O procurador José Domingo Pérez, membro da força-especial Lava Jato do Peru, pediu à Justiça nesta quarta-feira a prisão preventiva de Keiko Fujimori, candidata à Presidência do Peru que, na quarta, lançou uma ofensiva judicial para tentar reverter sua derrota. Segundo Pérez, a filha do ex-didator Alberto Fujimori (1990-2000) não vem cumprindo os termos de sua liberdade condicional.
De acordo com o pedido do procurador, feito ao juiz Víctor Zúñiga Urday, Keiko vem descumprindo as regras impostas em 2020, quando foi solta sob liberdade condicional, ao se comunicar com testemunhas do processo em que é acusada de receber financiamentos ilícitos de campanha.
Segundo o jornal La República, o magistrado deverá marcar nas próximas horas uma audiência para avaliar o pedido de Pérez. A candidata ainda não fez nenhum comentário oficial sobre o assunto.
"Determinou-se novamente que a acusada descumpriu a restrição de não se comunicar com as testemunhas. Foi noticiado como algo público e notório que se comunica com a testemunha Miguel Torres Morales", diz a petição.
O procurador aponta como prova o fato de que Torres Morales foi apresentado na declaração que Keiko fez à imprensa na quarta-feira como um dos advogados e porta-vozes jurídicos de seu partido, o Força Popular. A notificação de que ele teria sido convocado como testemunha do processo teria sido emitida no último dia 4. Além disso, ele já teria cido citado na investigação em setembro do ano passado.
Entre as provas anexadas por Pérez, há imagens de Torres Morales na quarta-feira, perto de Fujimori. Durante o evento, ela anunciou que pediria a anulação de 200 mil votos onde seu concorrente pela Presidência do Peru, Pedro Castillo, obteve grande votação, alegando ter sido vítima de fraude.
Observadores e autoridades eleitorais peruanas, no entanto, atestam a lisura da eleição. Na manhã desta quinta, com 99,1% das atas contabilizadas, Castillo tem 50,2% dos votos válidos, contra 49,8% de sua adversária, uma diferença de 71.441 votos — que, para alguns analistas e o próprio sindicalista, é irreversível.
De acordo com o procurador, esta não foi a única ocasião que a candidata descumpriu a regra, afirmando que suas violações à proibição de não falar com testeminhas são "sistemáticas".
Uma parlamentar de longa data, Keiko foi presa em 2019 e 2020 no âmbito de investigações ligadas à atuação da Odebrecht no Peru. A chamada Lava-Jato peruana apura o pagamento de vantagens indevidas — já admitido pela construtora brasileira — a dirigentes políticos do país sul-americano em troca de favores e benefícios em contratos públicos.
Keiko foi acusada de receber fundos ilegais para a sua campanha durante a disputa presidencial de 2011, e saiu da prisão preventiva no ano passado. Ela negou diversas vezes ter cometido qualquer delito.
Em março, após dois anos e cinco meses de investigação, Pérez havia apresentado uma denúncia formal contra Keiko, ausando-a de lavagem de dinheiro, organização criminosa, obstrução de Justiça e falso testemunho. O Ministério Público peruano pede uma sentença total de 30 anos e 10 meses de prisão contra a líder do partido Força Popular.
Além de Keiko, a Força Popular também é citada no processo, conhecido como Caso Coctéles. Se o juiz decidir pela condenação, o partido pode ser dissolvido. O promotor também pediu a prisão de outras 41 pessoas citadas na investigação, incluindo Mark Vito Villanella, marido de Keiko, que pode ser condenado a até 22 anos e 8 meses de prisão.
À época, Pérez pediu também 19 medidas cautelares contra a filha do ex-ditador Alberto Fujimori, que está preso após ter sido condenado por corrupção e crimes contra a Humanidade enquanto esteve à frente do Peru. Entre elas, a proibição de sair do país por 36 meses, tempo que o Ministério Público considera necessário até o julgamento ser concluído, e a proibição da comunicação dos acusados com deputados, magistrados, funcionários de órgãos eleitorais, entre outros.
Quando a denúncia foi apresentada, Keiko disse que tratava-se de uma tentativa de prejudicar sua campanha à Presidência.