A capital do Chile, Santiago, registrou mais um dia de protestos
Reprodução/Twitter Mauro Cruz
A capital do Chile, Santiago, registrou mais um dia de protestos

Parcialmente paralisado por uma greve geral nesta quarta-feira (23), o Chile voltou a registrar episódios de violência na noite passada. Nas últimas 24 horas, foram registradas mais três mortes no país, incluindo um menino de 5 anos , elevando o número total de falecimentos para 18 desde que as manifestações começaram.

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Segundo o balanço do estado de emergência divulgado na manhã desta quarta-feira pelo subsecretário do Interior do Chile , Rodrigo Ubilla, três pessoas falaceram nas últimas 24 horas. Duas delas, inculindo a criança, foram supostamente atropeladas por um motorista aparentemente embrigado na cidade de San Pedro de la Paz, na província de Concepción.

A terceira vítima morreu na cidade de Maipú, em cenário não esclarecido pelo governo. Sua família, no entanto, afirma que ele teria sido agredido por agentes do governo.

Segundo o subsecretário, foram registrados 169 episódios de violência e 54 protestos nas últimas 24 horas, "uma diminuição" quando comparado com os outros dias. Ele disse ainda que 1.571 foram detidas — 592 delas por desrespeitar o toque de recolher.

Ainda assim, acordo com a rádio Bio Bio Chile , durante a madrugada desta quarta-feira, militares teriam realizado disparos a bala em um condomínio na cidade de Los Condes, após serem recebidos com pedradas. Três pessoas teriam sido baleadas.

O Partido Comunista chileno, por sua vez, denunciou "a detenção ilegal e arbitrária" e a perseguição política de membros da Juventude Comunista (JJCC), ala jovem do partido. Segundo a sigla, uma ação policial foi realizada dentro de um edifício sem que houvesse provocações ou violações ao toque de recolher. Foram detidos a porta-voz da Coordenação Nacional de Estudantes Secundários, Valentina Miranda, o responsável pela área estudantil da JJCC, Pablo Ferrada, e a militante Anaís Pulgar.

Greve geral

Na noite de terça-feira,  Piñera apresentou uma série de medidas que pretende adotar para fazer frente às demandas populares — plano que precisa ser aprovado pelo Congresso.
Entre elas, há mudanças e reajustes no sistema de pensões e medidas para elevar o piso salarial. O custo das medidas, segundo o ministro de Finanças do país, seria de US$ 1,2
bilhões de dólares.

Isto, no entanto, não foi suficiente para evitar a greve geral convocada para hoje por movimentos sociais e sindicais em repúdio à decisão de Piñera de colocar o país sob toque
de recolher e estado de emergência — algo que colocou os militares na rua sob a justificativa de apaziguar a situação.

"Demandamos que o governo restitua a institucionalidade democrática o que, em primeiro lugar, significa acabar com o estado de emergência e retornar os militares aos seus
quarteis", diz um comunicado divulgado na terça-feira pelas mais de 20 organizações.

Em Santiago, os manifestantes começaram a ocupar pacificamente a Plaza Italia, no centro da cidade, por volta das 11 horas da manhã. Apesar de operações das forças especiais com
bombas de gás e canhões d'água, o ato não foi interrompido.

Segundo o jornal chileno La Nación, trabalhadores dos setores da saúde e da educação e grandes sindicatos portuários e mineradores aderiram às paralisações. A estatal Codelco,
maior produtora mundial de cobre, teve suas atividades parcialmente paralisadas devido à adesão ao movimento. Segundo a Bloomberg, pelo menos três de suas instalações
incentivaram a participação na greve geral.

Ainda assim, em um discurso na Câmara, o ministro do Interior, Andrés Chadwick, disse que o estado de emergência faz parte do estado de direito e o justificou afirmando que o
país enfrenta "uma situação de violência e vandalismo" sem precedentes.

"Não temos nenhuma vontade ou intenção de declarar estados de emergência de forma permanente ou habitual", disse Chadwick. "Ao mesmo tempo, o presidente tem o dever e a
responsabilidade constitucional de cuidar da segurança das pessoas, da ordem pública, de fazer com que a lei seja respeitada e de dar tranquilidade e segurança para as pessoas",
acrescentou.

Questionamentos

A divulgação das identidades e das circunstâncias das mortes no Chile e detenções vem sendo bastante questionada pela imprensa e por organizações defensoras dos direitos
humanos, sob suspeitas de que o governo esteja escondendo a real extensão da violência. Apenas na tarde de terça-feira o Ministério Público chileno divulgou os nomes de 7 das 15
pessoas que haviam morrido até o momento. Entre eles, há dois cidadãos colombianos.

O Instituto Nacional de Direitos Humanos (INDH), um instituto público independente, por sua vez, informou que até terça, 123 pessoas foram feridas por armas de fogo, muitas no olho, e cobrou das autoridades o esclarecimento desses casos, além de denunciar episódios de tortura e detenções ilegais. A organização também alertou para a detenção de 1.601 pessoas nas manifestações, entre elas 210 menores de idade, incluindo crianças, e 343 mulheres.

Em Roma, o  Papa Francisco disse que acompanha "com preocupação" a situação no Chile : "Espero que as manifestações violentas se finalizem através do diálogo, que se realizem esforços para encontrar soluções para a crise e fazer frente às dificuldades, pelo bem de toda a população", disse o pontífice.

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