Incêndios em estações de transporte, bloqueios de estradas, repressão policial, 24 mortos , 89 desaparecidos e pelo menos 350 feridos. Esse é o saldo, até essa quinta-feira (6), da onda de manifestações que acontece na Colômbia há 8 dias . Os atos começaram com a insatisfação popular motivada pelo anúncio de um projeto de reforma tributária enviada pelo presidente Ivan Duque ao Congresso no dia 15 de abril.
A proposta do governo da quarta maior economia da América Latina prevê o aumento da arrecadação do imposto de renda e de impostos sobre serviços básicos e IVA. No dia 28 de abril, sindicatos, movimentos sociais, setores econômicos e a classe média colombiana decidiram sair às ruas, principalmente em Cali, epicentro do embate entre civis e forças de segurança.
No último sábado (1º), Duque ordenou a militarização das cidades “onde há alto risco para a integridade dos cidadãos”. A medida foi rejeitada pela prefeita de Bogotá, Claudia López. O mesmo fez o prefeito de Medellín, Daniel Quintero Calle, afirmando que a cidade “não solicitará assistência militar” e agradeceu ao Exército por acompanhar “as tarefas de proteção da infraestrutura crítica nas periferias e áreas rurais da cidade”.
No dia seguinte (2), sob pressão popular, o presidente chegou a anunciar a retirada do projeto que estava em tramitação no Parlamento, causando a renúncia do ministro da Fazenda, Alberto Carrasquilla. Não foi suficiente. As manifestações, liderada majoritariamente por jovens, seguiram e ganharam novos contornos, ao passo que a repressão policial também se acirrou.
Nos últimos dias, os protestos passaram a reivindicar ações governamentais de combate à pobreza no país. Manifestantes também pedem o fim da brutalidade policial, melhoras em setores como saúde e educação e a renúncia de Duque.
Impulsionada pela pandemia, a pobreza no país alcançou 42,5% da população. A desigualdade cresceu em níveis alarmantes, com a população em extrema pobreza chegando a marca de 2,8 milhões em 2020.
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Brutalidade policial e manifestação de órgãos internacionais
Cenas de brutalidade têm sido veiculada por civis nas redes sociais ao longo destes últimos dias. No Twitter, os termos Colômbia e #SOSColombia chegaram aos trending topics.
Organizações de direitos humanos do país falam em pelo menos 1.181 casos de violência policial entre os dias 18 de abril e 6 de maio, além de 24 mortos, 89 desaparecidos, 350 feridos e 761 detenções "arbitrárias" por parte das forças estatais. O governo de Ivan Duque, porém, reconhece apenas as mortes de um civil e de um policial.
A brutalidade chamou a atenção da comunidade internacional. Na terça-feira (2), Marta Hurtado, porta voz da alta comissária para os Direitos Humanos da ONU
, condenou as agências de segurança colombianas de uso excessivo da força.
"Estamos profundamente alarmados com os acontecimentos durante a noite na cidade de Cali, na Colômbia, onde a polícia abriu fogo contra os manifestantes que protestavam contra as reformas tributárias", disse em entrevista em Genebra.
Até mesmo o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden , manifestou preocupação com a tensão vivida no país, pedindo "máxima moderação às forças públicas para evitar mais perdas de vidas". Ele acrescentou, ainda, que Washington continua apoiando o governo em "seus esforços para fazer frente à situação atual mediante o diálogo político".
Em defesa das práticas repressivas, o ministro da Defesa da Colômbia, Diego Molano, disse que grupos armados "criminosos" estão agindo pela violência nos protestos. Segundo ele, as forças de segurança devem ser "implacáveis" para com os manifestantes que cometem atos de vandalismo.
Pelas redes sociais, Duque afirma que "organizações criminosas se escondem atrás de protestos legítimos". Nesta quarta-feira (5), quando Bogotá registrou mais um protesto violento, o presidente colombiano afirmou que a capital "sofre o ataque do crime organizado" e pediu "todo o peso da lei para àqueles que persistem na violência".