Milhares de manifestantes voltaram às ruas do Chile nesta segunda-feira (21), horas após o presidente Sebastián Piñera declarar que seu governo "está em guerra contra um inimigo poderoso" . Deste que os protestos ganharam força na sexta-feira, 11 pessoas já perderam suas vidas nos atos mais violentos desde a redemocratização do país.
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No início da tarde, a Plaza Italia, no centro de Santiago, foi tomada por milhares de manifestantes que protestavam pacificamente contra o governo de Piñera. Após algumas horas, policiais tentaram repelir o ato com gás lacrimogêneo e balas de borracha, mas o local continuou tomado pelos protestos . "Fora milicos", gritavam os manifestantes.
Atos também ocorrem em outros pontos da capital e nas cidades de Valparaíso e Concepción, com alguns confrontos entre manifestantes e policiais. Desde que os protestos se intensificaram, na sexta-feira, 239 civis ficaram feridos — oito deles correm risco de vida. O número de presos, até o momento, ultrapassa 2.151.
Estações de metrô voltaram a ser abertas nesta segunda-feira, com longas filas e atrasos consideráveis. Devido aos danos causados pelos protestos que começaram há 72 horas, a operadora metroviária da capital estima que o serviço deverá voltar completamente ao normal antes de março de 2021. Escolas e universidades, como a Universidade do Chile, também anunciaram que suas atividades continuarão suspensas nos próximos dias.
Parte das linhas de ônibus também está nas ruas e poucas lojas estão com as portas abertas, especialmente as de pequeno porte. Grandes redes varejistas continuam fechadas, com medo de novos atos de vandalismo. Em meio ao cenário de incerteza, a bolsa de Santiago registrou queda de 4,61% nesta segunda.
Piñera é criticado pela oposição por em nenhum momento mencionar a possibilidade de diálogo com os manifestantes ou propostas para atender as demandas dos cidadãos nas ruas. Além do já cancelado aumento nas tarifas, dos atuais 800 pesos (R$ 4,63) para 830 pesos (R$ 4,80), a maior alta desde 2010, a população reclama do aumento no custo de vida, das condições dos sistemas de saúde e educação públicos e da desigualdade social crescente.
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Toque de recolher prorrogado
Os protestos voltam a tomar as ruas da cidade na manhã seguinte ao presidente declarar que seu governo " está em guerra ": "Estamos em guerra contra um inimigo poderoso, disposto a usar a violência sem nenhum limite", afirmou. "[Esse inimigo] está disposto a queimar hospitais, metrô, supermercados, com o único propósito de causar o maior dano possível".
O tom duro da declaração do presidente — alvo de pedidos de renúncia — fez com que o chefe da Defesa Nacional, o general Javier Iturriaga, responsável pela implementação do estado de emergência declarado por Piñera na madrugada de sábado, afirmar que “ não está em guerra com ninguém ”.
Nesta segunda-feira, Iturriaga anunciou a prorrogação do toque de recolher decretado no sábado em toda a região metropolitana da capital. Segundo o general, Santiago estará sob toque de recolher das 20h de hoje (21h, horário de Brasília) às 6h de amanhã(7h, horário de Brasília). O toque de recolher na região de Valparaíso continental, segundo o chefe da Defesa Nacional da região, começará às 18h (19h, horário de Brasília), às 6h (7h, horário de Brasília).
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Nesta segunda-feira, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos e ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, disse estar "preocupada e triste ao ver a violência, a destruição, os mortos e os feridos no Chile nos últimos cinco dias". Sem citar diretamente o presidente, ela acrescentou que "o uso de retórica inflamada vai servir apenas para agravar ainda mais a situação, com o risco de gerar medo na população".