Enquanto potências ocidentais prometem não reconhecer o governo do Talibã no Afeganistão, China e Rússia indicaram nesta segunda-feira (16) que vão dialogar com o grupo fundamentalista islâmico, ocupando o vácuo deixado pela retirada dos Estados Unidos.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Hua Chunying, afirmou que Pequim está disposta a desenvolver "relações amigáveis" com o Talibã e "respeita o direito do povo afegão de determinar o próprio futuro de modo independente".
De acordo com Hua, a China quer ter um "papel construtivo na paz e na reconstrução do Afeganistão". "Esperamos que os talibãs e todos os partidos e grupos étnicos possam criar uma estrutura para o Afeganistão, colocando as bases para a paz", acrescentou o governo chinês, acusado de perseguir a minoria muçulmana uigure em Xinjiang, que faz fronteira com o território afegão.
"Os talibãs nunca permitirão que nenhuma força use seu território para colocar a China em perigo", declarou Hua.
Rússia
Já o enviado russo para o Afeganistão, Zamir Kabulov, disse que o embaixador de Moscou em Cabul, Dmitry Zhirnov, já está em contato com representantes do Talibã, com quem vai se encontrar pessoalmente nesta terça-feira (17).
"Supreendentemente, a situação está em perfeita calma, as forças dos talibãs entraram tranquilamente em Cabul", declarou Kabulov, acrescentando que o grupo é sustentado financeiramente por fundações islâmicas do Golfo Pérsico.
Além disso, o embaixador Zhirnov disse que o Talibã prometeu construir um Afeganistão "civilizado, livre do terrorismo e do tráfico de drogas". "Com base nesses princípios, vamos decidir nossa linha [se reconhecer ou não o regime], mas precisamos esperar, os talibãs entraram na cidade [Cabul] apenas ontem", acrescentou.
O grupo fundamentalista islâmico já governou o Afeganistão de 1996 a 2001, quando foi derrubado pela invasão americana deflagrada pelos atentados de 11 de setembro.
No entanto, apesar de 20 anos de ocupação, os EUA não conseguiram derrotar o Talibã, que reassumiu o controle do país apenas algumas semanas depois da retirada militar americana e da Otan.
O grupo prega a aplicação radical da Sharia, a lei islâmica, especialmente contra as mulheres, que sob o regime do Talibã não podiam estudar e sequer sair de casa sem a companhia de um parente homem.
No último fim de semana, um porta-voz do grupo prometeu "respeitar os direitos das mulheres" e permitir seu acesso à educação, mas essa versão "moderada" do Talibã ainda é vista com ceticismo no mundo.