O período Temer talvez passe para a história como tempo de devassa no trato da coisa pública, com quadros da pior qualidade moral dando exemplos de desfaçatez, numa orgia de interesses escusos. A má qualidade do Poder Executivo chegou a um nível tão baixo que é até capaz de rivalizar com os congressistas. Estes, com poucas exceções, jamais pensam no país, mas, sim, no que receberão para votar algum projeto, qualquer que seja.
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As votações dos grandes projetos de interesse do Executivo são acompanhados pelos jornalistas políticos já entediados, sem aquela carga de revolta que sentem no início, quando entendem o que se passa nas relações promíscuas entre Executivo e Congresso Nacional .
Bom lembrar que as duas últimas grandes votações diziam respeito a malfeitos de tal monta do presidente, que resultaram na abertura de dois processos contra ele. Claro que, com a proteção do foro privilegiado, as autoridades federais não podem ser julgadas senão pelo Supremo Tribunal Federal , que deixa o próprio Congresso decidir se o processo deve prosseguir, ou não.
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Interrompido o processo, Temer respira aliviado na TV, afirmando que agora pode votar os projetos de interesse para o país. Querendo dizer que o Ministério Público faz o papel de atrasar a Nação, ao tentar levar adiante processos contra ele, sabendo que o Congresso os estancará, mediante o atendimento dos interesses de cada parlamentar. O incrível é que não há segredo nisso. Tudo é feito pelo Executivo para que as vantagens ofertadas aos congressistas sejam atendidas, não passando pela cabeça de ninguém perguntar sobre o que interessa ao Brasil.
É claro que a conta dessas despesas fica muito alta, e precisa ser quitada, com o nosso dinheiro, claro.
É por isso que o governo já cria o orçamento com déficit gigantesco. É como se a dona de casa calculasse com o marido as despesas do lar, rachadas entre os dois: "Nós juntos ganhamos bem, R$ 10 mil por mês. Mas não seria melhor prever uma conta mensal de R$ 60 mil? Assim. Podemos gastar mais, bastando arranjar quem pague essa diferençazinha". No caso do Brasil, quem paga o déficit absurdo somos nós.
O governo cansa de dizer que não tem dinheiro, mas dinheiro existe, malbaratado por tenebrosas transações, como diria Chico Buarque.
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