Euryclides de Jesus Zerbini foi um cardiologista brasileiro que fez seus estudos na USP, sem ter buscado carreira acadêmica. Não obstante, acabou por se tornar um dos maiores especialistas em cirurgia cardiaca, tendo realizado o quinto transplante de coração do mundo, na ocasião em que os maiores hospitais e laboratórios internacionais, com elevado volume de recursos, se empenhavam para seguir o caminho aberto pelo Dr. Christiaan Barnard, da África do Sul, no final de 1967, ao realizar um transplante inédito, quando ninguém tinha coragem de encarar uma cirurgia tão desafiadora, sob o ponto de vista científico e moral. O nosso dr. Zerbini, além de emérito cardiologista, desenvolveu métodos originais para cirurgias cardíacas, adotadas no mundo inteiro.
Em consideração a seu notório saber, ele recebeu o título de Doutor Honoris Causa.
Fazendo um paralelo nada edificante para a ciência médica, surge agora o Condenado Dishonoris Causa, a forma mais eficaz de colocar gente na cadeia, sem precisar passar por tribunais de primeira instância, muito menos pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), ou pelo Supremo Tribunal Federal (STF), onde os maus elementos costumam se safar.
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A coisa funciona assim: os criminosos contumazes valem-se do poder para cometer altas ilegalidades, depois valem-se do poder para não ser condenados. Estes cidadãos estariam a partir de agora condenados dishonoris causa. Assim como o doutor Zerbini, com sinal negativo, chegaram a esse patamar de honraria negativa por notório saber como criminosos acusados e indiciados inúmeras vezes por crimes diversos. Conseguiram escapar de inúmeras condenações, e respectivas cadeias, ao se beneficiar de esquemas como decurso de prazo, falta de provas, foro privilegiado, etc.
Assim sendo, ficam esses cidadãos condenados, a partir de agora em dishonoris causa, sem mais passar por tribunal algum.
Quem deveria ser atingido desde já por esse novo tipo de condenação, num país em que todo mundo já cansou de esperar que eles paguem seus pecados na Justiça?
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São inúmeros os candidatos a essa duvidosa honraria, a começar pela lista de Edson Fachin, relator da Lava-Jato, que envolve quase 40% dos senadores. Mas, assim como você, é fácil acrescentar mais alguns deles, de memória, sem perigo de errar: Renan Calheiros, Romero Jucá, Michel Temer, Lula, Geddel Vieira Lima, Rocha Lures, Paulo Maluf, Joesley Batista, Henrique Alves, Eduardo Cunha, Jader Barbalho, Aécio Neves, José Sarney, Sérgio Cabral, Eliseu Padilha, Moreira Franco, Edson Lobão, Fernando Collor, Guido Mantega, Nestor Cerveró, José Serra (a completar) …