O presidente chinês, Xi Jinping, desembarcou na Coreia do Norte com uma recepção de luxo: uma salva de 21 tiros no aeroporto, milhares de balões e multidões nas ruas. Toda a pompa disfarça o acirramento das tensões entre ambos os países e os Estados Unidos, após o fracesso das negociações sobre o programa nuclear coreano e a escalada da guerra comercial entre Washington e Pequim .
Esperada há anos, analistas acreditam que a visita de Xi Jinping às vésperas da reunião do G-20, no Japão, é uma tentativa de reavivar as negociações para o desarmamento entre Kim e Trump. Desta forma, o chinês teria como entregar aos norte-americanos uma proposta para as negociações quando se encontrarem em Osaka na semana que vem.
O processo, porém, não deve ser fácil. Durante uma reunião transmitida pelo canal estatal chinês CCTV, o ditador norte-coreano disse que tem tomado medidas para "evitar tensões" na Península Coreana, mas que "não tem recebido respostas positivas". Ele aparentemente se referia às conversas fracassadas que tivera com Donald Trump em fevereiro , no Vietnã, que terminaram antes do previsto e sem acordo.
Kim não testa mísseis de longo alcance desde 2017 e, há cerca de um ano, se comprometeu vagamente com a desnuclearização. Esforços posteriores fracassaram e a reunião de fevereiro acabou em impasse quando Trump rejeitou um alívio das sanções econômicas. No artigo publicado nesta quinta-feira (20), o presidente chinês disse que os norte-coreanos estão na "direção certa" e sugere uma diminuição das sanções.
Apesar de a China ser o único aliado de Pyongyang , Kim e Xi nem sempre tiveram uma relação amigável. O chinês chegou a se posicionar em favor do endurecimento das sanções econômicas, proposta realizada por Trump após diversos e consecutivos testes de armas feitos pelos norte-coreanos. Na ocasião, ele alegou que os comentários "absurdos e imprudentes" da imprensa estatal coreana só pioravam a situação.
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Objetivo
A visita de Xi é mais um elemento de barganha do que uma tentativa de melhorar o relacionamento com Pyongyang, disse Andrei Lankov, especialista em Coreia do Norte , ao The New York Times . Apesar do conteúdo de seu "grande plano" ainda não estar evidente, o presidente chinês deverá buscar um meio-termo entre as demandas de Trump e de Kim.
Segundo Lankov, os norte-coreanos desejam que a China utilize seu poder para reverter as sanções na ONU (Organização das Nações Unidas), mas Pequim não dá qualquer indício de sequer considerar esta opção. O líder chinês provavelmente oferecerá auxílio humanitário e incentivos para que seus empresários invistam na Coreia do Norte.
A visita oficial de dois dias também marca o aniversário de 70 anos do início das relações diplomáticas entre China e Coreia do Norte.
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As duas Coreias vivem em um impasse militar desde que foi declarado o cessar-fogo da Guerra da Coreia , em 1953. Um tratado de paz entre os dois países nunca foi assinado. Os chineses lutaram ao lado dos norte-coreanos durante o conflito de três anos, perdendo centenas de milhares de soldados.