Na última sexta-feira (31), os Estados Unidos (EUA) suspenderam sua contribruição à agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para refugiados palestinos, a UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente, na sigla em inglês). Para o país norte-americano, a organização é "irremediavelmente falha".
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Em comunicado oficial, Heather Nauert, porta-voz do Departamento de Estado, afirmou que os EUA não querem mais financiar uma operação "tendenciosa" como a UNRWA. Ela também acusou a agência de aumentar o número de palestinos elegíveis para o status de refugiados , o que é, para Heather, "inviável".
Historicamente, os EUA é o principal país doador da UNRWA, mas já havia reduzido drasticamente suas contribuições nos últimos tempos. De 350 milhões em 2017, o montante passou para 65 milhões em 2018 - uma diminuição de 81,4%.
Fundada em 1949, a UNRWA ajuda os palestinos e seus descendentes que foram expulsos de seu país durante a guerra de 1948, após a criação do Estado de Israel . Seus serviços de ajuda humanitária incluem cuidados de saúde, educação e auxílios emergenciais a mais de 4 milhões de refugiados que vivem na Faixa de Gaza, na Cisjordânia, na Jordânia, no Líbano e na Síria.
Em resposta à iniciativa dos EUA, o secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou que a UNRWA tem "toda a sua confiança" e convocou os outros países a cobrir o rombo financeiro para que a agência "possa continuar proporcionando essa assistência vital".
Israel celebrou a decisão
Para o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a decisão dos EUA de cortar a ajuda financeira aos refugiados palestinos é "importante". "Nós apoiamos a iniciativa", declarou.
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Tanto os EUA quanto Israel se opõem ao fato de que os palestinos possam transmitir o status de refugiados a seus filhos e querem uma diminuição no número de pessoas beneficiadas pela UNRWA. Para os palestinos, porém, isso seria uma violação de seus direitos.
Netanyahu lembro que seu país recebeu refugiados do mundo inteiro, incluindo sobreviventes da Segunda Guerra Mundial e judeus "desarraigados" na primeira guerra entre israelenses e arábes. "Centenas de milhares de pessoas vieram, mas nós não deixamos que continuassem como refugiadas. Elas se tornaram cidadãs com igualdade de direitos em nosso país", comentou.
O primeiro-ministro ainda defendeu a ideia de que a UNRWA perpetua a situação dos refugiados ao invés de resolvê-la. "É preciso acabar com isso e utilizar o dinheiro para ajudar, de forma efetiva, na reabilitação dessas pessoas", afirmou Netanyahu.
Sem perspectivas de paz
A decisão é a mais recente de uma série de medidas polêmicas do governo de Donald Trump , todas aplaudidas por Israel e muito criticada pela comunidade internacional e pelos palestinos, que se distanciam da possibilidade de criar um Estado independente.
Em dezembro de 2017, quando o país norte-americano reconheceu Jerusalém como a capital de Israel, a Autoridade Palestina decidiu romper suas relações com os EUA. Um mês depois, em resposta, Trump anunciou que a liberação da ajuda aos palestinos estava condicionada ao retorno destes às negociações.
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O anúncio dos cortes acontece no momento em que a ONU e o Egito negociam um cessar-fogo duradouro entre Israel e Hamas, o grupo armado que governa a Faixa de Gaza, onde mais de 80% dos moradores - dentre eles, muitos refugiados palestinos - dependem da ajuda da UNRWA para sobreviver.