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Novo primeiro-ministro teve ampla maioria dos votos válidos
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Novo primeiro-ministro teve ampla maioria dos votos válidos

Boris Johnson  assumiu o posto de primeiro-ministro da Inglaterra na quarta-feira (24) em meio à forte insegurança política e econômica, já sob pressão para concretizar a separação com a União Europeia (UE) até o dia 31 de outubro — e viabilizar o seu governo. Desde 2016, quando o Brexit foi aprovado em referendo, a política britânica vive uma crise sem fim. A sua nomeação é mais um capítulo nesse conflito. Renova a disposição para as negociações, mas não oferece solução para o impasse.

Ele chegou ao governo após vencer a disputa interna no Partido Conservador contra o ministro do exterior, Jeremy Hunt. Assim que foi escolhido adotou um tom conciliador, foi saudado pela antecessora Theresa May , prometeu “concretizar o Brexit , unir o país e derrotar Jeremy Corbyn”, em referência ao líder do Partido Trabalhista.

A atitude moderada contrasta com a sua trajetória. Johnson é conhecido por causar divisões em seu partido, está na linha de frente dos eurocéticos e liderou a campanha do Brexit desde o início, quando foi criticado por declarações exageradas e polêmicas. Nos últimos anos criou atritos com May, de quem foi secretário de Relações Exteriores, ao apontar a “fraqueza” nas negociações com a UE .

Perdeu o posto, mas ganhou apoio do presidente do EUA, Donald Trump, que reafirmou nos últimos dias sua admiração pelo novo premiê, chamando-o de “Trump britânico”. A aproximação é tratada com cuidado. Johnson procura evitar associar a sua imagem com a do americano, pois isso atrapalha a negociação com os conservadores, com os europeus e dificulta o caminho no Parlamento.

Apesar da aparência exótica, do gosto pela polêmica e comportamento imprevisível, o novo primeiro-ministro é um político que seguiu a trajetória padrão da elite britânica. Estudou nos melhores colégios e atuou no Parlamento após encerrar uma controversa carreira de jornalista.

Como governante, adotou um tom mais moderado nos dois mandatos como prefeito de Londres, antes de enveredar para a fanfarra populista do Brexit. Apesar das dúvidas sobre suas ações, analistas acreditam que ele pode adotar uma política mais confiável e menos agressiva.

Os líderes europeus parabenizaram o novo premiê de maneira protocolar, mas eles têm se mostrado preocupados e refratários a novas concessões. Admitem adiar a separação, marcada para outubro, mas para isso exigem propostas concretas dos britânicos que não afetem termos já acordados — entre eles um prazo de quase dois anos para a eliminação das vantagens alfandegárias e o pagamento de uma multa de 39 bilhões de libras.

Tido como
Divulgação
Tido como "Trump americano" pelo presidente dos EUA, Boris Johnson tem estilo polêmico

Para isso, Johnson precisaria contradizer seu discurso de campanha — ele afirmou nas últimas semanas que se recusa a fazer esse pagamento. A sua principal promessa é a de levar adiante a separação mesmo sem entendimento. Mas as consequências para o país devem ser severas. O Banco da Inglaterra, equivalente ao Banco Central brasileiro, estima que a economia nesse caso possa encolher 8% e a libra perder até um quarto do seu valor. Os preços para o consumidor seriam afetados, já que quase 30% dos produtos alimentícios são importados da Europa. Isso tem feito boa parte dos conservadores — e a maioria do Parlamento — defenderem uma saída negociada.

Tudo vai depender de como Boris Johnson conduzirá o divórcio. A sua estratégia, aparentemente, é forçar os europeus a renegociarem os termos do acordo fechado por Theresa May . Mas a tática é arriscada. Eles podem não aceitar, e um “hard” Brexit vai afetar mais os britânicos que os europeus.

Outra possibilidade é o Parlamento rejeitar o Brexit não negociado. Além de parlamentares da oposição, rebeldes do próprio Partido Conservador afirmam que podem apoiar uma moção de censura se o novo premiê não conseguir um acordo vantajoso. O impasse pode levar o primeiro-ministro a convocar eleições antecipadas, mas aí resta a dúvida se a população vai eleger um novo Legislativo que dê apoio popular à saída unilateral da União Europeia.

Isso talvez comprometa a sua própria posição. Se o seu partido for derrotado, ele se tornará um dos premiês mais breves da história do país. É uma aposta muito arriscada para uma administração recém-investida. O Brexit simboliza a maior crise que o país enfrentou desde a Segunda Guerra e já derrubou dois premiês, ameaçando o mandato de um terceiro. Por enquanto, o establishment britânico continua preso na armadilha da separação.

Leia também: Novo premiê britânico, Boris Johnson nomeia irmão como ministro

EIS BORIS
Novo premiê teve uma formação no melhor estilo da elite britânica

PRINCIPAIS CARGOS

  • Prefeito de Londres por oito anos
  • Ministro das Relações Exteriores
  • Parlamentar em três mandatos

FORMAÇÃO

  • Nasceu em Nova York, em 1964
  • Estudou na Eton, centenária e tradicional escola interna britânica para meninos
  • Formou-se na Universidade de Oxford. Lá, fez parte do Bullingdon Club, clube exclusivo para homens conhecido pelas festas regadas a bebidas alcoólicas
  • Foi jornalista do Times e correspondente em Bruxelas do Daily Telegraph

ESCRITOR

  • É autor, entre outras obras, de 72 Virgins (72 Virgens), ficção sobre a tentativa de assassinato de um presidente americano em Londres

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