Autoridades da região separatista pró-Rússia da Transnístria afirmaram nesta sexta-feira que duas tentativas de ataques foram registradas contra infraestruturas na capital Tiraspol. Em uma entrevista, porém, o chanceler da Moldávia, onde fica o enclave, acusou "forças internas" da Transnístria de tentarem desestabilizar a região e aumentar tensões.
A região separatista apareceu no holofote internacional desde que um comandate russo — em declarações não ratificadas por Moscou — disse que o objetivo do país na guerra na Ucrânia era controlar o Sul ucraniano, obtendo acesso ao enclave. Esta semana, a Inteligência dos EUA informou o Senado americano que tem indicações de que essa é a pretensão do presidente Vladimir Putin.
Segundo um comunicado nesta sexta do Ministério do Interior da região, "às 4H15, um veículo parou perto de um depósito de petróleo de uma empresa. Um homem não identificado desceu, lançou um coquetel molotov contra o edifício e fugiu". Um incêndio foi rapidamente controlado.
Trinta minutos depois "foram lançados dois coquetéis molotov" contra uma agência de recrutamento no centro de Tiraspol. O fogo também foi "rapidamente controlado" pela segurança, afirmou o ministério.
Esta não é a primeira vez durante o conflito na Ucrânia que o governo da Transnístria relata ataques em seu território, já tendo acusado os ucranianos de estarem por trás deles. O governo de Kiev, no entanto, alega que os episódios se tratam de tentativas russas de forjar falsos ataques contra alvos pró-Rússia na região, no que seria uma tentativa de conseguir um pretexto para abrir uma nova frente de ataque no Sul ucraniano.
Também nesta sexta-feira, em entrevista à Reuters às margens de uma reunião de ministros das Relações Exteriores do G7 no Norte da Alemanha, o chanceler moldavo Nicu Popescu disse que estava claro que as recentes explosões estavam ocorrendo na região como resultado da guerra na Ucrânia, pontuando que não poderia apontar culpados, apesar de alegar que "forças internas" querem desestabilizar a Transnístria.
"Queremos resolver o conflito da Transnístria através do diálogo pacífico e da diplomacia. O que vemos é que a maioria absoluta dos cidadãos da região da Transnístria não quer viver em uma zona de guerra e quer paz, mas há forças internas que querem alimentar desestabilização ", disse.
"Elas são limitadas, mas querem jogar jogos que alimentam tensões, provocando, [tornando] a população da Transnístria histérica e deixando nervosa a população da Moldávia. Existem forças internas que querem desestabilizar esta região e aproximar a guerra de nossas casas. Estamos trabalhando para garantir que isso não aconteça."
A Transnístria, que não tem reconchecimento internacional — nem de Moscou —, se separou da Moldávia após um breve conflito militar na esteira do colapso da União Soviética. Em 2006, o governo da região realizou um referendo, cujo resultado foi de mais de 90% de aprovação pela indepedendência da Moldávia. No entanto, a Ucrânia, a União Europeia e os Estados Unidos classificaram a ação como ilegal.
Em 2014, após a Rússia anexar a Crimeia, ativistas e políticos da Transnístria chegaram a pedir ao Parlamento russo que autorizasse a região, que faz fronteira com a Ucrânia, a se juntar à Rússia.
Ingresso na UE
A Moldávia tem lutado para lidar com o fluxo de refugiados da sua vizinha Ucrânia, vendo cerca de 450 mil refugiados entrarem no país, com cerca de 95 mil permanecendo em seu território — sendo metade deles crianças. O fluxo pôs uma pressão econômica sobre o país, enquanto busca se reformar em busca de sua ambição de longo prazo de ingressar na União Europeia (UE).
Na entrevista à Reuters, Popescu disse que precisava de meios financeiros para alocar dinheiro para refugiados que ficaram na Moldávia e famílias locais que os acolheram.
"Precisamos adaptar tudo o que funciona em nosso Estado à situação. Isso significa mais eletricidade, policiamento, gestão de resíduos, aquecimento, alimentos, então precisamos ajudar nosso estado a se adaptar a isso", disse ele.
O governo pró-Ocidente da Moldávia tem apoiado fortemente Kiev desde a invasão russa e apresentou um pedido formal para ingressar na UE apenas uma semana depois que as tropas russas entraram na Ucrânia.
Popescu disse que Chisinau está avançando nos esforços para combater a corrupção, reformar o sistema de Justiça e liberalizar a economia para poder atender às exigências da UE, que ele espera convencer o bloco a permitir que inicie o lento processo de se tornar membro.
"Acreditamos que somos um país que tem uma história europeia, língua, sociedade e uma democracia relativamente consolidada" , disse. "Acreditamos que nosso lugar é dentro da União Europeia e esperamos que nas próximas semanas e meses a UE reconheça nossas aspirações europeias.'
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