No dia 20 de janeiro de 2021, o democrata Joe Biden proferiu, com uma Bíblia de sua família na mão, o juramento de posse como presidente dos Estados Unidos. Em seguida, fez um discurso em frente ao prédio do Capitólio prometendo duas coisas principais: unificar o país e combater a pandemia de Covid. Convidados assistiram ao evento em cadeiras afastadas umas das outras, seguindo as regras de distanciamento social, enquanto 25 mil integrantes da Guarda Nacional cercavam o prédio do Capitólio, que dias antes fora invadido por uma multidão de apoiadores de Donald Trump.
Um ano se passou, e as duas grandes promessas de Biden ainda não foram cumpridas. O governo que completará um ano nesta quinta, 20, ainda não foi capaz de unificar o país ou de derrotar a pandemia. O presidente ainda está enfraquecido, aprovado por apenas 42% dos americanos. É pouco mais do que os 39% que Trump tinha quando completou seu primeiro aniversário no cargo. Para aumentar o desânimo, seu Partido Democrata tem boas chances de perder a maioria na Câmara dos Deputados e do Senado nas eleições legislativas do final deste ano.
“ Nós podemos superar este vírus letal “, prometeu Biden em seu discurso inaugural. Até aquele dia, os Estados Unidos tinham registrado 400 mil mortes por coronavírus. O total de óbitos mais do que dobrou em doze meses e já ultrapassa 850 mil. No dia 4 de julho, que marca a independência americana, Biden prometeu avançar com a vacinação para que o país conseguisse declarar sua independência do vírus. Foi uma declaração prematura. O número de americanos internados com coronavírus atualmente é o maior desde o início da pandemia.
A incapacidade em derrotar o vírus é um dos fatores que mais têm jogado para baixo a popularidade do presidente. Segundo o instituto de pesquisas da Universidade Quinnipiac, apenas 39% dos americanos aprovam o trabalho que Biden tem feito na área, enquanto 55% desaprovam.
Mas o fracasso no combate à pandemia tem raízes mais amplas. As variantes Delta e Ômicron frustraram as expectativas de que a pandemia estava a caminho de acabar em todo o mundo. Além disso, a polarização da sociedade americana inviabilizou uma imunização mais efetiva. A maior parte dos não vacinados que precisam ser internados após contágio é de eleitores de Donald Trump, os quais também acham que a eleição de 2020 foi fraudada.
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A polarização, um mal que Biden tinha prometido sanar, não sumiu num passe de mágica, até porque o presidente às vezes contribui para o seu acirramento. Nos últimos meses, Biden rotulou esta pandemia como a dos “ não vacinados “, comportamento que retoma a retórica do “ nós contra eles ” dos tempos de Trump. A pesquisa da Quinnipiac também mostra que 49% dos americanos acham que Biden está fazendo mais para dividir o país, enquanto 42% afirmam que ele está se esforçando mais para unir o país.
A polarização também pode ser vista no Senado, que está dividido entre 50 democratas e 50 republicanos, com a vice-presidente Kamala Harris dando o voto de Minerva. Biden se gabava de que seus 36 anos servindo como senador o ajudaria a fazer a casa avançar em novas leis. Ao negociar com republicanos, ele conseguiu aprovar um programa de infraestrutura de 1,2 trilhão de dólares. Com esse dinheiro todo, cerca de 15 mil pontes de estradas serão reparadas.
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Mas o presidente não conseguiu avançar em um programa ainda mais gigantesco, de 3 trilhões de dólares, que pouca gente sabe resumir para que serviria. A coisa não foi adiante porque um senador democrata, Joe Manchin, entendeu que o gasto excessivo poderia aquecer ainda mais a inflação. Biden também não foi capaz de prosseguir com uma reforma de direitos de voto, que decretaria feriado nacional no dia da eleição e ampliaria os votos pelo correio. Nesta quarta, 19, dois senadores democratas se mostraram contrários à reforma, o que inviabilizaria a lei. “ A polarização está muito fincada no Senado. Mesmo assuntos que antes contavam com aprovação em ambos os partidos, como a reforma para ampliar os direitos de voto, agora enfrentam resistência “, diz a cientista política Lilly Goren, que dá aulas sobre presidentes americanos na Universidade de Wisconsin. “ Neste momento, a única forma de que essa reforma siga adiante é que todos os senadores democratas votem a favor, uma vez que todos os republicanos vão votar contra .”
No ano que vem, o presidente encontrará ainda mais resistência na casa. Com 71% dos americanos acreditando que o país vai na direção incorreta, os democratas têm grandes chances de perder a maioria na Câmara dos Deputados e, possivelmente, no Senado.
Desemprego em baixa, inflação em alta
A economia é a área em que Biden mais teria a comemorar. O desemprego caiu para 3,9% , o que é pouco acima da situação antes da pandemia. O PIB cresceu invejáveis 7% no último trimestre.
O que causa consternação é a inflação, que foi de 7% no ano passado, um patamar a que os americanos não estão acostumados. Para quem tem menos de 40 anos, trata-se de um fenômeno totalmente novo. Atualmente, a maior preocupação dos americanos é com o aumento de preços. A segunda é com a desvalorização dos salários, o que é outra maneira de ver o mesmo problema.
Os ciclos eleitorais americanos ensinam que, quando a economia vai bem, o presidente em exercício consegue a reeleição. Mas não há garantia de que essa regra funcionaria com Biden. “ As pessoas vão ao supermercado, espantam-se porque o preço das coisas subiu e reclamam do presidente. Minha impressão é a de que, mesmo que Biden conquiste algumas coisas, os americanos vão continuar entendendo que não foi suficiente .”