KENOSHA - Pai e filha flagrados com fuzis em um pequeno protesto contra a absolvição do jovem branco Kyle Rittenhouse, que matou a tiros dois ativistas do movimento Black Lives Matter e feriu um terceiro durante ato antirracismo, foram "proteger os manifestantes" na cidade americana de Kenosha.
Erick Jordan, de 50 anos, e a filha Jade, 16, foram fotografados empunhando rifles AR-15 durante marcha que reuniu cerca de 75 pessoas neste domingo. O grupo protestava contra a decisão de inocentar na sexta-feira Rittenshouse de todas as acusações contra ele. Jurados do estado de Wisconsin entenderam que o jovem agiu em "legítima defesa" ao balear três homens quando caminhava ao lado de uma milícia armada em agosto do ano passado.
"Nós apenas fazemos segurança para grupos diferentes. Estamos fazendo um favor para eles (manifestantes)", disse Jordan ao portal americano New York Post. Ele afirmou ainda que foi convidado para realizar a proteção dos participantes.
Desde a absolvição, uma série de protestos irromperam as ruas de várias cidades americanas. Após o julgamento que polarizou o país, foram registrados atos em locais como Portland, Chicago, Nova York e Columbus, segundo o New York Times.
Rittenhouse estava em julgamento por cinco acusações: duas de homicídio, uma de tentativa de homicídio e duas de pôr em risco a segurança dos demais cidadãos. Se fossem confirmadas, ele poderia ter sido condenado à perpétua. Ao receber a absolvição, Rittenhouse, de 18 anos — mas com 17 à época —, começou a chorar no plenário. O processo polarizou a opinião pública dos EUA e deve ter repercussões no debate sobre o racismo e direito às armas na sociedade americana.
O caso
Rittenhouse se juntou a milícias armadas na noite de 25 de agosto durante protestos contra o racismo, impulsionados pelo caso de um homem negro, Jacob Blake, que foi baleado sete vezes nas costas por policiais e ficou paralisado da cintura para baixo. O caso de Blake ainda ocorreu em meio ao movimento nacional antirracismo, iniciado após o assassinato de George Floyd, um homem negro, por um policial branco em Minneapolis.
Na ocasião, junto de Rittenhouse estavam pessoas vestidas com roupas camufladas e carregando rifles com munição amarrada ao peito, o que é legal para adultos em Wisconsin. A defesa de Rittenhouse alega que ele era um adolescente "marcado pelo civismo" que foi a Kenosha junto de outras pessoas portando armas de grosso calibre para proteger "propriedades privadas".
Imagens gravadas naquela noite mostraram Rittenhouse circulando pela região oferecendo assistência médica a manifestantes. Pouco antes da meia-noite, ele foi perseguido até o estacionamento de uma concessionária de automóveis por uma das vítimas, Joseph Rosenbaum, que havia se juntado à multidão no centro da cidade.
Um homem próximo disparou uma arma para o ar, e, assim que Rittenhouse se movimentou na direção dos tiros, Rosenbaum lançou-se contra ele. Rittenhouse disparou quatro vezes, atirando na cabeça de Rosenbaum, como mostram as imagens.
Rittenhouse, então, fugiu com pelo menos uma dúzia de membros da multidão perseguindo-o. Momentos depois, Rittenhouse tropeçou e caiu, atirando na sequência em mais duas pessoas que o perseguiam, Anthony Huber — que também morreu — e Gaige Grosskreutz. Na sequência, veículos da polícia chegaram, e Rittenhouse caminhou na direção das viaturas com os braços levantados, mas os agentes passaram por ele, tentando chegar às pessoas baleadas.
O caso reacendeu a discussão sobre uma profunda divisão nos EUA em relação ao porte de armas e ao limite da legítima defesa. Enquanto alguns condenaram Rittenhouse como um justiceiro, outros o classificaram como um herói que exerceu seus direitos previstos na Segunda Emenda da Constituição americana, que garante o direito da população de se defender, inclusive pelo porte de armas de fogo.
Na ocasião, Rittenhouse carregava uma arma que, segundo autoridades, fora comprada ilegalmente para o jovem menor de idade — o equipamento teria sido adquirido por um amigo. Rittenhouse chegara a ser acusado por porte de arma perigosa por uma pessoa menor de 18 anos. No entanto, o juiz rejeitou a acusação antes das deliberações do júri, após a defesa ter argumentado que a lei de Wisconsin não se aplicava ao rifle usado pelo atirador.