Em 2017, três a cada quatro pessoas que viviam com o vírus HIV tinham conhecimento do estado sorológico, de acordo com a UNAIDS Brasil e com o aids.gov.br . Isso representa 75% das pessoas vivendo com HIV em todo o mundo cientes da infecção. A taxa se aproxima de uma das metas estabelecidas pelas Nações Unidas que prevê que, em 2020, 90% de todas as pessoas com HIV estejam diagnosticadas.
Como mostram os números, os esforços intensificados para aumentar a oferta de testagem têm surtido efeito. Mas, em paralelo a isso, é preciso haver um uma escuta qualificada do profissional para que a pessoa infectada e diagnosticada com o vírus HIV passe por um processo de aceitação e esteja apta a procurar e seguir os tratamentos necessários.
A psicóloga do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Dra. Andréa Cristina Souza, explica que “o paciente faz parte de uma sociedade preconceituosa e ele mesmo tem preconceito, ele tem medo de ser rejeitado. Isso dificulta o trabalho de desmistificar a doença e fazer com que ela seja tratada como qualquer outra doença. Mas, se o paciente é fortalecido, ele consegue se enxergar como uma pessoa íntegra e enfrentar os preconceitos”.
Para que esse fortalecimento da pessoa diagnosticada com HIV aconteça, é preciso que todo o atendimento seja feito da forma mais individualizada e humanizada possível, já que “uma pessoa resistente pode manter esse comportamento em relação ao tratamento”, não tomar as medicações necessárias, pode progredir para aids.
Recebendo o diagnóstico
“Antes de contar o resultado positivo é preciso saber em qual situação ele foi identificado. Uma pessoa que vai fazer o teste espontaneamente, que de certa forma imagina que passou por uma situação de risco e pode ter HIV, é diferente de uma que não espera, que, por exemplo, fez o exame por causa de uma gravidez. Essas referências precisam ser identificadas porque são elas que determinam a forma como o diagnóstico vai ser abordado”, explica a Dra. Andréa.
Para isso, são realizados trabalhos de acolhimento e escuta que permitem orientações pré e pós-teste e são diretrizes do SUS. A partir do momento que é criado um vínculo, uma relação empática, com o profissional da saúde que deu a notícia do diagnóstico, técnicas de aconselhamento costumam ser seguidas. A psicóloga conta que “o profissional deve fazer um trabalho preventivo, dar o apoio necessário, perceber os problemas atuais e mostrar as formas que o paciente pode enfrentar essas situações. São estratégias de como a pessoa vai lidar dali em diante, como ela vai fazer o tratamento, para quem ela vai recorrer”.
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Dessa forma, o momento do diagnóstico tem um impacto significativo. O profissional contribui para o processo de aceitação. Por isso, é importante um atendimento sem julgamento e preconceito, para que a pessoa vivendo com HIV se sinta acolhida, crie vínculo com a equipe para seguimento do seu tratamento.
O processo de luto
O luto é outra etapa do processo de aceitação do HIV. “No momento em que a pessoa recebe o diagnóstico ela tem um luto da perda do corpo saudável. Ela fica triste e isso é normal e necessário. Com um apoio, se o paciente tem uma boa estrutura, ele consegue identificar a situação, enxergar um futuro e ter projetos para a vida”, conta a psicóloga do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
Porém, quando o luto se transforma num sofrimento intenso que prejudica outros aspectos da vida da pessoa, que a impossibilita de viver normalmente e cria uma angústia que influencia no desenvolvimento pleno de sua capacidade, ela precisa de um suporte psicológico. A Dra. Andréa explica que “essa pessoa precisa reconhecer que ela é mais que uma doença, que ela tem lados positivos e deve se enxergar como pessoa”.
Contando para outras pessoas
Ter um suporte emocional e poder compartilhar as emoções em qualquer situação adversa é muito importante. Porém, no caso do HIV, uma doença que carrega muitos estigmas, contar para as pessoas mais próximas, família e amigos, pode ser uma situação complicada. Por isso é preciso toda uma preparação.
“Temos que pensar nos vínculos do paciente, para quem deseja contar, porque ele deve compartilhar com pessoas que são importantes para ele e que irão apoiar. É importante identificar essas pessoas e o nível de dificuldade para contar para cada uma delas. Além disso, é preciso trabalhar as reações e preparar o paciente porque, do mesmo jeito que ele teve reações de medo e dúvida, essas pessoas também vão ficar impactadas e o paciente precisa ser compreensivo em relação a isso”, conta a Dra. Andréa.
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Assim, o processo de aceitação do HIV após o diagnóstico depende muito da forma como o assunto é abordado não só pela pessoa vivendo com HIV, mas pela equipe de saúde envolvida e pelo núcleo social próximo. As consequências desse processo influenciam diretamente na adesão do tratamento e em todas as metas das Nações Unidas para assuntos relacionados a doença: em 2020, ter 90% das pessoas com HIV diagnosticadas, 90% delas estarem em tratamento antirretroviral ininterrupto e 90% das em tratamento estarem indetectáveis, sem transmitir o vírus HIV .