Vi algumas vezes o discurso do Sandro Fantinel , vereador (ou quase ex-vereador) de Caxias do Sul, no meu querido Rio Grande, questionando a repercussão do resgate de empregados em situação de escravidão em vinícolas daquele Estado. Em uma longa e infeliz fala o parlamentar sugere aos produtores da região que "não contratem mais aquela gente lá de cima", referindo-se a trabalhadores oriundos da região Nordeste, fazendo em seguida menções ofensivas ao povo da Bahia e usando palavras que nem valem ser repetidas.
Sou pastor, estive no Congresso Nacional por doze anos representando o povo do Estado de São Paulo – aliás, fui autor de Projeto de Lei que suspende por dez anos o CNPJ de empresas condenadas pelo uso de trabalho escravo ou análogo à escravidão – e estou secretário de Estado de Turismo, tendo o elevado privilégio de fazer parte do time do governador Tarcísio de Freitas .
Parlamentar eu estive, secretário eu estou, mas pastor eu sou. E de uma das maiores igrejas evangélicas pentecostais do Brasil, a igreja O Brasil Para Cristo, que foi fundada por um nordestino da zona da mata do Pernambuco, o Missionário Manoel de Mello. Sou paulista, isabelense, e orgulhosamente filho e neto de nordestinos, "aquela gente lá de cima".
Minha avó paterna era paraibana, meu avô paterno era pernambucano, meu pai era paraibano de Taperoá e minha mãe era alagoana de Caldeirões de Cima, em Palmeira dos Índios.
Eles chegaram a São Paulo na maior onda migratória da história do país, na década de 1950, diante da mais agressiva estiagem que o Nordeste sofreu. Saíram de lá em nome da sobrevivência e em São Paulo, no município de Santa Isabel, decidiram lançar a âncora da esperança e recomeçar. Meus avós paternos criaram 16 filhos e meus pais criaram 12 filhos.
Saíram do Nordeste, mas o Nordeste nunca saiu deles. A maioria dos nordestinos não deixaria sua terra se isso lhes fosse possível. O Nordeste é espetacular. Uma região linda e diversa, onde nasceram grandes nomes da literatura, da ciência e de muitas áreas do conhecimento de nosso País. Nos últimos anos, as maiores notas de redação do Enem vieram de lá. O povo nordestino é um povo trabalhador e lutador, que ajudou a construir grande parte do nosso país. Podemos, inclusive, afirmar que foi no Nordeste que a história do Brasil “nasceu”.
Tenho muito orgulho das minhas raízes "lá de cima" e tenho muito orgulho desse maravilhoso estado de São Paulo, que recebe a todos, recebe nossos irmãos de todo o país e os estrangeiros, de mais de 200 nacionalidades, de braços e coração abertos.
São Paulo é a síntese nacional. É o lugar onde está o maior número de gaúchos fora do Rio Grande do Sul, de catarinenses fora de Santa Catarina, de paranaenses fora do Paraná, de cariocas fora do Rio de Janeiro, de mineiros fora de Minas Gerais, e assim sucessivamente. É o lugar onde está o maior número de nordestinos fora do Nordeste e de nortistas fora do Norte. Nossa bandeira é a única de um estado que carrega em si estampado o mapa do Brasil.
A nova e espetacular marca do governo de São Paulo é "São Paulo são todos", que reflete o acolhimento, a empatia, altruísmo, a inclusão, a solidariedade e o respeito com que tratamos a todos.
O turismo, área em que atuo como secretário de Estado pela segunda vez, é um ambiente de acolhimento, por natureza. Somos o maior polo emissor e o maior polo receptor de turistas do país, e alguns dos destinos mais lembrados e queridos do Brasil estão em nosso estado, ou na serra, ou no litoral, ou na nossa capital, ou no interior.
Cultura, história, gastronomia, negócios, eventos, compras, praia, esportes, religião, saúde e bem estar, observação de aves, náutico, rural, pesca, ecológico, tecnológico, industrial, lazer, entretenimento, parques, aventura e outros. O cardápio do turismo de São Paulo é tremendamente diversificado e plural. A indústria do turismo daqui emprega 2,3 milhões de pessoas – direta e indiretamente – e deverá representar quase 280 bilhões do nosso PIB, neste ano de 2023.
Tanto o povo “lá de baixo” quanto o “povo lá de cima” são muito bem-vindos. São todos muito bem-vindos a São Paulo. Repudiamos a xenofobia, o preconceito e toda forma de discriminação, e, por conseguinte, esse lamentável discurso, que tenho certeza também não representa o pensamento da absoluta maioria do admirável povo gaúcho. É como diz a marca. São Paulo são todos. São Paulo é um Estado que respeita o “povo lá de cima” e de todos os cantos do Brasil e do mundo, porque São Paulo é feito de gente de todos os lugares.
Roberto de Lucena
Secretário de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo