Presidente da Turquia, Erdogan
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Presidente da Turquia, Erdogan

No segundo dia da ofensiva militar da Turquia contra militantes curdos no norte da Síria, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ameaçou "enviar 3,6 milhões de migrantes" sírios para a Europa. Os comentários de Erdogan são uma resposta às amplas críticas internacionais aos ataques conduzidos pelo governo turco.

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 — Ei, União Europeia, volte à razão! Volto a repetir: se vocês tentarem apresentar nossa operação como uma invasão, abriremos as portas e enviaremos a vocês 3,6 milhões de migrantes — disse Erdogan , durante um discurso aos seus partidários em Ancara.

Aos seus partidários, o presidente turco disse que as críticas vindas da União Europeia e de potências árabes como a Arábia Saudita e o Egito "não são honestas" e que o fato de Ancara agir para solucionar a Guerra da Síria "é a diferença" entre a Turquia e as outras nações.

Segundo Erdogan, 109 "terroristas" foram mortos durante a ofensiva militar no Nordeste da Síria, que já atingiram 181 alvos. De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, no entanto, haveriam apenas 16 mortos — 10 membros das  Forças Democráticas Sírias (FDS), coalizão de milícias curdas na região, e seis pessoas de identidade desconhecida.

Nas primeiras horas desta quinta-feira (início da noite de quarta, no horário de Brasília), o Ministério de Defesa turco confirmou que seus soldados haviam entrado no território sírio. Os ataques haviam começado na véspera, com seis horas de bombardeios aéreos que fizeram milhares de civis fugir da região. Cidades do lado turco da fronteira também foram atingidas por fogo curdo, em represália — na cidade de Akcakale, a explosão de uma granada em um prédio do governo deixou oito feridos.

 Em seu discurso, o presidente turco disse que o objetivo da operação é permitir que os sírios possam voltar para suas casas. A comunidade internacional, no entanto, teme que os ataques contra as milícias curdas tenham o efeito reverso e acabem fomentando o refortalecimento do Estado Islâmico na região.

A União Europeia e diversos de seus membros, como a Itália, a Alemanha e a França, fizeram apelos públicos para que o governo turco interrompa a incursão militar. A Rússia, por sua vez, se ofereceu para mediar o diálogo entre os governos sírio e turco.

Respondendo a um pedido de emergência realizado por Reino Unido, França, Alemanha, Bélgica e Polônia, o Conselho de Segurança da ONU realizará uma reunião de emergência para discutir o assunto. Em uma carta ao grupo, o governo turco chamou sua ação de "proporcional, comedida e responsável".

Prisioneiros do EI

As FDS, lideradas pelo grupo Unidades de Proteção (YPG), são responsáveis por prisões com milhares de soldados do Estado Islâmico e acampamentos que abrigam seus familiares. Segundo o grupo, os ataques turcos atingiram um destes centros de detenção, que abriga "os criminosos mais perigosos de mais de 60 nacionalidades".

Na manhã desta quinta-feira, em seu Twitter, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que alguns dos militantes do EI mais perigosos sob tutela dos curdos foram retirados da região por forças americanas. O presidente americano havia chamado na quarta-feira a operação de Ancara de uma "má ideia" e ameaçou "destruir e obliterar" a economia turca caso o país faça algo que considere "fora dos limites".

 Apesar das críticas, foi uma ação de Trump que deu o sinal verde para a operação militar. No domingo, após um telefonema com Erdogan, o presidente dos EUA anunciou a retirada dos soldados americanos da região, possibilitando o ataque turco. A decisão americana foi vista como um ato de traição pelos curdos, cujas milícias eram aliadas de Washington no combate ao Estado Islâmico, recebendo auxílio aéreo e treinamentos.

Com o passar dos anos na guerra da Síria, o governo de Bashar al-Assad manteve-se relativamente neutro com relação aos curdos, permitindo uma espécie de autogoverno do grupo no Norte e no Oeste do país. Uma das principais milícias curdas na Síria é o YPG, que se fortaleceu com esta autonomia e lidera o combate ao crescimento do EI na região.

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O governo turco, no entanto, vê o YPG como uma ameaça à sua segurança nacional devido aos seus elos com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). O grupo separatista, considerado uma organização terrorista pela Turquia, está em confronto com Ancara desde 1984. Mais do que uma ameaça militar, o autogoverno curdo na Síria representa um desafio político para Ancara, que teme um fortalecimento do separatismo curdo em seu território.

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