Cruzes na Esplanada em homenagem às vítimas de Brumadinho
MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
Cruzes na Esplanada em homenagem às vítimas de Brumadinho

O Córrego do Feijão, pertencente à mineradora Vale, rompeu-se em 25 de janeiro de 2019 e devastou a cidade de Brumadinho, em Minas Gerais. A  tragédia entrou para história do Brasil e matou 272 pessoas, além de destruir centenas de casas e contaminar corpos de água. 

O caso faz seis anos em 21 de janeiro de 2025 e ficou marcado pelas acusações de negligência da Vale, além de levantar importantes pautas ambientais. Ao Portal iG , representantes do Instituto Cordilheira, responsável por proteger áreas de mineração, conversaram sobre como está Brumadinho depois da tragédia.

“Justiça é uma promessa”

Danilo Chammas, advogado da associação AVABRUM, formada pelos familiares da vítima e ativo nos processos criminais, relembrou a tragédia de Brumadinho: “É um símbolo do que acontece quando a ganância supera a responsabilidade. Seis anos depois, a justiça ainda é uma promessa, não uma realidade.”

De acordo com o Instituto Cordilheira, havia denúncias ao Ministério Público (MP) sobre o risco de mineração às voltas de Brumadinho desde 2011. Em 2018, a licença para operações nas minas do Córrego do Feijão e Jangada foram aprovadas - seguidas, meses depois, pelo rompimento da barragem

“Alertamos sobre os riscos, mas ninguém ouviu. Mariana [MG, outra cidade soterrada] já tinha sido um alerta ignorado, e Brumadinho repetiu essa tragédia anunciada”, lamentou Carolina de Moura Campos, moradora da Jangada e líder no Instituto Cordilheira.

Responsabilidades

A tragédia de Brumadinho levou a diversas ações judiciais, inclusive de familiares das pessoas que morreram e moradores que tiveram a casa e pertences soterrados. Além disso,  Peter Poppinga, ex-diretor executivo da Vale, foi condenado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Acusado de omissões relacionadas ao desastre em Brumadinho, o executivo precisou pagar uma multa de R$ 27 milhões por falta do "dever de diligência"

Poppinga também está entre as 16 pessoas denunciadas pelo MPMG por homicídio duplamente qualificado. A ação começou em janeiro de 2020 e, em 2023, foi remetida para a Justiça Federal. Os julgamentos não ocorreram até o fechamento desta matéria. Sobre o caso, Chammas disse: “Essa decisão da CVM é um avanço, mas não resolve o problema. Precisamos de decisões que tragam consequências reais, tanto no âmbito penal quanto em mudanças estruturais que impeçam novas tragédias. Brumadinho ainda clama por justiça.”

Lembrando das vítimas

O Instituto Cordilheira é um dos principais em relembrar a tragédia de Brumadinho e cobrar responsabilidades dos envolvidos. As ações incluem:

Observatório das Ações Penais 

Um site organiza documentos, análises, notíficas e faz uma linha do tempo para mostrar desdobramentos sobre o caso. "O Observatório é mais do que uma ferramenta de informação. É uma forma de memória ativa, que dá visibilidade às decisões que afetam diretamente as famílias das vítimas", explica Danilo.

Espaço de Memória Popular

Poucos dias antes do aniversário de seis anos da tragédia, foi inaugurado, no Córrego do Feijão, o Espaço de Memória Popular. O intuito é mostrar histórias de moradores afetados.

Além do instituto, outros grupos como o Movimento pelas Águas e Serras de Casa Branca e o Movimento pelas Serras e Águas de Minas (MovSAM) atuam na proteção de corpos de água da Mata Atlântica.

“A contribuição das pessoas que lutam por justiça vai além da busca por responsabilização. Essas vozes precisam ser ouvidas para que novas tragédias sejam evitadas. Não lutamos apenas por justiça para as vítimas, mas por um futuro onde crimes como esse sejam inconcebíveis”, conclui o advogado.

Posicionamento da Vale

Procurada pelo Portal iG para comentar o aniversário da tragédia em Brumadinho, a Vale ainda não se manifestou. O espaço segue aberto para depoimentos.

O acidente de Brumadinho, uma das maiores tragédias da história do Brasil, completou 5 anos no dia 25 de janeiro de 2024. Mesmo tanto tempo depois, ninguém foi responsabilizado pelas mortes.  Reprodução: Flipar
O acidente de Brumadinho, uma das maiores tragédias da história do Brasil, completou 5 anos no dia 25 de janeiro de 2024. Mesmo tanto tempo depois, ninguém foi responsabilizado pelas mortes. Reprodução: Flipar
Na ocasião, 270 pessoas perderam a vida soterradas depois que uma grande quantidade de resíduos de mineração foi despejada nos arredores do Rio Paraopeba. Reprodução: Flipar
Na ocasião, 270 pessoas perderam a vida soterradas depois que uma grande quantidade de resíduos de mineração foi despejada nos arredores do Rio Paraopeba. Reprodução: Flipar
Além das vidas perdidas, o acidente deixou um dano psicológico nos sobreviventes e familiares das vítimas. Segundo um levantamento da prefeitura, em 2021, o uso de ansiolíticos e antidepressivos cresceu 31,4% em relação a 2018, ano anterior ao rompimento da barragem.  Reprodução: Flipar
Além das vidas perdidas, o acidente deixou um dano psicológico nos sobreviventes e familiares das vítimas. Segundo um levantamento da prefeitura, em 2021, o uso de ansiolíticos e antidepressivos cresceu 31,4% em relação a 2018, ano anterior ao rompimento da barragem. Reprodução: Flipar
Até hoje a Vale S.A, empresa responsável pela mina, e sua subsidiária alemã, TÜV SÜD – que havia certificado a segurança da estrutura – não foram condenadas. Reprodução: Flipar
Até hoje a Vale S.A, empresa responsável pela mina, e sua subsidiária alemã, TÜV SÜD – que havia certificado a segurança da estrutura – não foram condenadas. Reprodução: Flipar
As investigações indicaram que os líderes tinham conhecimento do risco de rompimento da barragem. Reprodução: Flipar
As investigações indicaram que os líderes tinham conhecimento do risco de rompimento da barragem. Reprodução: Flipar
O Ministério Público de Minas Gerais chegou a denunciar 16 pessoas, incluindo as empresas envolvidas no caso. Reprodução: Flipar
O Ministério Público de Minas Gerais chegou a denunciar 16 pessoas, incluindo as empresas envolvidas no caso. Reprodução: Flipar
Neste momento, os acusados estão apresentando suas defesas e a TÜV SÜD está sendo processada na Alemanha, onde a empresa tem sua sede. Reprodução: Flipar
Neste momento, os acusados estão apresentando suas defesas e a TÜV SÜD está sendo processada na Alemanha, onde a empresa tem sua sede. Reprodução: Flipar
Em 2021, Ministério Público, a Defensoria Pública, o governo de Minas Gerais e a Vale estabeleceram um acordo de compensação pelos danos causados pela tragédia. Reprodução: Flipar
Em 2021, Ministério Público, a Defensoria Pública, o governo de Minas Gerais e a Vale estabeleceram um acordo de compensação pelos danos causados pela tragédia. Reprodução: Flipar
A ação estabelece o pagamento de R$ 37,68 bilhões em 160 projetos na Bacia de Paraopeba, incluindo monitoramento ambiental e obras de reconstrução. Reprodução: Flipar
A ação estabelece o pagamento de R$ 37,68 bilhões em 160 projetos na Bacia de Paraopeba, incluindo monitoramento ambiental e obras de reconstrução. Reprodução: Flipar
Inclusive, está previsto o pagamento de compensações individuais (indenizações), mas esse processo ainda nem começou a se desenvolver nos tribunais.  Reprodução: Flipar
Inclusive, está previsto o pagamento de compensações individuais (indenizações), mas esse processo ainda nem começou a se desenvolver nos tribunais. Reprodução: Flipar
Várias famílias das vítimas costuraram acordos diretamente com a Vale, sem esperar pela aprovação judicial. Reprodução: Flipar
Várias famílias das vítimas costuraram acordos diretamente com a Vale, sem esperar pela aprovação judicial. Reprodução: Flipar
A Vale informou que mais de 15,4 mil pessoas fecharam acordos, totalizando R$ 3,5 bilhões em indenizações feitas dessa forma. Reprodução: Flipar
A Vale informou que mais de 15,4 mil pessoas fecharam acordos, totalizando R$ 3,5 bilhões em indenizações feitas dessa forma. Reprodução: Flipar
Com base na acusação do Ministério Público Federal (MPF), os denunciados terão que responder por homicídio qualificado, crimes contra a fauna, a flora e crimes de poluição. Reprodução: Flipar
Com base na acusação do Ministério Público Federal (MPF), os denunciados terão que responder por homicídio qualificado, crimes contra a fauna, a flora e crimes de poluição. Reprodução: Flipar
Segundo uma investigação feita pelo Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab), que examinou 319 processos decididos no Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG), 75% das decisões foram contrárias aos afetados. Reprodução: Flipar
Segundo uma investigação feita pelo Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab), que examinou 319 processos decididos no Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG), 75% das decisões foram contrárias aos afetados. Reprodução: Flipar
A Vale se pronunciou e declarou que já cumpriu 68% dos R$ 37,7 bilhões previstos em acordo. Reprodução: Flipar
A Vale se pronunciou e declarou que já cumpriu 68% dos R$ 37,7 bilhões previstos em acordo. Reprodução: Flipar
Cinco anos depois da tragédia, três pessoas ainda não foram encontradas. Reprodução: Flipar
Cinco anos depois da tragédia, três pessoas ainda não foram encontradas. Reprodução: Flipar
Ao longo desses cinco anos, aproximadamente 6 mil bombeiros de Minas Gerais se revezaram nas buscas na região do incidente. Reprodução: Flipar
Ao longo desses cinco anos, aproximadamente 6 mil bombeiros de Minas Gerais se revezaram nas buscas na região do incidente. Reprodução: Flipar
As abordagens também mudaram com o tempo. Inicialmente, os bombeiros se aventuravam na lama e ‘enfrentavam’ os resíduos.  Reprodução: Flipar
As abordagens também mudaram com o tempo. Inicialmente, os bombeiros se aventuravam na lama e ‘enfrentavam’ os resíduos. Reprodução: Flipar
Depois de um tempo, passaram a ser utilizadas grandes esteiras, que funcionam como estações de triagem para o material. Reprodução: Flipar
Depois de um tempo, passaram a ser utilizadas grandes esteiras, que funcionam como estações de triagem para o material. Reprodução: Flipar
Essas máquinas funcionam 24h por dia e o trabalho é realizado principalmente por observação visual. Reprodução: Flipar
Essas máquinas funcionam 24h por dia e o trabalho é realizado principalmente por observação visual. Reprodução: Flipar
Até o momento, já foram inspecionados 75% dos 11 milhões de metros cúbicos de resíduos. A introdução de tecnologia tem aumentado a eficiência do trabalho dos bombeiros. Reprodução: Flipar
Até o momento, já foram inspecionados 75% dos 11 milhões de metros cúbicos de resíduos. A introdução de tecnologia tem aumentado a eficiência do trabalho dos bombeiros. Reprodução: Flipar
O acidente em Brumadinho aconteceu quatro anos depois de outra tragédia: o rompimento de uma barragem em Mariana. Na ocasião, 18 pessoas morreram e uma nunca foi encontrada. Reprodução: Flipar
O acidente em Brumadinho aconteceu quatro anos depois de outra tragédia: o rompimento de uma barragem em Mariana. Na ocasião, 18 pessoas morreram e uma nunca foi encontrada. Reprodução: Flipar
O Brasil tem mais de 50 barragens a montante, do mesmo tipo que colapsou em Mariana e Brumadinho. Deste total, 38 ficam em Minas Gerais. Reprodução: Flipar
O Brasil tem mais de 50 barragens a montante, do mesmo tipo que colapsou em Mariana e Brumadinho. Deste total, 38 ficam em Minas Gerais. Reprodução: Flipar


** Jornalista pelo Mackenzie e cientista social pela USP, trabalha com redação virtual desde 2015 e teve passagem em grandes redações do Brasil. Curte cultura, política e sociologia.

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