O Exército russo atacou nesta terça-feira dezenas de alvos na região do Donbass, a área no Leste da Ucrânia onde estão os autoproclamados territórios separatistas pró-Moscou , horas após o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, informar que a Rússia lançou uma nova etapa de sua ofensiva militar, para a qual se preparava há semanas.
A própria Rússia confirmou que iniciou uma nova fase de sua ofensiva, por meio de seu chanceler, Sergei Lavrov.
"Essa operação continuará, a próxima fase dessa operação está começando agora. Tenho certeza de que esse será um momento muito importante de toda a operação especial" disse Lavrov em entrevista ao India Today, empregando a terminologia oficial do Kremlin para se referir ao conflito.
Segundo Lavrov, o ataque objetiva "a libertação completa das repúblicas de Donetsk e Luhansk". Desde 2014, separatistas pró-Moscou dominam grandes partes do Donbass, com áreas da região ainda sob o comando de Kiev. Imediatamente antes da guerra, o Kremlin reconheceu a independência das repúblicas autoproclamadas, governadas por pessoas alinhadas a Moscou. O domínio pleno do Donbasss criaria uma conexão terrestre entre a Rússia e a Península da Crimeia, anexada em 2014.
Por enquanto, os ataques russos parecem metódicos e concentrados no uso da artilharia, como sistemas de lançamento de foguetes múltiplos, obuses e morteiros. Há uma previsão de chuva pesada para os próximos dias, e esta época é conhecida como a estação da lama no Donbass. Isto causará dificuldades para avanço das forças terrestres russas, porque tanques e outros veículos enfrentarão problemas para circular fora de estradas.
O Ministério da Defesa russo diz que também usou mísseis teleguiados nesta terça-feira. Segundo o órgão, a Rússia efetuou mais de 1.260 disparos com artilharia e mísseis, “neutralizou 13 posições ucranianas em Donbass, incluindo a cidade-chave de Sloviansk, e bombardeou outros 60 alvos militares”.
Em um mapa divulgado nesta terça, a Inteligência da Defesa Britânica espera que a Rússia monte um ataque em três frentes ao Donbass, a partir de Luhansk, Donetsk e Mariupol, complementado por avanços do Norte e da Crimeia.
As forças ucranianas se retiraram e o Exército russo assumiu o controle do município de Kreminna, de 18 mil habitantes, a 130 quilômetros de Luhansk. Um assesssor da Presidência ucraniana dissse que há grande concentração de forças russas perto de Izyum, no Norte, e de Zaporíjia, no Sul.
Segundo o Ministério da Defesa americano, há ao todo 76 Grupos Táticos de Batalhão (GTBs) russos no Donbass e no Sudeste da Ucrânia. Uma autoridade do Pentágono disse que a Rússia adicionou 11 GTBS à sua ofensiva e que, além desses, há ainda cerca de 22 grupos ao Norte da Ucrânia que provavelmente estão sendo reabastecidos e reaparelhados, antes de voltar para o combate.
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Quando completo, cada GTB tem aproximadamente 600-800 oficiais e soldados, dos quais cerca de 200 são soldados de infantaria, geralmente incluindo cerca de 10 tanques e 40 veículos de combate de infantaria. Analistas militares entendem que grande parte das forças que lutaram perto de Kiev não tiveram tempo para se recarregar e estão desfalcadas. Um dos problemas russos é a escassez de infantaria, algo que deve se acentuar conforme a campanha se prolongue.
Espera-se que essa seja uma fase mais brutal da guerra, com uso de fogo pesado por parte da Rússia. A Ucrânia continua a pedir para o Ocidente enviar grandes remessas de armas pesadas e de longo alcance, incluindo sistemas de foguetes e veículos blindados, e sistemas de defesa aérea, como radares e mísseis. Nesta terça-feira, o Ministério da Defesa da Holanda anunciou que vai enviar equipamento militar para a Ucrânia, incluindo veículos blindados.
Na segunda-feira, a Ucrânia também começou a receber os últimos US$ 800 milhões em ajuda militar aprovada pelos Estados Unidos. A escala da ajuda, no entanto, ainda está aquém do desejado, e países como a Alemanha resistem muito a enviar tanques e outros equipamentos. Enquanto isso, a Ucrânia pretende utilizar defesas urbanas para travar as forças russas, como faz em Mariupol, que há mais de sete semanas segura vários batalhões.
Diversos relatos informam que a resistência na cidade, na beira do Mar de Azov, agora se resume a combatentes reunidos na usina siderúrgica de Azovstal. O Conselho Municipal disse que no mínimo mil civis estavam escondidos em abrigos na siderúrgica, que contém uma miríade de edifícios, de fornos, bunkers, túneis subterrâneos e trilhos de trem.
À noite, houve bombardeios aéreos na usina. Na manhã desta terça, a Rússia fez mais um de seus repetidos ultimatos para os combatentes ucranianos se renderem, e disse que abriria corredores humanitários e suspenderia os disparos para possibilitar a rendição. Apesar de a situação ser cada vez mais crítica e de a queda de Mariupol ser esperada para o futuro próximo, não houve informações sobre rendições.
Uma declaração do chanceler russo, Sergei Lavrov, enquanto isso, despertou o temor de que a Rússia possa usar armas nucleares no conflito. Segundo a agência russa RIA, Lavrov não descartou usar armas atômicas no futuro:
"Nesta fase, estamos considerando a opção de armas convencionais" afirmou Lavrov segundo a RIA.
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