramallah recebeu o nome dela.

Nova operação e investigação

No mesmo dia do funeral de Abu Akleh, um soldado israelense morreu e 13 palestinos ficaram feridos em uma nova operação das forças da Israel na Cisjordânia.

A operação ocorreu em Jenin, o mesmo local onde a jornalista foi morta na quarta. De acordo com o Ministério da Saúde Palestino, entre os 13 feridos, um deles foi baleado no estômago. No Twitter, o Exército israelense disse que palestinos atiraram quando suas tropas chegaram ao local para prender combatentes suspeitos.

O primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, informou que um soldado foi morto na operação. "Hoje [sexta-feira], perdemos um verdadeiro herói, um bravo lutador que se colocou em perigo pela segurança de Israel", afirmou em comunicado.

Enquanto isso, o Exército israelense informou que, após uma investigação preliminar, não foi capaz de determinar quem atirou em Abu Akleh — os palestinos rejeitam uma investigação por parte de Israel. No dia da morte da jornalista, Israel chegou a acusar combatentes palestinos, mas recuou logo depois, afirmando que não era possível quem era o responsável.

O comunicado dos militares diz que há duas possibilidades sobre a origem do tiro. A primeira é que teve origem nos "disparos maciços de palestinos armados [contra soldados israelenses], dentro das centenas de balas que foram disparadas de diferentes lugares". A afirmação, porém, contrasta com jornalistas presentes no local quando Abu Akleh foi morta: segundo eles, não havia combatentes palestinos armados no local e nem confrontos.

"A outra opção é que durante o tiroteio um dos soldados tenha disparado várias balas de um veículo contra um terrorista que tinha como alvo o seu veículo", acrescenta o comunicado do Exército.

Tanto a al-Jazeera, como autoridas palestinas e o Qatar — onde é a sede da al-Jazeera — acusaram Israel pela morte, enquanto a ONU, a União Europeia e os EUA pediram uma investigação "independente".

Os israelenses pediram às autoridades palestinas a bala que matou a jornalista para determinar a origem do tiro, mas as autoridades palestinas rejeitaram o pedido, assim como se recusam a realizar uma investigação conjunta com Israel.

"Consideramos as autoridades de ocupação israelenses plenamente responsáveis pela morte", declarou Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP) na quinta-feira.

Ele explicou que rejeita uma investigação conjunta porque "as autoridades israelenses cometeram o crime e não confiamos nelas", acrescentado que deseja enviar o caso a Tribunal Penal Internacional (TPI).

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