A Ucrânia confirmou oficialmente neste domingo (27) que participará de negociações de paz com a Rússia em uma área próxima à fronteira com Belarus, em Pripyat.
A confirmação veio após um telefonema entre os presidentes Volodymyr Zelensky e Aleksandr Lukashenko e depois de inúmeras trocas de acusações entre os três países.
"Nós combinamos que a delegação ucraniana se encontrará com a delegação russa sem pré-condições na fronteira entre Ucrânia e Belarus, próximo ao rio Pripyat. Aleksandr Lukashenko assumiu a responsabilidade de garantir que todos os aviões, helicópteros e mísseis parados no território bielorrusso ficarão em terra durante a viagem, as conversas e o retorno da delegação ucraniana", disse Zelensky.
O domingo foi marcado por acusações via discurso dos três presidentes. Logo cedo, Zelensky acusou Belarus de estar também atacando as cidades do país e disse que não poderia aceitar negociar em Minsk ou Gomel porque o governo não estava neutro no conflito.
"Qualquer cidade neutra está boa para as negociações. Pode ser Varsóvia, Istambul, Baku, mas não Minsk. A Rússia sabe que enviar uma comitiva para Gomel, em Belarus é inútil. Nós queremos negociações reais, não ultimatos", disse Zelensky.
Por sua vez, Lukashenko disse que o presidente ucraniano "estava mentindo" e que seu país continua sendo neutro no conflito - apesar de cerca de 30 mil soldados russos terem invadido a Ucrânia vindos de seu país.
Um parlamentar ligado ao presidente russo, Vladimir Putin, havia dado um ultimato para Kiev até às 15h (9h de Brasília) para uma resposta ucraniana e que se não houvesse nenhuma manifestação, o país voltaria com "o ataque total". E o próprio líder russo afirmou que Kiev estava "desperdiçando" a chance de conversas.
No entanto, Lukashenko telefonou para Zelensky após esse ultimato e, aparentemente, conseguiu convencer o líder de Kiev para, ao menos, aceitar iniciar as conversas.
Alguns países já se disponibilizaram para sediar as tratativas de paz, como a Turquia, Azerbaijão e Israel.
Além dos combates, a situação ucraniana também está sendo uma guerra de informações, com os dois lados dando narrativas aos fatos.
Os russos afirmam que não tomaram ainda Kiev - suas tropas estão a cerca de 20 quilômetros do centro - após quatro dias de conflitos porque não quiseram. Segundo Moscou, há tentativas de conversas antes de tentar derrubar o presidente.
Por outro lado, Zelensky diz que os russos subestimaram a resistência dos cidadãos e dos militares e que as tropas estão enfrentando muito mais problemas do que imaginavam.
Até mesmo as perdas humanas seriam maiores do lado russo, com cerca de 4,3 mil mortos contra 210 ucranianos - incluindo 65 civis. Mas, a Rússia não divulga números oficiais de vítimas, apenas das centenas de equipamentos militares destruídos nos ataques.
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Ucranianos fogem da guerra
A Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) informou que já são 370 mil os ucranianos que fugiram do país durante o ataque iniciado pela Rússia na última quinta-feira (24) e o número continua a aumentar hora após hora.
A maior parte dos cidadãos está se dirigindo para Polônia, nação com uma fronteira de cerca de 500 quilômetros de extensão. Na última atualização do governo de Varsóvia, eram 156 mil os ucranianos que entraram pelos postos de fronteira e, cerca de 90% deles, está indo para casas de amigos ou parentes.
A Polônia já abrigava cerca de 1,5 milhão de ucranianos que fugiram desde o fim do ano passado quando a tensão com os russos começou a se intensificar no campo diplomático.
A Hungria é o segundo país que mais recebe os cidadãos em fuga, com cerca de 71 mil pessoas cruzando sua fronteira desde a quinta-feira. Na sequência, a Romênia informou que recebeu cerca de 47 mil pessoas, mas que 22 mil já saíram do território em direção a outras nações.
Na Moldávia, chegaram 25 mil ucranianos . "Nesse dias escuros, nós estamos do lado dos cidadãos. A Moldávia vai ajudar aqueles que precisam apenas de trânsito por aqui ou de abrigo. Nós estamos com vocês, Ucrânia", disse a premiê Natalia Gavrilita.
Além dos que fogem para outras nações, o chefe da Acnur, Filippo Grandi, informou que 160 mil pessoas fizeram um deslocamento interno para fugir dos conflitos. "O deslocamento na Ucrânia está crescendo, mas a situação militar no momento dificulta a estimativa de números e a entrega de ajuda humanitária", acrescentou.
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Itália e Brasil - Grupos de refugiados ucranianos chegaram à Itália entre a noite desde sábado (26) e a madrugada do domingo (27). Um deles chegou em um ônibus com cerca de 50 pessoas em Fernetti, a maioria de crianças e mulheres - já que os homens de 18 a 60 anos foram proibidos de deixar o país pela lei marcial.
O grupo foi recepcionado pelas forças de segurança, que fizeram o procedimento regular de entrada. Todos foram para casas de amigos ou parentes nas cidades de Brescia, Vicenza, Milão e Roma. Um outro ônibus com 40 ucranianos chegou em Piacenza.
Já um grupo de cerca de 30 brasileiros conseguiu fugir de Kiev neste sábado antes do toque de recolher e está em direção da fronteira com a Polônia. Porém, três brasileiros acabaram ficando para trás e precisaram permanecer no bunker do hotel Opera, onde se encontram também jornalistas e pessoas de diversas nacionalidades - incluindo italianos.
Kiev está sob toque de recolher desde às 17h do sábado, em medida que será encerrada apenas às 8h da segunda-feira (28).
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, voltou a afirmar neste sábado que "ninguém será deixado para trás" e que acionou os ministros para que os cidadãos consigam retornar para o Brasil em segurança.
Na tarde do sábado, a Força Aérea Brasileira disponibilizou dois aviões cargueiros para ajudar a retirada dos brasileiros que fugiram da Ucrânia para países vizinhos. Porém, não há data de uma retirada ainda.
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