O primeiro-ministro Boris Johnson sofreu uma dura derrota parlamentar na Câmara dos Comuns e seu futuro está cada vez mais nebuloso. Em uma decisão sensata, os deputados britânicos aprovaram na quarta-feira 4 um projeto de lei que bloqueia o Brexit — a saída do Reino Unido da União Européia (UE) — sem que haja um acordo prévio, como queria Johnson, defensor de um desligamento imediato e a qualquer custo.
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Agora, ele será impelido a tentar dialogar e, possivelmente, pedir um adiamento de prazo para que o país deixe o bloco europeu. A nova regra para o Brexit, que recebeu 327 votos a favor e 299 votos contra, ainda precisa ser ratificada em dupla votação pela Câmara dos Lordes e promulgada pela rainha Elizabeth II. De toda forma, as posições intransigentes de Johnson estão encontrando resistência dentro do seu próprio partido, o Conservador, e o Reino Unido enfrenta um momento de grande incerteza sobre sua situação política e econômica.
Sem estratégia
Johnson assumiu o cargo em julho com a promessa de que o Brexit aconteceria na data marcada, 31 de outubro. Mas diante da nova decisão do Parlamento, a saída da UE pode ser adiada em 90 dias, para 31 de janeiro de 2020. Após a vitória da oposição, Johnson propôs a realização de eleições antecipadas, como era esperado. “Na opinião desse governo, deve haver uma eleição na terça-feira, 15 de outubro.
O país precisa resolver se sou eu ou o líder da oposição quem vai a a Bruxelas para resolver isso”, disse ele. Mas a oposição novamente bloqueou suas intenções e só aceita a convocação de eleições depois que o projeto que impede o Brexit sem acordo for promulgado. Em discurso na Câmara dos Comuns, Johnson argumentou, sem sucesso, que o projeto aprovado dá controle à UE sobre a situação e obriga a Grã-Bretanha a aceitar as exigências de Bruxelas.
O Parlamento britânico teve uma semana de alta tensão. Houve uma debandada de deputados do Partido Conservador e Johnson perdeu a maioria na Câmara dos Comuns. Ao todo, 21 parlamentares mudaram de lado. Um dos casos mais significativos foi o de Philip Lee, que anunciou sua saída do Partido Conservador e o ingresso no Partido Liberal Democrata diante das câmeras de tevê, mudando literalmente de lado no Parlamento enquanto Johnson discursava.
O líder da oposição, Jeremy Corbyn, criticou Johnson e disse que sua antecessora, Theresa May, pelo menos tinha um discurso detalhado. “Esse primeiro-ministro afirma que tem uma estratégia, mas não pode nos dizer qual é e também não pode apresentá-la à UE. Se ele tem um plano para o Brexit, deve apresentá-lo ao público em um referendo ou em uma eleição geral”, disse Corbyn.
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Sem um acordo com a UE, o Reino Unido tem muito a perder. Há definições que precisam ser consensuais sobre o futuro da relação entre os blocos em questões como imigração, comércio e trânsitos de bens e pessoas que terão um forte impacto econômico no país. Teme-se, inclusive, que o Brexit cause escassez e aumento imediato de preços de produtos perecíveis. “Os alimentos frescos teriam problemas de disponibilidade, prazo de validade e custo potencial”, afirmou Andrew Opie, diretor de alimentos e sustentabilidade do British Retail Consortium, que reúne grandes varejistas britânicos. Mas para Johnson isso não parece ter importância.