Ucrânia pode romper com Rússia após reconhecimento de separatistas
Presidente do país disse não acreditar que Moscou lançará um ataque de grande porte contra o país, mas destacou que, caso isso ocorra, decretará lei marcial
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky afirmou que pode romper os laços diplomáticos com a Rússia, depois que Moscou decidiu reconhecer a independência de duas regiões controladas por separatistas no Leste do país, na segunda-feira. Após reunião, em Kiev, com o líder da Estônia, Alan Karis, Zelensky afirmou que o pedido foi feito por seu Ministério das Relações Exteriores, mas não sinalizou se vai atendê-lo ou não.
"Vou considerar essa questão do rompimento das relações diplomáticas entre a Ucrânia e a Federação Russa. Imediatamente após esta coletiva de imprensa eu analisarei essa questão", disse Zelensky. Em resposta, o Kremlin afirmou que tal ação apenas agravaria a crise entre os dois países.
O líder ucraniano repetiu um apelo feito horas antes, quando, em mensagem de vídeo publicada em sua conta no Telegram, pediu que seus aliados internacionais dessem "passos claros e eficazes", e que é a hora de ver "quem é nosso verdadeiro amigo e parceiro e quem continuará a assustar a Federação Russa com palavras".
Nesta terça, ele defendeu que sanções sejam aplicadas imediatamente pela Europa e EUA, mencionando explicitamente o gasoduto Nord Stream 2, que liga a Rússia à Alemanha através do Mar Báltico — pouco depois do pedido, o governo alemão anunciou a suspensão do processo de certificação da obra, que já está concluída.
Zelensky ainda comentou sobre a suposta presença de militares russos em seu território — além de anunciar o reconhecimento das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk (RPD) e de Luhansk (RPL), Vladimir Putin autorizou o envio de uma "missão de paz" às regiões, embora sem estabelecer quais seriam as extensões dos territórios que seriam defendidos por suas tropas. O líder ucraniano seguiu a linha que vem adotando desde o início da crise, a de não acreditar em uma "guerra total", mas sinalizou que tem planos para tal cenário.
"Não creio em uma guerra poderosa contra a Ucrânia, e não haverá uma escalada de grande porte vinda da Federação Russa. E, se houver, vamos introduzir a lei marcial", declarou Zelensky.
A lei marcial foi adotada por 30 dias na Ucrânia em 2018, em 10 regiões, após um incidente em que três embarcações ucranianas foram apreendidas na região do Estreito de Kerch, que dá acesso ao Mar de Azov e é de fato controlado por Moscou desde 2014. A principal medida da lei marcial, duramente criticada pelo Kremlin, foi o veto à entrada de homens russos, entre 16 e 60 anos, no país.
Já o ministro da Defesa ucraniano, Oleksiy Reznikov, preferiu adotar um tom mais sombrio: em uma emocionada mensagem publicada na página do ministério, sinalizou que suas Forças Armadas precisam estar preparadas para a guerra.
"O Kremlin deu mais um passo para o renascimento da União Soviética. Com um novo Pacto de Varsóvia e um novo Muro de Berlim. A única coisa que o impede é a Ucrânia e o exército ucraniano", escreveu Reznikov. "Há desafios difíceis pela frente. Haverá perdas. Teremos que passar pela dor, superar o medo e o desespero."
Ao final, diz que o "povo apoia o exército ucraniano", e afirma que "com certeza vamos vencer".
Nesta terça-feira, a Gazpromtrans, subsidiária da gigante russa Gazprom responsável pelo envio de gás por via férrea, anunciou que iria suspender os envios para a Ucrânia, citando a crise de segurança no país, e apontando para "possíveis riscos aos vagões de propriedade da Gazpromtrans". A suspensão é por tempo indeterminado.
Segundo analistas, o impacto dessa medida deve ser pequeno, uma vez que a empresa é responsável por cumprir encomendas com entrega imediata, pouco requisitadas neste período do ano — de acordo com os dados da Refinitiv Eikon, a Gazpromtrans enviou, em 2021, 64 mil toneladas de gás liquefeito de petróleo para Ucrânia, pouco mais de 10% do total enviado pela Rússia ao país no ano passado.