A demanda do primeiro-ministro Boris Johnson de que a União Europeia renegocie o acordo do Brexit foi rejeitada na terça-feira pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, alegando que o premier não apresentou nenhuma "alternativa realista" para a questão da fronteira irlandesa, uma das mais polêmicas do divórcio britânico. Horas após a postagem do presidente da Comissão Europeia, o governo britânico anunciou que irá diminuir sua presença em reuniões da UE pela metade, para que possam focar no Brexit.
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Em uma carta de quatro páginas enviada na segunda-feira para Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, Johnson afirmou que "sua maior prioridade" era sair do bloco com um acordo de transição, prometendo "energia e determinação" para negociar novos termos para o Brexit . O premier, contudo, também ressaltou que não pretende ceder em um ponto fundamental do impasse: o backstop irlandês, mecanismo que evitaria a imposição de controles alfandegários entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda .
Os termos negociados por Theresa May, que renunciou após falhar em aprovar o acordo no Parlamento em três ocasiões diferentes, e pela União Europeia durante 17 meses determinam a criação do backstop , mecanismo que evitaria a imposição de controles alfandegários entre aIrlanda do Norte e a República da Irlanda . Assim, Londres se manteria em uma união aduaneira com a UE até 2021, quando seria negociada uma solução definitiva — algo que o atual primeiro-ministro disse considerar "antidemocrático" por "prender o Reino Unido, potencialmente sem prazo definido" ao tratado alfandegário.
"Eu proponho que o backstop seja substituído com um compromisso para estabelecer acordos alternativos o mais rápido possível antes do fim do período de transição, como parte de nosso futuro relacionamento", escreveu Johnson, sem fornecer maiores detalhes.
Sem alternativas realistas
Em resposta, o presidente da Comissão Europeia, que se nega a acatar as demandas de Johnson de renegociar os termos acordados com May, disse que o premier britânico não apresentou "alternativas realistas" para o impasse:
"Aqueles contrários ao backstop e que não estão propondo alternativas realistas estão, na verdade, apoiando o restabelecimento de uma fronteira, mesmo que eles não admitam isto", tuitou Tusk.
A chanceler alemã Angela Merkel, por sua vez, foi um pouco menos dura, afirmando que o bloco consideraria "soluções práticas", mas que o acordo de transição não precisa ser alterado.
A libra, sensível ao prospecto de um divórcio sem acordo de transição, chegou perto de atingir seu menor valor em três anos, mas recuperou parte das perdas após os comentários de Merkel.
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Tusk não foi o único que criticou a carta de Johnson, que promete garantir o divórcio, com ou sem acordo de transição, no dia 31 de outubro. Um funcionário sênior do bloco europeu disse ao Financial Times estar "abismado" com seu conteúdo, afirmando que a carta não continha quaisquer soluções legais para lidar com as "circunstâncias únicas" na fronteira da Irlanda. Ao mesmo jornal, um deputado conservador disse que o recado de Johnson era "um lixo completo":
"É feito para dizer "olha, eu tentei" e, então, sair sem um acordo. Ele pega uma coisa certa [o backstop] e o transforma em algo incerto", disse o legislador. "É tentar criar um jogo de culpa, o que não vai durar."