Manifestantes pró-palestinos protestam na praça Anton de Komplein, em Amsterdã, antes do jogo da Liga Europa entre Ajax e Maccabi Tel Aviv, em 7 de novembro de 2024
Jeroen Jumelet
Manifestantes pró-palestinos protestam na praça Anton de Komplein, em Amsterdã, antes do jogo da Liga Europa entre Ajax e Maccabi Tel Aviv, em 7 de novembro de 2024


Na última sexta-feira, a Europa reviveu cenas do Holocausto. Após um jogo entre o  time israelense Maccabi Tel-Aviv e o holandês Ajax, israelenses foram caçados, atropelados e linchados pelas ruas de Amsterdã por fundamentalistas árabes. A polícia local – formada em grande parte por descendentes de árabes muçulmanos – decidiu observar os eventos à distância. Nas ruas, poucas pessoas tentaram intervir nos  ataques, que se estenderam por toda a noite. Na volta a Israel, os  israelenses contaram que tentaram se esconder em hoteis e foram rechaçados. Tomar táxis não era uma opção, uma vez que também a maior parte dos taxistas na cidade são muçulmanos. 

Um pogrom em pleno século 21, em plena capital europeia.  

As cenas são terríveis e há muitos vídeos disponíveis, gravados pelos próprios agressores (um revival daqueles gravados pelo Hamas durante a invasão a Israel, no dia  7 de outubro de 2023). Em um deles, vê-se um homem no chão, inconsciente, levando chutes e socos. Em outro, o agredido gritava “não são judeu, não sou judeu”, tentando escapar do linchamento. Hordes de homens mascarados e com a cabeça coberta por capuzes corriam atrás de pequenos grupos. Foram cenas de déjà vu para judeus de todo mundo, apenas 80 anos depois do Holocausto.

Judeus são perseguidos nas ruas de Amsterdã



Europa, um lugar inseguro para os judeus

Muito embora o ataque não tenha sido realizado por cidadãos comuns, vale lembrar das cenas da História moderna vivida pelos judeus na Holanda. 

O livro  O Diário de Anne Frank criou a percepção histórica equivocada de que o país foi, de alguma forma, amigável aos judeus. Nele, a jovem judia Anne Frank registrou sua rotina ao longo dos dois anos em que viveu escondida em um quarto secreto tentando escapar da brutalidade nazista (sem sucesso: o esconderijo foi descoberto em agosto de 1944, ela foi deportada para Auschwitz e depois transferida para o campo de Bergen-Belsen, onde morreu vítima dos maus tratos e do tifo em fevereiro de 1945).

A menina judia Anne Frank registrou em seu diário os dois anos em que viveu em um esconderijo na tentativa de evitar a deportação para campos de concentração nazista.

Ilustração faz o paralelo entre Anne Frank e um jogador do time Maccabi Tel-Aviv
Reprodução Instagram @iron_swords_2023

Ilustração faz o paralelo entre Anne Frank e um jogador do time Maccabi Tel-Aviv















A Holanda tem o infeliz registro de ter tido o maior percentual de cidadãos judeus assassinados durante o Holocausto. Mais de 75% deles – cerca de 104 mil pessoas – foram deportados e mortos em campos de concentração ou de extermínio. Além disso, os soldados nazistas não precisaram atuar no país, uma vez que a própria polícia holandesa cuidou da prisão e da deportação de judeus para os campos de extermínio na Polônia – os sobreviventes contam que só ali eles se depararam com soldados alemães.

Um ataque, não uma reação

Após o terrível incidente do último sábado em  Amsterdã, acompanhamos duas reações distintas: enquanto o governo holandês declarou seu repúdio, reconheceu o ataque como criminoso e prometeu prender os envolvidos – ainda aguardamos por isso, no entanto –, vozes em todo o mundo procuraram formas de responsabilizar os torcedores israelenses pelo ocorrido, uma vez que houveram eventos em que parte da torcida organizada do Maccabi Tel-Aviv provocou a torcida adversária e arrancou algumas bandeiras nas quais se lia o slogan Free Palestine. Como se o ocorrido tivesse qualquer relação com uma rixa entre torcidas.

Mas não, não e não. As investigações preliminares apontaram que, por meio de um grupo de Whatsapp, o grupo de agressores se organizou antes do jogo. As forças de segurança israelenses sabiam disso e, cinco dias antes da partida, notificaram a polícia holandesa, que não tomou nenhuma atitude a respeito. Falou-se sobre isso inclusive no noticiário em Israel. Não foi um evento espontâneo e não foi uma reação: foi um ataque premeditado. A atitude imediata do governo israelense foi enviar um comunicado para que os cerca de 3 mil israelenses que estavam na cidade a passeio se dirigissem para o aeroporto e, no dia seguinte,  aeronaves da aviação civil israelense foram enviadas para resgatá-los.

Israelenses foram perseguidos e atacados pelas ruas de Amsterdã


A Europa de hoje, tomada por populações muçulmanas, já é em grande parte considerada insegura para os judeus. Estas dominaram bairros inteiros em diferentes cidades europeias – o exemplo mais óbvio sempre foi a capital francesa, mas incluem-se na lista cidades na Suécia, na Inglaterra e até mesmo na Espanha. A polícia local simplesmente não consegue ingressar nas áreas dominadas, que vivem sob suas próprias leis. Um Estado dentro do Estado.

É óbvia a probabilidade de esse tipo de ataque se repetir em outros locais tomados pela imigração islâmica, infelizmente. A única forma de reduzi-la é parar de tapar o sol com a peneira, como está sendo feito na Holanda e em outros países nesse exato momento. 

** Miriam Sanger é jornalista, iniciou sua carreira na Folha de S.Paulo e vive em Israel desde 2012. É autora e editora de livros, além de tradutora e intérprete. Mostrar Israel como ele é – plural, democrático, idiossincrático e inspirador – é seu desafio desde 2012, quando adotou o país como seu.

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!