Em breve, Israel completará dois anos de sua guerra mais longa . Por isso, uma notícia divulgada hoje no noticiário local deixou a população sem fôlego ao afirmar que entre 20 e 23 mil combatentes do Hamas ainda lutam em Gaza . Como isso seria possível, se Israel anunciou ao longo dos meses a morte de milhares de terroristas?
A explicação está no ritmo alucinante do recrutamento de novos combatentes na Faixa de Gaza. Segundo um relatório apresentado à Comissão de Relações Exteriores e Defesa, há cerca de 9 mil terroristas que combatem sob a bandeira do Hamas, 4 mil sob a da Jihad Islâmica e outros 7 a 10 mil atuando de forma independente . São pessoas que, na maioria das vezes, recebem treinamento mínimo (quando tanto). Muitos deles têm menos de 16 anos.
Três razões principais ajudam a entender esse fenômeno. Conhecê-las é essencial para compreender as ações e objetivos de Israel.
O Hamas controla absolutamente tudo o que acontece em Gaza — em todas as esferas administrativas, políticas e sociais. A população, sob controle de um governo islamista, apresenta basicamente três perfis que se entrecruzam: os que o apoiam por necessidade financeira, por ideologia ou por medo.
Questão econômica
No início da guerra, Israel interrompeu o fluxo de financiamento
externo do Hamas. Desde então, a ajuda humanitária tem sido sua principal fonte de renda, usada inclusive para “pagar” os combatentes. Justamente para enfraquecer essa estratégia, Israel e Estados Unidos criaram a Gaza Humanitarian Foundation, fundação privada que distribui diretamente a ajuda humanitária à população, restringindo — mas não impedindo completamente — que o Hamas a desvie.
Cultura do terror
O Hamas é um grupo islamista que usa o terrorismo como ferramenta política e militar, e a destruição de Israel está registrada em seu estatuto. Diferentemente do Hezbollah, no Líbano, ou do Talibã, no Afeganistão, o Hamas está completamente entranhado na população local.
O sistema de educação foi o principal canal de disseminação de sua ideologia, construída em torno da destruição do Estado de Israel. O jihadismo funciona como um culto à morte: promete aos combatentes recompensas no além e glorifica os mártires que sacrificam a vida em atentados suicidas ou em guerras contra um inimigo muito mais poderoso.
O medo como arma
Além do fanatismo religioso, há também o terror interno: é assim que o Hamas governa Gaza. São comuns castigos físicos severos e sentenças de morte aplicadas à população palestina, sem julgamento ou direito de defesa. Na semana passada, foi divulgado um vídeo recente
que mostra terroristas do Hamas espancando comerciantes locais e são frequentes notícias da execução sumária de palestinos acusados de "traição".
Meses atrás, quando Israel ofereceu somas milionárias por informações que levassem à localização de reféns, nem um único palestino se apresentou — mesmo diante da promessa de anonimato e da inclusão do informante e de sua família em um programa de proteção fora da Faixa de Gaza. Fica a dúvida: a motivação é fruto da ideologia ou do medo?
Seja como for, Israel e os Estados Unidos estão há tempos em campanha pela desmobilização da UNRWA, o braço da ONU que atende exclusivamente aos palestinos e que, por meio do sistema de educação, ajudou a consolidar essa mentalidade destrutiva.
Infelizmente, todas essas reflexões são apenas constatações que não garantem a Israel a certeza de vitória e não respondem à pergunta do título desta crônica — mesmo dois anos após o início da guerra.