O chanceler da Ucrânia, Dmytro Kuleba, disse ao jornal Financial Times que, após o recebimento de ajuda dos países da Organização da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o país expandiu seus objetivos na guerra e agora busca expulsar as forças russas de todo o território ucraniano.
Embora não tenha citado nominalmente a Península da Crimeia, que a Rússia anexou em 2014, nem as regiões do Leste controladas por separatistas pró-Moscou desde o mesmo ano, as declarações indicam que Kiev tem a ambição de retomar essas áreas.
Kuleba disse que “a imagem da vitória é um conceito em evolução”.
"Nos primeiros meses da guerra, a vitória para nós parecia a retirada das forças russas para as posições que ocupavam antes de 24 de fevereiro e o pagamento pelos danos infligidos", disse Kuleba na entrevista.
"Agora, se formos fortes o suficiente na frente militar e vencermos a batalha de Donbass, que será crucial para a dinâmica seguinte da guerra, é claro que a vitória para nós será a libertação do resto de nossos territórios."
Esta foi a primeira vez em que a Ucrânia citou a ambição de retomar territórios perdidos em 2014, sobre os quais nunca deixou de reivindicar soberania.
Essa meta torna uma saída negociada ainda mais distante. A Rússia, assim como a maior parte da população do país, considera a Crimeia parte integral de seu território, enquanto Kiev continua a reivindicar soberania sobre ele. Analistas entendem que nenhum governo russo vai ceder a península.
Já nas regiões do Donbass controladas por rebeldes, as autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Luhansk, grande parte da população tem passaportes russos, entregues nos últimos anos. Moscou acusa a Ucrânia de oprimir a população dessas regiões e reiteradamente diz que um de seus objetivos na guerra é protegê-la.
Em uma conversa por videoconferência com a Chatam House, um instituto independente de política de Londres, há quatro dias, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, citou somente a ambição de que a Rússia devolva os territórios tomados após 24 de fevereiro, quando começou a invasão.
Apesar dos comentários, Kuleba reconheceu que o derramamento de sangue e a destruição podem ser muito altos, e a Ucrânia pode ter que negociar um acordo. Nesse caso, Kiev gostaria de “chegar ao momento inevitável com as cartas mais fortes possíveis”, disse.
Nas últimas semanas, após a descoberta de fortes indícios de crimes de guerra em Bucha, perto de Kiev, e o aumento da ajuda militar ocidental à Ucrânia, as negociações esfriaram, e possíveis pautas de acordo entre as partes não são mais mencionadas.
Na entrevista, Kuleba voltou a pedir por mais armas do Ocidente, e demandou entregas regulares. O ministro disse que a Ucrânia queria um “mecanismo” permanente para coordenar promessas e entregas de armas, e mencionou a necessidade de artilharia, incluindo obuses, bem como sistemas de foguetes de lançamento múltiplo que não foram fornecidos.
Segundo o Financial Times, o ministro disse estar convencido de que os aliados da Ucrânia apoiarão o país até o fim, inclusive expulsando a Rússia de Donbass e da Crimeia, porque a agressão de Moscou renovou a aliança entre as potências do Ocidente.
"[A resistência da Ucrânia] uniu novamente os EUA e a UE" , ele afirmou. "Eles já sentem que nossa vitória também será a vitória deles e é por isso que acredito que nos apoiarão."
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