O 25º Foro de São Paulo , realizado em junho em Caracas, na Venezuela, estava longe de seus velhos e áureos tempos quando partidos de esquerda comandavam os governos da maior parte dos países latino-americanos. Hoje, com seus simpatizantes longe do poder, é uma entidade esvaziada que conseguiu público graças à claque do governo venezuelano. O que foi uma das maiores organizações esquerdistas do mundo, até o começo da década, virou um fantasma político. Duas de suas lideranças mais vigorosas, o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e o ditador Fidel Castro, morreram. Outro baluarte do Foro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está preso.
No encontro de Caracas, em junho, faltaram governantes que antes marcavam ponto no evento, que tem encontros anuais, como Evo Morales, da Bolívia,e Daniel Ortega, da Nicarágua. O PT enviou apenas dois representantes para o Foro de São Paulo , nenhum do primeiro escalão. A deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente do partido, não compareceu.
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Apesar da evidente decadência da organização, o filósofo Olavo de Carvalho e seus seguidores na cúpula do governo insistem com um discurso de que o Foro ainda é uma força poderosa que precisa ser destruída. Olavo define o Foro de São Paulo como “um negócio monstruoso”.
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No domingo (15), ao anunciar a criação de uma “militância bolsonarista organizada”, milícia virtual que ganhou uma página na internet para cadastro, ele aproveitou para atacar a imprensa e a organização internacional de esquerda em um vídeo transmitido para seus discípulos, simpatizantes e antipatizantes.
“A classe jornalística é o grande inimigo do Brasil porque está identificada com o Foro de São Paulo, trabalha para o Foro”, disse Olavo, que prosseguiu: “o problema do Brasil não é a corrupção. É o Foro de São Paulo. É o poder esquerdista”. O filósofo também convidou a militância a entrar com uma onda de processos contra jornalistas que criticarem o governo.
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Pelo jeito, o Foro de São Paulo se tornou mais importante para a direita brasileira do que para a esquerda. O chanceler Ernesto Araújo disse que o Foro “é um tema que nos preocupa e a outras pessoas também.” O presidente Bolsonaro deu um alerta sobre o 25º encontro: “membros do Foro de São Paulo, criado por Fidel Castro, Lula, Farc, entre outros partidos de esquerda e facções criminosas, com o objetivo de dominar a América Latina, se reúnem em Caracas para discutir seu projeto de poder totalitário”.
Em Caracas, porém, pouco se falou de projeto de poder, algo que a esquerda esfacelada abandonou, pelo menos temporariamente. Os temas principais da reunião foram a defesa do governo ditatorial de Nicolás Maduro , “vítima do imperialismo dos Estados Unidos e seus aliados”, e a liberdade de Lula, “alvo de falsas acusações e armadilhas jurídicas”. Os assuntos prioritários mostram que o Foro está numa posição defensiva e perdeu capacidade de combate. Não propõe mais soluções expansionistas, mas tenta tirar alguns líderes de enrascadas e não ficar ainda menor do que se tornou. Só a anfitriã Venezuela e Cuba, que enviou seu presidente, Miguel Díaz-Canel, à Caracas, deram grande atenção ao evento.
No começo da década, em 2011, o Foro vivia um momento de brilho. Naquele ano, a reunião da organização foi realizada em Manágua, capital da Nicarágua, e os partidos de esquerda governavam 15 dos 21 países latino-americanos. Na ocasião, Lula aterrissou na cidade a bordo de um jatinho da Odebrecht e fez o discurso de abertura passando a mão na cabeça do presidente nicaraguense, Daniel Ortega. Agora sustentado em apenas sete governantes, o Foro não ecoa como antes. O aumento do controle sobre a “imprensa burguesa”, que estava no discurso de todos os governantes, foi deixado de lado. Quem passou a se preocupar com a imprensa e com os jornalistas foi a direita.
O que parece é que Olavo de Carvalho quer ver o Foro de São Paulo sempre forte para sustentar suas ideias contra a ameaça de uma dominação comunista. O jogo virou.