Após quase uma semana de invasão, a Rússia reforçou nesta quarta-feira (2) sua ofensiva contra algumas das principais cidades da Ucrânia e voltou a ser acusada de bombardear alvos civis.
As Forças Armadas de Moscou reivindicam a tomada da cidade portuária de Kherson, no sul ucraniano, perto da península da Crimeia, tomada pela Rússia em 2014. "As divisões russas têm o pleno controle do centro regional de Kherson", disse o porta-voz do Ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov.
Já Mariupol, 400 quilômetros a leste de Kherson, está cercado por rebeldes da autoproclamada "república" de Donetsk, cuja independência foi reconhecida pelo presidente Vladimir Putin na semana passada.
De acordo com o prefeito Vadym Boichenko, mais de 500 mil pessoas estão bloqueadas em Mariupol, que não tem mais água potável. "As forças de ocupação russas fizeram de tudo para impedir a saída de civis da cidade. Não podemos nem mesmo retirar os feridos das ruas, já que os bombardeios não param", declarou Boichenko, segundo o jornal britânico The Guardian.
Em outra frente, no nordeste da Ucrânia, paraquedistas russos aterrissaram em Kharkiv, cidade estratégica situada perto da autoproclamada "república" de Lugansk. Segundo a Prefeitura de Kharkiv, pelo menos 21 pessoas morreram nos bombardeios, que atingiram edifícios da polícia, dos serviços de segurança e até da Universidade Nacional Karazin.
O Exército ucraniano também denuncia o ataque contra um hospital na cidade, que é a segunda mais populosa do país, com 1,4 milhão de habitantes. "Estamos todos em choque, parece que estou dentro de um filme", disse à ANSA um italiano que vive a oito quilômetros de Kharkiv.
"Estamos sem aquecimento e sem água há quatro dias. Por sorte tinha a neve, de onde tiramos nossa água. Bloqueamos todas as janelas para evitar que quebrem e por medo que [soldados] passem e atirem sem motivo", acrescentou.
A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que a invasão russa na Ucrânia já matou pelo menos 136 civis, mas ainda existe muita incerteza sobre o real número de vítimas.
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Em mais um discurso transmitido pela TV, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, acusou a Rússia de querer "cancelar" seu país e sua história.
"Para muita gente na Rússia, nossa Kiev é completamente estrangeira. Eles não sabem nada de nossa capital nem de nossa história, mas receberam ordens de apagar nossa história, de apagar nosso país", declarou.
Negociações
O recrudescimento da ofensiva russa quase provocou o cancelamento da segunda rodada de negociações entre Kiev e Moscou, mas os dois lados confirmaram o prosseguimento das tratativas.
Uma delegação russa já se dirigiu para o local das negociações em Belarus, porém ainda é incerto se as conversas serão retomadas nesta quarta-feira. A primeira rodada de tratativas, realizada na última segunda-feira (28), não produziu resultados.
Enquanto isso, o presidente dos EUA, Joe Biden, aprovou o envio de mais 3 mil soldados para reforçar o flanco oriental da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), embora descarte mandar tropas para combater na Ucrânia. Os militares serão alocados em bases na Polônia e na Romênia.
Além disso, a Otan estuda fechar o espaço aéreo da Ucrânia. Essa medida havia sido descartada por líderes ocidentais nos últimos dias, já que estabeleceria a possibilidade de abater aviões russos nos céus ucranianos, mas é um dos principais pleitos de Kiev.