A tensão política e militar entre osEstados Unidos e o Irã aumentou nesta sexta-feira, com a divulgação pelo Pentágono de umvídeo que supostamente mostraria integrantes da Guarda Revolucionária iraniana retirando uma mina magnética do casco de um dos dois navios petroleiros atacados na manhã de quinta-feira no Golfo de Omã.
Leia também: Audiência que decide extradição de Assange para os EUA é marcada para fevereiro
A acusação veiculada pelo governo dos EUA foi indiretamente contestada pelo presidente da empresa operadora do navio, o Kokuka Courageous, segundo o qual a explosão foi provocada por um "objeto voador", e não uma mina.
O vídeo, divulgado pelo Comando Central das Forças Armadas dos EUA, foi acompanhado de um comunicado segundo o qual as imagens mostrariam um barco patrulha da Guarda Revolucionária se aproximando do petroleiro e retirando a mina do casco sem que ela detonasse.
Logo depois da divulgação das imagens, Yutaka Katada, presidente da empresa japonesa Kokuka Sangyo, deu uma entrevista em que afirmou que a tripulação do petroleiro, que transportava 225 mil toneladas de metanol, viu "um objeto que voava até o barco".
"Não creio que houvesse uma bomba ou nenhum objeto colado à lateral do navio ", disse ele. "Nós não temos certeza exata, mas o navio foi atingido por um objeto voador. Uma mina não danifica uma embarcação acima do nível do mar."
Enquanto, em entrevista nesta manhã à Fox News , o presidente Donald Trump reiterou que o vídeo era a prova da acusação contra o Irã feita na véspera por seu secretário de Estado, Mike Pompeo, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Abbas Mousavi, qualificava as acusações de "alarmantes".
"É nossa responsabilidade manter a segurança no Estreito de Ormuz e resgatamos os tripulantes dos petroleiros atacados no menor tempo possível", disse Mousavi. "Culpar o Irã é a forma mais simples e conveniente para Pompeo e outras autoridades dos EUA."
As informações divergentes dadas pelo Irã e os Estados Unidos também envolvem o socorro aos tripulantes dos dois navios. Na quinta-feira, o Irã havia informado que resgatara 44 tripulantes das embarcações atacadas, e que eles haviam sido levados para o porto iraniano de Jask. Fotos que seriam dos tripulantes foram divulgadas pela agência iraniana Tasnim.
Já os Estados Unidos disseram que os 21 marinheiros do Kokuka foram resgatados por um destróier de sua Quinta Frota, baseada no Bahrein, e que os tripulantes do outro navio, o norueguês Front Altair, foram recolhidos por um cargueiro coreano e depois entregues aos barcos de patrulha iranianos.
Os ataques aconteceram no momento em que o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, em visita a Teerã, se reunia com o aitolá Ali Khamenei, líder supremo do país. O governo japonês informou que continua analisando as informações sobre os ataques, enquanto a União Europeia pediu contenção a todos os lados.
"Estamos recolhendo informações e avaliando a situação", disse um porta-voz da diplomacia do bloco europeu. "Temos dito repetidamente que a região não precisa de mais tensão nem de desestabilização. Pedimos a máxima contenção e que sejam evitadas provocações."
Leia também: Trump diz que aceitaria novas informações da Rússia e não informaria o FBI
Dinâmica perigosa
Apesar de Washington e Teerã alegarem que não estão dispostos a ir à guerra, os eventos adquiriram uma dinâmica perigosa, com forças militares de ambos os lados reforçando sua presença militar na região.
Mesmo assim, os investidores absorveram os riscos — após a alta de quinta-feira os preços do barril do petróleo Brent em Londres, referência internacional, registraram queda, indicando que as preocupações com a queda da demanda foram mais fortes do que crise no Oriente Médio.
"Eu não creio que haja há qualquer evidência conclusiva de que o Irã seja culpado", disse Amrita Sen, analista-chefe da Energy Aspects, à TV Bloomberg . "Claramente, tensões políticas estão aumentando", afirmou ela, acrescentando que outros grupos na região poderiam ter realizado os ataques. "Nós só não temos provas suficientes."
Em comunicado à imprensa na quinta-feira, o secretário de Estado Mike Pompeo listou uma série de incidentes recentes na região que os Estados Unidos puseram na conta do Irã, incluindo ataques a quatro petroleiros ocorridos em 12 de maio e que, segundo os americanos, foram realizados com minas magnéticas, que aderem aos cascos dos navios.
O Golfo de Omã, onde ocorreram as explosões de quinta-feira, é passagem obrigatória na rota para o Golfo Pérsico. Os dois golfos são ligados pelo Estreito de Ormuz , por onde passam 20% de todo o petróleo produzido no mundo.
As tensões na região vêm crescendo desde que os Estados Unidos impuseram sanções contra as exportações de petróleo do Irã, em novembro de 2018, prometendo reduzi-las a zero .
Comandantes da Guarda Revolucionária iraniana ameaçaram fechar o Estreito de Ormuz se o país for impedido de transportar seu petróleo. Além disso, o Irã enfrenta atritos com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, ambos aliados americanos, por causa da guerra no Iêmen, onde as monarquias do Golfo Pérsico e Teerã apoiam lados opostos.
Leia também: Trump diz que pesquisas que o mostram em segundo lugar são "fake news"
No Twitter, na noite de quinta-feira, o chanceler iraniano Mohammad Javad Zarif sugeriu que inimigos do Irã estariam por trás dos ataques, e acusou os EUA de "sabotagem" à diplomacia.