Apesar de terem conquistado recentemente o direito de dirigirem veículos na Arábia Saudita , as mulheres ainda têm muito pelo que lutar para diminuir a misoginia nesse país. Prova disso são as declarações de um religioso saudita, que afirmou, nesta semana, que mulheres que são vítimas de assédio sexual são culpadas pelo crime.
"Juro por deus, as mulheres são as culpadas pelo assédio e pelo adultério", escreveu Ahmed Bin Saad Al Qarni no Twitter. "Vejam a mulher neste vídeo, ela fez os homens ficarem loucos. Não culpem os homens", completou.
O vídeo publicado junto às declarações de Al Qarni, na última quarta-feira (18), mostra uma mulher parada em um estacionamento, sendo abordada por um homem que passa sorrindo no banco de trás de um carro.
Há um corte nas imagens e a mulher aparece entrando nesse mesmo carro. Na sequência, ela dá alguns gritos. A gravação dura apenas 16 segundos.
Em publicações seguintes, Al Qarni disse que o vídeo mostra que a mulher "entrou no carro porque quis" e que, "se foi estuprada, chegou em casa chorando por sua dignidade".
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O caso da mulher do vídeo está sendo investigado pela polícia local. Isso porque ela relatou que sofreu um estupro no carro e usou a gravação como prova a seu favor.
'Maquiagem é coisa de adúltera'
As declarações polêmicas e misóginas de Al Qarni não acabam por aí. Ainda na mesma rede social, o religioso se dedicou a atacar o uso de maquiagem e de perfumes por mulheres casadas.
"Uma mulher que sai de sua casa usando maquiagem e perfume é uma adúltera. Uma boa mulher que usa um avental de cozinha nunca mais deixará sua casa", escreveu.
Mulheres no volante
Uma mulher pegar carona em um carro conduzido por um homem é comum na Arábia Saudita pelo fato de que elas não têm ainda a possibilidade de irem e virem dos lugares por conta própria.
A lei a respeito das mulheres no volante mudou no final do mês de setembro, quando o rei da Arábia Saudita, Salman bin Abdelaz, aprovou um decreto que autoriza todas as mulheres do país a conduzirem automóveis.
Entrevistadas pelo iG , as sauditas se mostraram empolgadas com a notícia. "Eu me senti no céu quando vi essas notícias na TV!", exclamou Reem Abdullah.
"Muitas mulheres querem dirigir carros e ir para onde quiserem, sem depender de ninguém", continuou. "A Arábia foi o último país, mas finalmente nós podemos ir para o trabalho sem precisar da carona de um homem", concluiu ela.
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Apesar disso, a Arábia Saudita tem sido alvo de inúmeras denúncias relativas à forma como trata as mulheres. Neste cenário, casos de assédio têm sido mais relatados, porém as investigações seguem sendo lentas e polêmicas.