O polemista de ultradireita Éric Zemmour confirmou nesta terça-feira que concorrerá à Presidência da França em abril de 2022. Após meses de preparativos, o admirador do ex-presidente americano Donald Trump anunciou sua candidatura em um vídeo divulgado nas redes sociais, dizendo que quer salvar o país da decadência e das "minorias que oprimem a maioria".
A confirmação vem em um momento particularmente ruim para o ultraconservador que, desde setembro, estava em campanha como pré-candidato. Há apenas algumas semanas apontado pelas pesquisas como o favorito para enfrentar o presidente Emmanuel Macron no segundo turno, ele vê sua popularidade cair após uma série de controvérsias.
Sua candidatura, ainda assim, acentua a relevância do pleito francês como um barômetro da extrema direita europeia, que vem perdendo força em países como a Alemanha e Itália após a ascensão na última década. Zemmour, condenado várias vezes por incitar a discriminação racial e religiosa, testa os limites da retórica considerada aceitável, posicionando-se ainda mais à direita da candidata de extrema direita, Marine Le Pen.
"Este não é o momento de reformar a França, mas de salvá-la", disse o ex-jornalista, que já foi condenado por incitar crimes de ódio. "Por isso, decidi pedir o voto de vocês para me tornar presidente da República. Para que nossos filhos e netos não conheçam a barbárie, para que nossas filhas não usem véu e para que nossos filhos não sejam submissos. Para que possamos entregar a eles a França tal qual recebemos de nossos antepassados."
O anúncio formal da candidatura de Zemmour era um passo esperado da campanha. Agora, ele precisará buscar a assinatura de 500 pessoas eleitas para cargos nacionais e locais, um passo previsto pela lei francesa para quem almeja chegar ao Eliseu.
'Terceiromundização' da França
O vídeo da candidatura mescla a voz do político com imagens de violência, mulheres islâmicas com véus e homens negros que contrastam com cenas nostálgicas do passado. Entre elas, imagens e referências a Napoleão Bonaparte, Joana D’Arc, Luis XIV e Victor Hugo.
Ao invés de falar para câmera, Zemmour leu de um script, sentado em uma biblioteca antiga e com um microfone de rádio. A escolha foi pensada como uma referência a 18 de julho de 1940, quando o general Charles de Gaulle entrou ao vivo na rádio BBC, de Londres, para convocar a resistência francesa contra os ocupantes nazistas.
"Não é mais hora de reformar a França, mas de salvá-la", disse Zemmour, lamentando o que diz ser a “terceiromundização” da França e o “Islamoesquerdismo”. "Esse país que vocês amam está em processo de desaparecer (...). Imigração não é a fonte de todos os nossos problemas, mas piora todos eles."
O candidato não é um político profissional: até setembro tinha um programa diário de comentários no canal de TV conservador CNews, uma plataforma para provocações que lhe rendem horas de cobertura da imprensa. Entre elas, por exemplo, a reivindicação de que Philippe Pétain, líder francês que colaborou com a Alemanha nazista durante a Segunda Guerra, protegeu judeus.
Em outra ocasião, durante uma visita a uma feira de armas, fez parecer que apontava um rifle para jornalistas. Mais cedo neste mês, foi a julgamento novamente por ter chamado, em seu programa de televisão, crianças imigrantes desacompanhadas de “ladras”, “assassinas” e “estupradoras”.
"Por muito tempo, estive contente com meu trabalho como jornalista, mas eu não confio mais que um político vai ter a coragem de salvar este país do destino trágico que o espera", afirmou. "Devemos entregar novamente o poder ao povo, tirá-lo das minorias que oprimem a maioria."