Jean Negot Delva, chefe do Escritório Nacional de Migração do Haiti
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Jean Negot Delva, chefe do Escritório Nacional de Migração do Haiti



Os Estados Unidos começaram, no domingo, a deportação de 14 mil haitianos que chegaram ao país nas últimas semanas. Eles serão enviados de volta ao Haiti em pelo menos três voos diários nas próximas semanas. Desde sexta-feira, autoridades dos EUA repatriaram 435 imigrantes que estavam acampados de maneira provisória na cidade de Del Rio, no Texas, onde chegaram a ser colocados debaixo de uma ponte, e anunciaram uma nova programação diária de voos para a capital haitiana, Porto Príncipe.

Enquanto os deportados protestavam ao chegar a Porto Príncipe, autoridades de migração do Haiti pedem aos Estados Unidos uma “moratória humanitária” e dizem que o país não tem capacidade para receber os cidadãos de volta.

Um quarto voo pousou na manhã desta segunda-feira em Porto Príncipe.  No domingo, os três primeiros voos chegaram ao Haiti transportando 327 imigrantes. Na chegada, alguns disseram que não haviam sido informados sobre para onde estavam sendo levados.  Muitos já estão planejando voltar para o Chile ou para a República Dominicana, de onde a maioria iniciou suas viagens rumo aos EUA.

Autoridades haitianas expressaram preocupação pelo alto fluxo de imigrantes que serão devolvidos ao país.

"Eles não aceitam o retorno forçado", afirmou o chefe do Escritório Nacional de Migração do Haiti, Jean Negot Bonheur Delva. "O Estado haitiano não é realmente capaz de receber esses deportados.  Estou pedindo uma moratória humanitária. A situação é muito difícil. Teremos o suficiente para alimentar essas pessoas?", questionou. 

Delva disse esperar que cerca de 14 mil haitianos sejam expulsos dos Estados Unidos nas próximas três semanas. A maioria deles vive provisoriamente debaixo da ponte que liga Del Rio a Ciudad Acuña, no México. Nesta segunda-feira, centenas deixaram o local rumo ao México, temendo ser deportados. Na noite de domingo, pelo menos 100 haitianos, incluindo famílias com crianças pequenas, atravessaram a fronteira de volta para o México.

No Texas, Rolin Petit Homme, um haitiano de 35 anos que acampava sob a ponte, diz que agora tentará sobreviver no México em vez de voltar para casa."Não há segurança no Haiti e não há trabalho", disse.

O chefe da patrulha de fronteira dos EUA, Raul Ortiz, disse, em uma entrevista a jornalistas nesta segunda-feira, que, na próxima semana, o governo pretende processar “rapidamente” os 12.662 migrantes que ainda estão ali.


Protestos na volta


No Haiti, os recém-retornados se aglomeraram em torno de uma tenda branca, atordoados e exaustos enquanto esperavam. Vários deles disseram terem sido algemados pelos pulsos, tornozelos e na cintura durante o vôo.

Após o processamento, os imigrantes receberam recipientes de isopor com uma refeição de arroz e feijão. O governo planejou dar a eles o equivalente a US$ 100.

"Não vou ficar no Haiti", disse Elène Jean-Baptiste, 28 anos, que viajou com seu filho de 3 anos, que nasceu no Chile e tem passaporte chileno, e seu marido, Stevenson Sylvain.

Como ela, muitos fugiram do Haiti há mais de uma década, após a devastação causada pelo terremoto de 2010. A maioria foi para a América do Sul, na esperança de encontrar empregos e reconstruir a vida em países como o Chile e Brasil. Com a pandemia e a chegada do presidente americano, Joe Biden, ao poder, muitos deles migraram em massa para o Norte do continente americano em busca de melhores condições de vida.

No sábado, o primeiro-ministro interino do Haiti, Ariel Henry, havia dito que “estão sendo feitos preparativos” para receber os cidadãos que estavam sendo devolvidos à nação caribenha. O país, no entanto, vive uma grave crise política, sanitária e econômica após o assassinato do presidente Jovenel Moïse, no começo de julho e um terremoto, no mês seguinte, que deixou mais de  mil mortos.

“Compartilho seu sofrimento e lhes dou as boas-vindas ao seu lar”, escreveu Henry no Twitter, pedindo que os deportados “deem uma chance ao país” e evitem que seus compatriotas continuem a experimentar esse tipo de “humilhação”.

No domingo, Alejandro Mayorkas, chefe do Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS), confirmou que os voos de deportação seriam diários, para o Haiti ou “possivelmente para outros países”.

"O governo haitiano nos comunicou muito claramente sobre a capacidade de receber os voos", garantiu Mayorkas, ressaltando que governo dos EUA está fornecendo financiamento para ajudar o país.  — Não temos escolha neste momento a não ser aumentar os voos de repatriação.

O aumento do fluxo da fronteira começou ainda antes da posse de Biden, que prometeu na campanha revogar medidas do seu antecessor, Donald Trump, como o programa que devolvia imigrantes ao México para que eles esperassem lá o exame dos seus pedidos de refúgio. A mudança de governo criou uma expectativa de acolhimento que fez aumentar o número de pessoas, em especial centro-americanos, que cruzam o México para chegar à fronteira dos EUA.

No início de agosto, diante da onda migratória, o governo Biden decidiu manter em vigor uma controversa medida de saúde pública herdada de Trump, que permitiu ao governo expulsar sumariamente centenas de milhares de imigrantes nos últimos meses em meio à pandemia. Nesta quinta-feira, no entanto, um juiz do Texas decidiu que Washington não pode utilizar mais essa medida. O governo tem 14 dias para recorrer.

*Com Agências Internacionais 

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