O líder norte-coreano, Kim Jong-un, se reunirá na quinta-feira (25) com o presidente russo, Vladimir Putin, em Vladivostok, no extremo oriente da Rússia, anunciou um conselheiro do Kremlin. A visita marca os esforços do ditador de Pyongyang na busca por apoio internacional em meio ao impasse nas negociações com os Estados Unidos sobre o seu programa nuclear.
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O primeiro encontro entre os dois chefes de Estado é um "acontecimento chave nas relações bilaterais" entre os países, de acordo com o conselheiro de política externa do governo russo, Yuri Ushakov. A agência oficial norte-coreana KCNA havia anunciado que Kim Jong-un faria "uma visita em breve à Rússia a convite do presidente Putin". De acordo com a agência russa Ria Novosti, o trem de Kim chegará à estação na quarta-feira, às 18h (horário local, 5h de Brasília).
"A reunião estará concentrada na resolução político-diplomática do problema nuclear na Península Coreana", destacou Ushakov, que acrescentou ter a Rússia "a intenção de respaldar de todas as formas possíveis as tendências positivas" neste âmbito.
O assessor-chefe de Kim, Kim Chang-son, foi visto em Vladivostok no domingo, segundo a agência de notícias sul-coreana Yonhap. Nesta cidade russa, um importante porto russo às margens do Pacífico, situada a quase 200 quilômetros da fronteira com a Coreia do Norte, bandeiras russas e norte-coreanas foram hasteadas nas ruas. Será a primeira reunião entre governantes dos dois países desde que Kim Jong-il, pai do atual ditador de Pyongyang, se reuniu com o então presidente Dmitri Medvedev, há oito anos.
O encontro na Rússia ocorrerá menos de dois meses depois da segunda cúpula entre Kim e o presidente americano , Donald Trump, que terminou sem acordo sobre o destino do arsenal nuclear norte-coreano e a retirada de sanções contra Pyongyang. Os líderes se despediram no Vietnã antes do previsto, por não concordarem com as demandas um do outro, e frustraram a expectativa por termos que avançassem sobre o simbólico compromisso firmado em junho, em Cingapura.
Ao viajar esta semana para a Rússia para encontrar com Putin , Kim pretende reacender uma velha amizade para não depender apenas da China, no contexto das negociações em ponto morto com Washington. Moscou mantém relações amistosas e fornece ajuda alimentar a Pyongyang, mas agora há certa distância, o que fez esquecer em parte o papel russo na ascensão ao poder de Kim Il-sung, avô de Kim, em 1940.
Em Pyongyang, porém, a lembrança dessa antiga amizade perdura. A dois passos da colina de Mansu — na qual despontam duas estátuas gigantes de Kim Il-sung e Kim Jong-il — encontram-se na capital traços claros de propaganda norte-coreana dessa relação, como uma bandeira soviética bronze e um cartaz que mostra norte-coreanos e soviéticos lutando juntos contra os japoneses.
História seletiva
A história oficial norte-coreana não dá crédito aos Estados Unidos pelo fim de 45 anos de colonização japonesa. Em vez disso, o regime atribui a Washington a divisão da Península Coreana e não cita um acordo nesse sentido entre os Estados Unidos e a URSS. Durante a Guerra Fria, Moscou foi um importante apoio para a Coreia do Norte. A língua russa era obrigatória na escolas. Diz-se que Kim Jong-il era fluente no idioma.
Essa herança poderia ajudar Kim e Putin, segundo o pesquisador Ahn Chan-il, que fugiu do Norte no passado. "Kim Jong-un sempre teve seu avô como modelo e não seu pai", explica ele. A URSS reduziu sua ajuda ao regime norte-coreano nos anos 1980, quando se aproximou da Coreia do Sul. O relacionamento de Pyongyang e Moscou foi deixado de lado após a queda da União Soviética.
A China aproveitou esse vácuo para se tornar o aliado e parceiro comercial mais próximo da Coreia do Norte. Prova disso é que Kim se reuniu quatro vezes com o presidente chinês, Xi Jinping, no espaço de um ano, embora o ditador norte-coreano, segundo analistas, esteja à procura de mais apoio e diversificação internacional.
A Rússia está envolvida há anos em iniciativas de persuadir a Coreia do Norte a abandonar seu programa nuclear. Moscou participou de negociações ao lado das duas Coreias, Japão, Estados Unidos e China, realizadas pela última vez em 2009.
Moscou já solicitou que as sanções internacionais contra a Coreia do Norte sejam aliviadas, enquanto os Estados Unidos acusam a Rússia de tentar ajudar Pyongyang a driblar algumas das restrições econômicas. O Kremlin nega qualquer ação do tipo. Na época da Guerra Fria, Kim Il-sung era especialista em explorar a rivalidade entre os dois gigantes comunistas, a China e a URSS.
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"Isso faz parte da ideologia da autossuficiência do Norte, não depender de um único parceiro", diz Jeong Young-tae, do Instituto de Estudos Norte-coreanos em Seul. "Pyongyang tem diplomatas nesses países há décadas, e eles sabem muito bem como confrontar os aliados da Coreia do Norte uns contra os outros", completou.