O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, prometeu nesta quarta-feira que fará o possível para garantir que o governo egípcio seja julgado por um tribunal internacional pela morte do ex-presidente Mohamed Mursi , que faleceu na segunda-feira , logo após participar de audiência em umtribunal no Cairo.
"Mohamed Mursi ficou passando mal no chão do tribunal e as autoridades não o ajudaram. É por isso que eu digo que Mursi não morreu, mas foi assassinado", disse o Erdogan , durante comício em Istambul. "Nós acompanharemos esta questão e faremos o possível para que o Egito seja julgado pela Corte internacional por seu envolvimento com a morte de Mursi.
De acordo com a TV estatal egípcia, o ex-mandatário morreu em decorrência de uma "crise cardíaca".
Na terça-feira (18), Mursi foi enterrado às pressas , apenas com a presença da família, após o governo rejeitar um funeral público em sua cidade natal. A Irmandade Muçulmana , que considerou a morte um "assassinato", havia convocado a população egípcia a participar em massa dos ritos fúnebres.
Erdogan chamou o ex-líder egípcio "mártir" e disse não acreditar que sua morte ocorreu por causas naturais. Sua legenda, o Partido AK, foi uma grande aliada do curto governo de Mursi e diversos membros daIrmandade Muçulmana fugiram para a Turquia após o grupo ser banido no Egito.
Mohamed Mursi foi deposto pelas Forças Armadas em julho de 2013 , então comandadas pelo general e atual presidente Abdel Fattah al-Sisi. Ele havia sido eleito democraticamente após os protestos da Primavera Árabe, que em fevereiro de 2011 derrubaram o ditador Hosni Mubarak. O ex-presidente respondia a um processo sob a acusação de espionagem devido a contatos supostamente indevidos com o grupo islâmico palestino Hamas. Ele cumpria uma sentença de 20 anos de detenção, sob a acusação de incitar assassinatos de manifestantes em 2012, e outra de 25 anos por espionar em favor do Qatar.
Ao longo dos anos, defensores dos direitos humanos criticaram repetidamente o tratamento que o ex-presidente recebia na prisão. De acordo com a Human Rights Watch, diferentemente da maior parte dos detentos egípcios, Mursi não podia receber comida ou remédios de sua família e não tinha acesso a notícias, cartas ou qualquer tipo de comunicação externa. Sua mulher e outros parentes só puderam visitá-lo três vezes durante os seis anos em que esteve na prisão.
Em 2018, uma comissão de parlamentares britânicos publicou um relatório que denunciava que o ex-líder era mantido em solitária durante 23 horas por dia, em condições equiparáveis à tortura. Ele tinha um histórico de problemas de saúde, era diabético e teve problemas no fígado e nos rins. De acordo com o documento, o ex-presidente não recebia tratamento médico adequado.
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Em consonância com as acusações de Erdogan , o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos pediu uma investigação independente sobre a morte de Mursi, incluindo todos os aspectos do seu tratamento médico, afirmando que "preocupações foram levantadas sobre as condições de sua detenção".