Alberto Fernández
Reprodução/Twitter/alferdez
"Transmitam ao presidente Jair Bolsonaro o meu respeito e o meu apreço para trabalharmos juntos", disse Alberto Fernández

O presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández , recebeu nesta quinta-feira uma delegação de deputados brasileiros liderada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Fernández estava acompanhado por Felipe Solá e Daniel Scioli, que apresentou, respectivamente, como seu futuro chanceler e o futuro embaixador no Brasil.

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Por meio de Maia, Fernández enviou uma mensagem ao presidente Jair Bolsonaro, que já anunciou que não comparecerá à posse do argentino , no próximo dia 10.

— Se nos respeitamos, é mais fácil conviver. Transmitam ao presidente Jair Bolsonaro o meu respeito e o meu apreço para trabalharmos juntos — disse Fernández. — Temos um destino em comum. Temos que cuidar para que nenhuma conjuntura altere nossa relação. O Brasil é um irmão com outro idioma.

O presidente eleito disse que seu primeiro gesto é enviar como embaixador "alguém muito apreciado por mim", numa referência ao ex-governador da província de Buenos Aires. Considerado moderado e conciliador, Scioli foi vice-presidente de Néstor Kirchner de 2003 a 2007.

Diplomacia parlamentar

A reunião não estava prevista, conta o jornal Valor. Maia viajou à Argentina acompanhado pelos parlamentares Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e Paulo Pimenta (PT-RS) para se encontrar com o peronista Sergio Massa, eleito deputado e que deverá comandar a Câmara argentina. Depois da reunião com Massa, ele foi convidado a conhecer o presidente eleito.

No encontro, Fernández destacou que "a integração é a melhor ferramenta para enfrentar a globalização, como no recente tema da taxação do aço", numa referência ao anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, de que vai retomar as tarifas ao aço e ao alumínio de Brasil e Argentina .

Maia, por sua vez, disse que o presidente Bolsonaro foi  informado sobre a visita e disse que espera que haja uma boa relação entre os dois governos:

— Estamos felizes de trabalhar com a Argentina e de aproximar os governos para ter mais força para enfrentar os desafios da economia mundial.

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O presidente da Câmara definiu a viagem como uma visita de cortesia, para mostrar a importância que tem a Argentina para o Parlamento brasileiro.

— Numa democracia o mais importante é olhar um país vizinho, vendo que a democracia é forte, que a população decidiu pela eleição do presidente Alberto e que precisamos respeitar e trabalhar em conjunto, independente de divergências ideológicas — disse, defendendo que "os embates ideológicos fiquem fora da agenda principal".

Em entrevista ao jornal Clarín depois do encontro, o futuro embaixador no Brasil disse que seu objetivo será "aprofundar as coincidências" com o governo Bolsonaro e deixar as diferenças para trás.

— Os desencontros têm que ficar para trás e é preciso dar prioridade à relação estratégica com o Brasil. Temos que dar prioridade a uma agenda de desenvolvimento que não é apenas comercial, que vai além de importações e exportações, e inclui o fluxo turístico, a agenda cultural, ciência e tecnologia, a cooperação nuclear — disse Daniel Scioli.

A comitiva brasileira era composta ainda por Baleia Rossi (MDB-SP), Elmar Nascimento (DEM-BA), Orlando Silva (PCdoB-SP),  Sérgio França Danese, embaixador do Brasil na Argentina, e  Marcelo Dantas, assessor de Relações Internacionais  de Maia. Na visita, o presidente da Câmara brasileira destacou a importância da "diplomacia parlamentar".

De acordo com o argentino La Nación, a ideia era aproximar posições depois de atritos entre Bolsonaro e Fernández. O presidente brasileiro torcia pela reeleição do presidente Mauricio Macri, de centro-direita, que perdeu para o peronista Fernández, em 27 de outubro. Na ocasião, o presidente brasileiro afirmou que " os argentinos escolheram mal " e, irritado com a defesa pública da libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva feita pelo presidente eleito, negou-se a parabenizá-lo.

Fernández havia visitado Lula quando o ex-presidente brasileiro estava preso em Curitiba. E na noite da vitória, o argentino postou uma foto desejando feliz aniversário a Lula e fazendo um "L" com os dedos.

— Agora, não vou à posse de um cara que se elege falando Lula Livre, não vou — declarou Bolsonaro na ocasião.

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Bolsonaro e Fernández apresentam diferenças ainda em outras questões. O argentino, por exemplo, já demonstrou reservas em relação ao acordo do Mercosul com a União Europeia. A Argentina é terceiro maior parceiro comercial do Brasil, depois de China e Estados Unidos, e o maior comprador de produtos industriais brasileiros, embora o comércio bilateral esteja sofrendo com a desaceleração do crescimento nos dois países.

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