O número de refugiados ucranianos em países vizinhos aumentou em 200 mil pessoas em 24 horas, de acordo com os dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), divulgados nesta quarta-feira, elevando o número total para cerca de 874 mil desde o início da invasão russa da Ucrânia.
Em meio ao aumento de refugiados, a Acnur também fez um apelo às autoridades de países vizinhos da Ucrânia que abram suas fronteiras para cidadãos africanos que fogem do conflito, uma vez que têm aumentado os relatos de que alguns estão sendo obrigados a ir para o fim da fila de entrada ou impedidos de embarcar em trens para a fronteira.
O porta-voz do Acnur, com sede na África do Sul, Buchizya Mseteka, afirma que a agência ainda não verificou os relatos, mas pede aos países que fazem fronteira com a Ucrânia que garantam que asilo e proteção sejam disponibilizados a todos.
"O Acnur está ciente e muito preocupado com as denúncias de discriminação racial", diz Mseteka. "Nossa posição é que, independentemente de nacionalidade e raça, as pessoas que buscam proteção devem ter permissão para buscar segurança e deixar a Ucrânia".
Mseteka afirma que o órgão está ciente de relatos de que alguns africanos que moravam na Ucrânia estão tendo acesso negado para embarcar nos trens que estão levando pessoas para países vizinhos da UE, e outros estão sendo impedidos de cruzar as fronteiras dessas nações.
Cidades de toda a Ucrânia tradicionalmente abrigam dezenas de milhares de estudantes africanos que cursam medicina, engenharia e assuntos militares. A União Africana também afirma estar preocupada com as denúncias.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, escreveu em um tuíte que os africanos que buscam refúgio precisam ter oportunidades iguais para retornar a seus países de origem com segurança e que seu país ajudaria a resolver o problema.
Já o gabinete do primeiro-ministro polonês, o ultranacionalista Mateusz Morawiecki, postou no Twitter que a Polônia “oferece abrigo a todos que fogem da agressão russa contra a Ucrânia, independentemente de sua nacionalidade e etnia”.
Tanto a Polônia quanto outros países do Leste europeu, como a Hungria, já foram criticados no passado por se recusarem a receber refugiados do Oriente Médio e da África.
Mais de 874 mil refugiados
De acordo com o Acnur, os últimos dados mostram que 874.026 pessoas fugiram da Ucrânia para países vizinhos nos últimos sete dias. A Ucrânia faz fronteira com sete países: Rússia ao norte e leste, Bielorrússia ao norte, Polônia e Eslováquia a oeste e Romênia, Hungria e Moldávia a sudoeste.
Os números incluem pessoas que fugiram do território controlado pelo governo ucraniano, com mais de 37 milhões de habitantes, mas não a Península da Crimeia anexada pela Rússia em 2014 ou as duas áreas nas mãos de separatistas pró-Moscou no Leste do país. Segundo a ONU, o destino dos que já fugiram está dividido da forma abaixo:
Polônia
A Polônia recebeu mais da metade dos refugiados, um total de 453.982 pessoas, segundo a ONU. No país, onde 1,5 milhão de ucranianos já viviam antes da ofensiva russa, as pessoas se organizam nas redes sociais para arrecadar dinheiro e remédios e também oferecer moradia, alimentação, trabalho ou transporte gratuitos aos refugiados.
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Hungria
A Hungria recebeu 116.348 refugiados. O país tem cinco postos de fronteira com a Ucrânia e várias cidades vizinhas, como Zahony, disponibilizaram prédios públicos para acomodar os ucranianos.
Moldávia
Um total de 79.315 refugiados chegou ao território moldavo na quarta-feira.
Romênia
O Acnur contou cerca de 44.540 refugiados da Ucrânia. Dois acampamentos foram montados, um em Sighetul e outro em Siret.
Eslováquia
Cerca de 67 mil ucranianos viajaram para a Eslováquia desde quinta-feira diante da ameaça de guerra, segundo o Acnur.
Outros países
A agência da ONU também especificou que 69.600 pessoas se refugiaram em outros países europeus, mais distantes das fronteiras de seu país, como a República Tcheca (20 mil refugiados).
Proteção temporária automática
A Comissão Europeia propôs nesta quarta-feira a concessão de proteção temporária automática por até três anos para pessoas que fogem da guerra na Ucrânia, incluindo uma autorização de residência e acesso a emprego e assistência social.
Os refugiados receberão proteção temporária assim que a proposta for aprovada pelos ministros do Interior da UE, o que a Comissão Europeia espera que seja feito nesta quinta-feira.
A medida de proteção, incluindo acesso a moradia e assistência médica, será concedida sem ter que passar por longos procedimentos de pedidos de asilo. Pode durar até três anos — a menos que a situação na Ucrânia melhore o suficiente para que as pessoas possam voltar para casa.
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* (Com informações de agências internacionais)