Uma comissão que investiga abuso sexual infantil na Igreja Católica portuguesa disse nesta terça-feira que os quase 300 testemunhos de supostas vítimas que coletou até agora são “apenas a ponta do iceberg”.
"Houve vários casos de abuso sexual de crianças e adolescentes no passado" disse o chefe da comissão, o psiquiatra infantil Pedro Strecht, explicando que mais da metade dos 290 depoimentos indicam “muito mais vítimas”.
As alegações de abusos partem de pessoas nascidas entre 1933 e 2009, de diversas origens, de todas as regiões do país e também de portugueses residentes em outras nações europeias, Estados Unidos, México e Canadá. A maioria das supostas vítimas é composta por homens que foram abusados sexualmente desde os 2 anos de idade.
A comissão começou seu trabalho em janeiro depois que um relatório de uma comissão na França revelou no ano passado que cerca de 3 mil padres e autoridades religiosas abusaram sexualmente de mais de 200 mil crianças nos últimos 70 anos.
A comissão portuguesa, que tem seu próprio site e linha telefônica, conta com os depoimentos de supostas vítimas, mas também com o acesso a arquivos históricos das dioceses. Eles esperam apresentar o relatório até o final deste ano. Uma equipe de especialistas está trabalhando com as dioceses para obter acesso aos arquivos.
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A socióloga Ana Nunes de Almeida disse que a comissão solicitou entrevistas com os 21 bispos de Portugal, mas apenas 12 concordaram em falar até agora.
"O número (de vítimas) não para por aqui. Estamos apenas na ponta do iceberg" afirmou.
Dos 290 depoimentos, 16 foram encaminhados ao Ministério Público para investigação, pois todos os outros foram cometidos há mais de 20 anos e processos judiciais não podem mais ser abertos.
Mas Strecht disse que a comissão já “identificou sinais” de encobrimento de casos de abuso sexual, inclusive por bispos que permanecem ativos em funções da Igreja. Ele afirmou que as supostas vítimas relataram abusos em vários contextos, inclusive em escolas católicas, aulas de catecismo e durante a confissão.
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