Já foi tempo em que o jogo começava a toda, com o ponta direita correndo até a linha de fundo para cruzar para trás na direção do centro-avante, que empurrava para as redes. Foi assim no jogo Brasil x União Soviética na Copa do Mundo de 1958, quando os estreantes Garrincha e Pelé infernizaram a vida da defesa russa a partir do primeiro segundo de jogo, com Vavá sempre pronto a tocar para as redes.
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O próprio “pontapé inicial tinha de ser para a frente, com a possibilidade de um jogador se situar além da linha divisória, no campo do adversário. É por isso que havia sempre dois jogadores na primeira bola, um tocava para a frente e o segundo atrasava. Em 2016, a regra mudou, e agora só há um jogador dando a saída da partida, direto para trás.
Com isso, atrasar a bola passa a ser marca registrada de uma partida que se inicia para trás.
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O que acontece depois, como dizem os “professores”, é que o primeiro tempo é feito para ganhar na “posse de bola”, com passes laterais infindáveis e atrasadas seguidas, até mesmo para o goleiro, em longas recuadas do meio do campo. Antigamente, quando o primeiro tempo valia para fazer gols, alguém que atrasasse a bola para o goleiro levava uma sonora vaia. Agora, a torcida adormecida com a falta de ação em direção ao gol adversário, nem mais reage com a falta de objetividade no primeiro tempo. Também é um tédio ver a quantidade de passes para o lado, apenas para garantir a “posse de bola”.
As estatísticas dos jornais no dia seguinte aos jogos, em vez de pensar nos chutes a gol, cada vez mais escassos, mostram quantos passes os jogadores deram para garantir a tal “posse de bola”. No caso de Brasil 1x Suiça 1, Marcelo deu 74 passes laterais para Philippe Coutinho, que devolveu 73. E no jogo Brasil 2 x Costa Rica 0, Marcelo deu 104 passes para Casemiro, e recebeu de volta 82, quase nenhum em profundidade.
Tudo começou com o tiki-taka do Pep Guardiola no Barcelona, com uma diferença importante: os passes laterais no caso eram dados até que houvesse uma oportunidade do passe em profundidade. Agora não, é a bola lateral a garantir a “posse de bola”. Contra a Costa Rica, o Brasil venceu, 67% a 33%, uma goleada em passes laterais.
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Assim sendo, como o Primeiro Tempo não é para fazer gols, seria bom acabar com ele, e o jogo já começaria no Segundo Tempo, quando os times tentam fazer gols, em vez de apenas melhorar a “posse de bola”.