Candidato à reeleição, o presidente francês Emmanuel Macron venceu o primeiro turno das eleições presidenciais deste domingo (10) e disputará o segundo turno em 24 de abril com Marine Le Pen, presidenciável da direita radical, o que repetirá os protagonistas do embate final do pleito anterior, em 2017.
A votação, que teve uma abstenção alta, de 25,16%, também foi marcada pela derrota dos partidos tradicionais de esquerda e direita e pelo crescimento de Jean-Luc Mélenchon, candidato da esquerda radical.
Segundo os números oficiais com 96% dos votos apurados, Macron teve 27,4% contra 24% de Le Pen, que cresceu na reta final da disputa, mas não o suficiente para alcançar o presidente. Macron esteve ausente da campanha durante boa parte do tempo, concentrando-se na frente diplomática do conflito na Ucrânia, e só nos últimos dez dias fez comícios. As últimas pesquisas pré-eleitorais indicavam um empate técnico entre os dois.
Ambos os candidatos têm o desafio de atrair eleitores de todas as partes do espectro político. Em seu discurso após o resultado, Macron fez um chamado a todos os franceses, dizendo que "nada está resolvido".
"Quero entrar em contato com qualquer pessoa que queira trabalhar para a França. Estou pronto para inventar algo novo para reunir convicções e sensibilidades", disse o presidente francês, antes de se dirigir a eleitores ultraconservadores. "Quero convencê-los nos próximos dias de que nosso projeto responde muito mais solidamente do que os da extrema-direita aos seus medos e aos desafios dos tempos", completou.
Macron também rebateu o principal ponto da campanha de Le Pen, que prometeu aumentar o poder aquisitivo dos franceses, e disse que "o único projeto de poder de compra" é o de sua candidatura.
Já a ultraconservadora fez um convite "a todos aqueles que não votaram em Macron" em seu discurso, e afirmou que no segundo turno estará em jogo "uma escolha de sociedade e até de civilização":
"No dia 24 de abril, será uma escolha fundamental entre duas visões opostas do país: ou divisão e desordem ou a mobilização do povo francês em torno da justiça social garantida por um quadro fraterno", afirmou Le Pen. "Do seu voto, dependem as decisões políticas do próximo quinquênio, mas que comprometerão a França pelos próximos 50 anos anos".
As eleições foram marcadas também pelo esvaziamento total dos partidos tradicionais. Herdeiro do gaullismo, o partido Os Republicanos está com 4,7% dos votos válidos com a candidata Valérie Pécresse. Já o Partido Socialista, de centro-esquerda, representado pela prefeita de Paris Anne Hidalgo, só teve 1,7%.
Além disso, chama a atenção o bom desempenho do candidato da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon, que está com 21% dos votos já apurados e ficará em terceiro, subindo também no três pontos em relação à média das pesquisas de intenção de voto.
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Os apoiadores de Mélenchon, do partido França Insubmissa, serão decisivos no segundo turno de 24 de abril, e é incerto se ele irá apoiar Macron. Frente à mesma escolha em 2017, ele declarou-se neutro. Antes das eleições, Mélenchon afirmou que esta seria sua última candidatura em uma eleição presidencial. Em seu discurso, ele não chegou a declarar apoio explícito a Macron, mas enfatizou que seus apoiadores "não devem apoiar Le Pen".
"Sabemos em quem nunca vamos votar. Vocês não devem apoiar Le Pen. Não devemos dar um só voto à senhora Le Pen", disse.
Últimas pesquisas
As últimas pesquisas apontavam Macron e Le Pen em empate técnico também no segundo turno.
Macron esteve ausente da campanha durante a maior parte do tempo e concentrou-se no front diplomático do conflito ucraniano. O presidente liderava de forma relativamente confortável o embate eleitoral em todos os cenários projetados pelas pesquisas, mas sua vantagem se reduziu às vésperas do primeiro turno com o avanço de Le Pen, do partido Reunião Nacional (RN).
Éric Zemmour, o ex-comentarista televisivo de extrema-direita que fez uma campanha inspirada em Donald Trump — e com isso contribuiu para dar uma imagem de maior moderação a Le Pen — deve ficar em quarto, com cerca de 7% dos votos, e Valérie Pécresse em quinto.
A contagem mostra outros candidatos com percentuais significativos: Yannick Jadot, Europe Ecológica/Os Verdes (centro-esquerda), aparece com 4,40%; Jean Lassalle, do Resistamos [populista], teve 3,3% ; Fabian Roussel, do Partido Comunista Francês [esquerda], teve 2,3%; Nicolas Dupont-Aigna, do Começar a França [direita], teve 2,1%, logo à frente de Hidalgo. Os partidos que conquistam menos de 5% dos votos não têm os custos de campanha reembolsados.
Pécresse, Jadot, Roussel e Hidalgo já manifestaram apoio a Macron contra Le Pen. Destes, o mais importante é o apoio de Pécresse, que afirmou que a vitória de Le Pen levaria a França "à discórdia, à impotência e à fratura".
Já Zemmour declarou voto em Le Pen, e disse que "continuará a lutar". A ultraconservadora, que fez uma eficaz campanha concentrada no aumento do custo de vida e na qual se apresentava como uma mulher comum, terá por desafio moderar a sua imagem, com o propósito de vencer a resistência à extrema direita. Em seu discurso após os resultados, ela afirmou que, se eleita, "irá governar para todos os franceses".
Abstenção de 25,16%
A abstenção deve ficar por volta de 25%, o segundo mais alto índice histórico. A eleição de 2017 já havia sido marcada por um forte índice de abstenção (22,2%) e o pleito deste domingo corria o risco de bater o recorde histórico de 2002 (28,4%).
Os resultados destas eleições guardam semelhanças com o primeiro turno de 2017. Então, Macron teve 24%; Le Pen, 21,3%; François Fillon, dos Republicanos, 20%; Mélenchon, 19,6%; e Benoit Hamon, do Partido Socialista, 6,3%. Quando concorreu pela primeira vez, em 2012, Le Pen teve 17,9%.
Há cinco anos, Macron saiu vencedor no segundo turno com 66% dos votos, contra 34% de Le Pen. A primeira pesquisas para o segundo turno deste ano, divulgada pelo Instituto Ifop, aponta uma vantagem mínima para Macron: 51% a 49%. Já o Instituto Ipsos aponta 54% para Macron e 46% para Le Pen.