Guerra na Ucrânia completa um mês: 3,6 milhões de refugiados e sanções

Sanções de países contra a Rússia, bombardeios, refugiados, negociações entre autoridades e tensão mundial marcam esse um mês de conflito na Ucrânia

Ataque russo a bairro de Kiev
Foto: Reprodução / Twitter - 22.03.2022
Ataque russo a bairro de Kiev

invasão russa na Ucrânia completa um mês nesta quinta-feira (24). O conflito que chamou a atenção de autoridades ao redor do mundo já acumula grande número de mortos, feridos e civis que precisaram deixar o território ucraniano na tentativa de fugir da guerra.

Segundo os dados da Organização das Nações Unidas (ONU) desta quinta, o número de refugiados desde o início do conflito já ultrapassou os 3,67 milhões , além de mais de 6,5 milhões de deslocados internos.

De acordo com o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR), mais de 2,17 milhões de cidadãos se dirigiram à Polônia, enquanto o restante buscou abrigo em outros países vizinhos, como Hungria, Eslováquia, Moldova, Romênia, Rússia e, em menor escala, na Bielorrússia.

A grande repercussão da guerra, de acordo com Tito Lívio Barcellos, geógrafo e cientista político especialista em geopolítica pós-soviética, se deve ao impacto mundial gerado pelo confronto. "Temos que lembrar que existem outras guerras acontecendo no mundo, mas a guerra do Iêmen, por exemplo, que é uma tragédia humanitária, não afeta a escala mundial como a guerra da Ucrânia", aponta.

"Isso não quer dizer que ela é menos importante, pelo contrário, o índice de mortalidade é bem maior, mas como na Ucrânia se tem um embate direto entre várias potências militares e nucleares, o mundo inteiro acaba sendo afetado. Já a guerra do Iêmen acaba sendo algo local, então o impacto dela é menor", explica.

Relembre o conflito:

Na madrugada do dia 24 de fevereiro, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, autorizou o que chamou de "operação militar especial" na Ucrânia . De acordo com o mandatário, a intenção da ação era de “desmilitarizar” o leste do país, mas não ocupar.

Pouco depois de Putin fazer um pronunciamento na TV estatal russa,  explosões de larga escala já podiam ser ouvidas em diversas cidades ucranianas, incluindo a capital, Kiev, que amanheceu ao som de sirenes de alerta.

Os ataques começaram enquanto o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) se reunia pela segunda vez na semana, com apelos de representantes de países-membros para que Moscou descartasse a ideia da ação na Ucrânia. Isso porque a tensão de uma possível invasão crescia desde novembro do ano passado, quando a Rússia mobilizou milhares de soldados para perto da fronteira ucraniana sob a justificativa de exercícios militare s, em regiões como a ​​Transnístria, na Moldávia, e Bielorrússia.

Imagens oficiais divulgadas à época mostravam treinamentos com batalhões de paraquedistas, disparos de tanques e desembarque de tropas em helicópteros, simulando ataques contra forças “inimigas”.

Embora houvesse uma pressão contra a Ucrânia devido às manobras próximas ao território, além da acusação de autoridades, como o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de que Putin estaria planejando uma invasão, o mandatário passou meses negando que tivesse a intenção de uma verdadeira ofensiva contra o país.

Em meados de fevereiro — coincidindo com a  viagem diplomática do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao país —, as tropas de russas chegaram a recuar. No entanto, com o aumento dos conflitos entre separatistas russos em Donetsk e Luhansk,  Putin reconheceu a independência das regiões separatistas, autorizando o deslocamento de militares aos locais no dia 21 daquele mês. A medida serviu como alerta aos países ocidentais, que viram na decisão os primeiros sinais concretos da invasão da Ucrânia.

Contrários à definição, EUA, Reino Unido e União Europeia lançaram as primeiras sanções econômicas contra a Rússia .

Usando como justificativa o aumento das tensões em Donbass, Putin anunciou o início de "operações militares" na Ucrânia. Na ocasião, ressaltou que outros países não deviam interferir na situação ou sofreriam "consequências jamais vistas".

Depois, durante pronunciamento, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, declarou estado de emergência no país e, após tropas russas chegarem à Ucrânia pela Crimeia — território anexado pela Rússia em 2014 —, convocou os cidadãos para o conflito.

Ainda no mesmo dia, o exército russo tomou a Usina de Chernobyl . A ocupação do local, hoje fantasma devido à contaminação, foi vista com preocupação, já que ainda existem remanescentes de material nuclear.

Após a invasão, nações como Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido começaram a anunciar novas sanções contra a Rússia. Os bloqueios atingiram bancos e instituições financeiras, empresários, a importação de petróleo e gás natural, entre outros.

Desde 28 de fevereiro, as delegações dos países realizam reuniões constantes com o objetivo de buscar acordos que favoreçam os dois lados e possam dar fim à investida russa no território ucraniano. Entre os temas discutidos pelas nações estão um cessar-fogo e o interesse da Ucrânia em fazer parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).  Até o momento, porém, as negociações terminaram sem grandes avanços.

Para Tito, de modo que o conflito caminhe para um fim, um dos lados precisa "perder o poder de barganha e ceder". "Temos que entender qual é o papel da guerra, que seria o de forçar seu adversário a aceitar as suas condições. Dessa forma, cada vez que os russos pressionam a Ucrânia, destruindo quartéis ou prédios, por exemplo, e apresentam ganhos consideráveis, eles chamam o país para uma rodada de negociações, com a ideia justamente de fazer as autoridades ucranianas aceitarem o que Moscou quer."

Na avaliação do geógrafo, ao mesmo tempo em que Zelensky não deseja ceder aos pedidos russos, as imposições de Putin também não são muito claras. "Caso a Ucrânia aceite todas as exigências russas, a situação seria facilmente vista como uma derrota militar, e o Zelensky seria visto como o presidente que entregou a soberania do país aos russos. O Putin, por outro lado, também não está disposto a abrir mão das questões que ele estabeleceu para acabar com a guerra."


** Letícia Moreira é jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero. No Portal iG, trabalha nas editorias de Último Segundo e Saúde, cobrindo assuntos como cidades, educação, meio ambiente, política e internacional.