Floresta desmatada em Lábrea (AM)
Edilson Dantas / O Globo
Floresta desmatada em Lábrea (AM)

Alertas do sistema Deter, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados nesta sexta-feira, apontaram que apenas entre os dias 1º e 29 de abril deste ano uma área de 1.013 km² foi desmatada na Amazônia. O espaço corresponde a 138.957 campos de futebol padrão FIFA, de acordo com uma comparação realizada pelo Greenpeace Brasil.

Segundo o Observatório do Clima, é a primeira vez na história que os alertas mensais de desmatamento ultrapassam 1 mil km² no mês de abril. O número representa um aumento de 74,6%, na comparação com o mesmo período de 2021. Juntos, os estados do Pará, Mato Grosso e Amazonas concentraram 86,3% de todo o desmatamento detectado na Amazônia Legal. Os municípios de Altamira e Lábrea ocupam juntos o quarto lugar de maiores desmatamentos contínuos.

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De acordo com a gerente do WWF-Brasil para Ciências, Mariana Napolitano, o dado se torna ainda mais alarmante ao considerar que o último mês foi de chuvas na Amazônia.

"Esse valor é extremamente alto para esse período, que marca o início do período da seca na Amazônia e o momento em que o desmatamento costuma aumentar. Esse desmatamento é majoritariamente ilegal e traz consigo aumento de roubo de terra (grilagem), invasão a terras públicas, aumento do garimpo ilegal e conflitos cada vez mais intensos na região", afirma Napolitano.

Um gráfico produzido pelo Observatório do Clima, a partir dos dados do Inpe, mostrou ainda que o primeiro quadrimestre do ano também teve o pior desmatamento desde 2016. A área afetada somou 1.954 km², um aumento de 70% em relação ao ano passado. O último quadrimestre com maior índice de desflorestamento foi em 2020, ano em que o país também bateu recordes de exploração das florestas no governo Bolsonaro.

"Há redução das ações de controle, fiscalização e autuação nessa gestão federal e, no Congresso, há um pacote de projetos de lei que promovem a destruição. A floresta fica cada vez mais perto de um ponto em que ela não vai conseguir se recuperar", pontua Raul Valle, diretor de Justiça Socioambiental do WWF-Brasil.

Em 2021, o Brasil concentrou 40% de toda a perda de florestas primárias (nativas) registrada no mundo. Segundo dados do Global Forest Watch (GFW), plataforma de monitoramento desenvolvido pela Universidade de Maryland, a redução no país foi de 1,5 milhão de hectares, o maior número no ranking global, sendo que 359 mil hectares desse total ocorreu devido a incêndios, o que evidencia o avanço de diversos causadores e ameaças de desmatamento na Amazônia.

Desde o início da série histórica do GFW, em 2002, o Brasil passou por um ciclo de redução da curva de perda de florestas, entre 2004 e 2014, quando, ano a ano, as taxas se reduziam. Mas, nos últimos sete anos o desmatamento voltou a ocorrer em níveis alarmantes, chegando a ficar próximo aos 3 milhões de hectares em 2016. A partir do início da gestão Bolsonaro, os índices variaram entre 1,3 e 1,7 milhões.

"Internamente, temos três anos de impunidade, com redução das ações de controle, fiscalização e autuação, agravados em 2021 por um discurso ainda mais permissivo por causa da temporada eleitoral. E, com a guerra, a escassez de produtos aumenta o valor das commodities e vigora a falsa ideia de que é necessário desmatar mais para produzir mais, o que é um equívoco. A floresta não suportará mais quatro anos com essa pressão", comenta Raul Valle.

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