O ex-presidente do Egito, Mohamed Mursi, foi enterrado às pressas na manhã desta terça-feira (18), somente com a presença da família, na cidade do Cairo. Temendo uma martirização do primeiro líder egípcio democraticamente eleito, as autoridades proibiram que seus parentes realizassem um funeral público no leste do país, onde nasceu o ex-mandatário.
Apenas 10 pessoas foram autorizadas a participar do sepultamento, que aconteceu menos de 24 horas após seu falecimento , informou o advogado de Mursi. O governo do Egito havia decretado estado de alerta na província natal de Mursi, Sharqiya, desde ontem, quando a Irmandade Muçulmana reagiu à morte dizendo se tratar de um "assassinato" e convocou os egípcios a participarem em massa do funeral.
Ao longo dos anos, defensores dos direitos humanos criticaram repetidamente o tratamento que o ex-presidente recebeu na prisão e pediram que sua morte seja investigada. Segundo a Human Rights Watch, diferente da maior parte dos detentos egípcios, Mursi não podia receber comida de seus parentes, passava 23 horas por dia em prisão solitária e não tinha acesso a notícias, cartas ou qualquer tipo de comunicação externa.
Críticos também afirmam que sua esposa e outros familiares só puderam visitá-lo três vezes durante os seis anos em que esteve na prisão e que as autoridades egípcias negaram acesso a medicamentos para tratar diabetes, pressão alta e doença hepática mesmo após diversos avisos que tais restrições poderiam ser fatais.
Sarah Leah Whitson, diretora-executiva da Human Rights Watch para o Oriente Médio e o Norte da África, disse que o falecimento do líder "é terrível, mas completamente previsível" e fez um apelo para que as Nações Unidas iniciem uma investigação daquilo que considera ser "violações contínuas dos direitos humanos no Egito, incluindo maus-tratos generalizados nas prisões".
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Preso desde 2013, quando foi derrubado em um golpe militar, o ex-presidente eleito pela Irmandade Muçulmana responde a um processo sob a acusação de espionagem devido a contatos supostamente indevidos com o grupo islâmico palestino Hamas. Ele já cumpria uma sentença de 20 anos de detenção, sob a acusação de incitar assassinatos de manifestantes em 2012, e outra de 25 anos por espionar em favor do Qatar.