O ano de 2018 foi marcado por grandes eventos, mas também deixou rastros de desastres naturais em diversos países através do globo. Tufões, terremotos, tsunamis, incêndios e ondas de calor foram algumas das ocorrências que desgastaram o planeta durante o ano.
É importante lembrar que desastres naturais não devem ser confundidos com fenômenos metereológicos. Segundo José Marengo, coordenador de pesquisa e desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), os desastres naturais são, na verdade, condições climáticas que podem provocar expressivos danos aos seres humanos.
A grande questão apontada pelo climatologista é que os fenômenos metereológicos em cadeia são preocupantes por serem capazes de provocar profundos efeitos a longo prazo. Segundo Marengo, no Brasil e no mundo, são vistos verões mais quentes e invernos mais frios. "Os fenômenos metereológicos extremos estão ficando cada vez mais extremos e isso tem aumentado a vulnerabilidade humana".
Os desastres naturais não se limitam somente a fenômenos climáticos ou sísmicos, mas muitas doenças, como a epidemia de febre amarela também são provocadas pela intensa e constante mudança climática. É possível que esses efeitos continuem se arrastando por um longo tempo até que sejam resolvidos, mas é importante saber analisar o histórico de desastres para que, no futuro, outros possam ser evitados.
"A perspectiva é de que tudo isso aumente e dependemos da ação do governo para tentar evitar. Não podemos mudar o clima, precisamos nos adaptar", afirmou o climatologista.
Nesta retrospectiva de 2018 , relembre os desastres naturais, que não só marcaram o ano, mas também a vida de um número incontável de pessoas que presenciaram mortes e destruição em seus vilarejos e cidades. Além disso, 2018 deixou ainda uma marca maior e irreparável à Terra e que será levada para além de 2019.
América em chamas
Recentemente, o território nacional foi palco de um incêndio de grandes proporções que atingiu o bairro Educandos, na zona sul de Manaus, no Amazonas. Cerca de 600 moradias foram completamente desvastadas pelo fogo, que teve início na noite do dia 17 de dezembro. Mesmo localizadas próximas ao Rio Negro, muitas residências, em sua maioria de madeira, foram atingidas pelo fogo que se alastrou.
Apesar de ter alcançado uma grande área, o incêndio em Manaus não se comparou ao mais letal incêndio florestal do estado norte-americano da Califórnia , iniciado no dia oito de novembro e que durou um pouco mais de duas semanas. Pelo menos 88 pessoas morreram e 196 foram registradas como desaparecidas. O fogo começou tomando conta de uma pequena comunidade montanhosa, reduzindo o local a escombros.
O incêndio foi provocado por motivos já conhecidos: o clima seco, as mudanças climáticas e as atividades humanas. Quase 14 mil casas foram destruídas, dentro de uma área de 60 mil hectares, em Paradise, uma cidade de quase 27 mil habitantes. Como comparação, a área destruída foi cinco vezes maior do que o tamanho da cidade de São Francisco.
O incêndio não foi o único desastre a atingir o país norte-americano. Os furacões também foram grandes protagonistas e causaram destruição por onde passaram. O furacão Florence atingiu o solo dos Estados Unidos no estado da Carolina do Norte, no dia 14 de setembro , trazendo níveis recordes de precipitação e perigosas ondas. Cerca de 320 mil residências ficaram sem eletricidade, obrigando mais de um milhão de habitantes a deixarem suas casas e procurarem um lugar seguro. Foram confirmadas 53 mortes durante a passagem do furacão.
Enquanto o Florence devastou o norte, a terceira tempestade mais forte da história do país também atingiu os Estados Unidos com a chegada do Furacão Michael , no dia 10 de outubro, na região sudeste. A tempestade deixou milhares de residências e empresas sem eletricidade na Flórida, no Alabama e na Geórgia; e resultou em quase 30 mortes pelos Estados Unidos.
Já no estado do Alasca, dois terremotos - um em janeiro e outro em novembro - atingiram as cidades de Kodiak, com 8,2 graus de magnitude, e Anchorage, com 7 graus de magnitude, respectivamente. Relatos de evacuação de prédios e do surgimento de rachaduras nas paredes dos edifícios foram comuns durante o tremor. Em ambos os fenômenos, a possibilidade de um tsunâmi foi fator de preocupação geral.
Ainda no continente americano, 2018 trouxe complicações para países como o Peru e a Guatemala. Enquanto no Peru, um terremoto de magnitude 7,1 atingiu local próximo a fronteira com o Brasil, o que possibilitou que o tremor fosse sentido no Acre; na Guatemala, a segunda erupção de 2018 do Vulcão de Fogo , em junho, deixou cerca de 70 mortos, 300 feridos e inúmeros desaparecidos.
A erupção foi a mais forte desde 1974 e o vulcão é um dos mais ativos da América Central. Suas grandes colinas de fumaça e fragmentos ocasionaram a evacuação de cerca de 3 mil moradores dos vilarejos vizinhos ao vulcão.
Outra erupção, dessa vez no Havaí, também marcou o ano de 2018. Em maio, o governo da ilha decretou estado de emergência e mais de 1,8 mil pessoas foram obrigadas a evacuar, após a erupção do vulcão Kilauea . A lava e o fogo incendiaram árvores e diversas propriedades próximas ao vulcão.
Ásia entre confronto de desastres naturais
Não é só na América que vulcões entram em erupção e colocam a população local em alerta. Durante o ano de 2018, a Indonésia teve que que lidar não só com a erupção de um vulcão, mas também com um terremoto e um tsunâmi.
O primeiro desastre no país, trazido pela retrospectiva de 2018, veio com um terremoto de magnitude 7,5, no final de setembro, que deixou a região próxima de Palu soterrada pelos escombros. Além de destruir casas e deixar diversas famílias desaparecidas, o tremor também resultou em um tsunami logo em seguida, que assustou àqueles que estavam na orla de Palu.
Por mais surpreendente que seja, a população da Indonésia não contava com a erupção do vulcão Soputan uma semana após o terremoto e o tsunami , na mesma região em que os outros eventos aconteceram, formando uma coluna de fumaça e cinzas que atingiram uma altura de quase 6 mil metros.
A Indonésia fica no chamado "anel de fogo do Pacífico", uma zona de intensa atividade sísmica e vulcânica. A sequência de desastres naturais resultou em mais de 1.400 mortes na região.
Outros países do continente, que está localizado sob, pelo menos, cinco placas tectônicas, também foram desgastados por intensos tremores. Em fevereiro, em Taiwan, aos menos duas pessoas morreram e 114 ficaram feridas após um terremoto de magnitude 6.4 na escala Richter atingir a costa leste da ilha. Na época, as autoridades locais confirmaram o desabamento parcial de um hotel que deixou cerca de 30 pessoas presas nos escombros. No mesmo mês, outros dois terremotos atingiram a ilha em menos de duas horas.
Já em novembro, no Irã, um terremoto de magnitude 6,3 deixou mais de 700 feridos na fronteira do país com o Iraque. O abalo pôde ser sentido em ao menos sete províncias do país e desencadeou deslizamentos de terra em algumas áreas.
O Japão é outro país que constantemente presencia abalos sísmicos, já que ele está posicionado entre as placas tectônicas Eurasiana, das Filipinas e do Pacífico. Em setembro, um terremoto notório de 6,7 de magnitude deixou nove pessoas mortas e outras 366 feridas no país.
Esse foi o abalo sísmico de mais alta escala dentre os que aconteceram neste ano e provocou tensão na ilha, já que aconteceu apenas dois dias após a chegada do tufão Jebi, o mais poderoso a atingir o país nos últimos 25 anos, deixando 11 vítimas fatais.
Já o título de tempestade mais forte do ano foi para o tufão Mangkhut , que resultou em cerca de 80 mortes, mais de 70 desaparecidos e um rastro de destruição nas Filipinas. O tufão atingiu uma velocidade de 270 km/h - como comparação, a tempestade atingiu 120 km/h a mais do que os registrados nos Estados Unidos pela tempestade tropical Florence, citada anteriormente.
O tufão também chegou a Hong Kong, a Macau e ao sul da China. Dezenas de pessoas ficaram soterradas e mais de 60 mil sem abrigo. Segundo informação divulgada pelo Centro Nacional de Redução de Desastres, mais de 1 milhão de pessoas foram afetadas pela tempestade.
Porém não foram só chuvas que resultaram em destruição na Ásia. Tempestades de areia na China e na Índia foram destaques neste ano. A primeira aconteceu em novembro, quando uma tempestade engoliu a cidade chinesa de Zangye, de 1,2 milhão de habitantes. O volume de partículas de areia formou uma “muralha” de cerca de 10 metros, causando caos no trânsito e forçando os moradores a caminharem com o rosto coberto com um pano, para evitar problemas respiratórios.
Já na Índia, as tempestades de areia aconteceram no começo do ano , contabilizando ao menos 100 vítimas fatais, além de ter deixado milhares sem energia elétrica e ter causado destruição de inúmeras casas ao norte do país. De acordo com o The Guardian, 64 pessoas morreram só no estado de Uttar Pradesh, a maioria delas no distrito de Agra, onde o Taj Mahal está localizado.
A Índia também foi palco de uma inundação - a pior em 80 anos - provocada pelas chuvas de monções , que caíram durante duas semanas seguidas no território. O resultado foram 370 mortes, com danos às infraestruturas no valor de US$ 3 bilhões, de acordo com as autoridades do país. Além disso, mais de 720 mil indianos foram obrigados a deixar suas casas e buscar refúgio em mais de 5.645 abrigos espalhados por Kerala.
As fortes chuvas também causaram um pesadelo para 12 meninos com idades entre 11 e 16 e seu técnico de futebol, em junho, na Tailândia . Devido à intensa tempestade, a caverna em que os meninos estavam abrigados teve sua entrada principal bloqueada pela água, o que os deixou presos por nove dias. Eles foram resgatados com vida, em uma área de difícil acesso.
Europa em tempestades de calor
Mas não foi só na Ásia que as tempestades de grande magnitude trouxeram mortes e caos. A Europa Central foi afetada pelo mau tempo logo no começo do ano , no dia 18 de janeiro. A Alemanha foi a mais afetada, os estragos que custaram mais de 500 milhões de euros, resultaram em 12 mortes no país. Outras três foram registradas na Holanda e uma na Bélgica.
Os ventos de até 140 km/h geraram quedas de árvores, cortes de energia, o cancelamento de voos em vários aeroportos dos países e os bloqueios de estradas - que resultou até no nascimento de um bebê dentro do carro, já que a mãe foi impedida de chegar ao hospital.
Apesar dos estragos das tempestades no começo do ano, a retrospectiva de 2018 não pode deixar de mencionar o quente verão europeu, que trouxe efeitos ainda maiores, ao apresentar a - de certa forma - ‘curiosa’ onda de calor que assolou diversos países. O fenômeno é caracterizado por altas temperaturas que podem durar de dias a semanas, favorecendo a ocorrência de secas, queimadas e complicações de saúde na população - que em muitos casos são fatais.
Em julho, incêndios na Grécia deixaram mais de 90 mortos, mais de 180 feridos , nove pessoas internadas e, ao menos, 11 crianças hospitalizadas. Além disso, o intenso trabalho dos agentes de socorro também revelou a busca pela quantidade incontável de desaparecidos nos incêndios.
Os fortes ventos de até 120 km/h que mudavam constantemente de direção, ajudaram a espalhar o incêndio, que, em poucos dias, tornou-se um dos piores desastres naturais do país. De acordo com um artigo publicado pela revista científica Natura, a Grécia foi o país que mais sofreu, já que a falta de chuva, a vegetação seca e as temperaturas que chegaram a 47°C, agravaram os incêndios.
A situação atingiu outro patamar quando até a Suécia, país que tem parte do seu território no Círculo Polar Ártico, evacuou vilarejos e pediu ajuda devido às 49 queimadas que aconteceram simultaneamente no país.
Outros países do extremo oeste europeu também sofreram graves consequências do aumento excessivo de temperatura. Em Portugal, foram registrados incêndios intensos na região florestal de Monchique. Devido à fumaça, mais de 20 moradores de áreas próximas foram hospitalizados. Os termômetros chegaram a 46°C, assim como na Espanha.
As altas temperaturas trouxeram ao país espanhol três mortes registradas por insolação só no mês de agosto . Uma das vítimas foi um homem que desmaiou no meio da rua, em Barcelona. As outras duas aconteceram, aproximadamente, a 400 km de Madrid, em Múrcia.
Na cidade, um homem de 78 anos morreu enquanto realizava trabalho agrícola em um terreno de sua propriedade. Ele chegou a ser levado a um hospital por conta da insolação, mas morreu pouco antes de chegar.
Já a França enfrentou o segundo verão mais quente da história resultando em - por incrível que pareça - 1,5 mil mortes . As altas temperaturas, em torno de 40°C, afetaram, principalmente, os mais idosos. Reatores nucleares chegaram a ser interditados a fim de evitar o excesso de consumo de água e determinadas falhas de funcionamento provocadas pelo superaquecimento.
Segundo medições da Nasa, o ano de 2018 foi um dos períodos mais quentes da história, com aumento de 0,87°C antes mesmo da chegada do verão no hemisfério norte. Vale lembrar que não foram só os países europeus que sofreram com as altas temperaturas.
Do Japão ao Canadá, os países enfrentaram as ondas de calor causadas pelos efeitos do aquecimento global e 2019 não promete ser diferente. O fenômeno é caracterizado pelo processo de aumento da temperatura média dos oceanos e da atmosfera da Terra, influenciado pela constante emissão de gases que intensificam o efeito estufa.
“Não há dúvidas de que a influência humana no clima tem uma grande culpa nessa onda de calor ”, explicou o professor e climatologista de Oxford, Myles Allen, ao jornal inglês The Guardian. Por mais contraditório que pareça, desastres naturais acontecem e o grande causador é quem mais sofre com eles.